A CPI dos Sanguessugas decidiu ouvir em reunião reservada o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal (PF) em Mato Grosso, Tardelli Boaventura. A sugestão para que a sessão não fosse pública partiu do próprio delegado, que lembrou aos parlamentares que as investigações sobre a máfia das ambulâncias correm em segredo de Justiça. O delegado afirmou que teria dificuldades em falar "medindo as palavras".
Apenas os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e João Correia (PMDB-AC) votaram contra o fechamento da reunião. "O fator positivo da CPI é a publicidade", protestou Correia. Antes do início do depoimento de Tardelli, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) disse ser contra o sigilo das investigações, pois envolvem pessoas públicas, detentoras de mandato. Para ele, o sigilo gera uma injustiça, pois há o vazamento parcial dos nomes de deputados e senadores, "hoje execrados", enquanto outros são preservados. "Não estou propondo desobediência nem desrespeito à lei. Estou simplesmente dizendo que não concordo com esse pedido de sigilo", afirmou.
O senador Jefferson Peres (PDT-AM) disse estar "inconformado" com o segredo de Justiça. Para ele, a manutenção do sigilo por 20 pessoas só é possível se 19 morrerem. "O sigilo é para uma pessoa. Se vazar, ela é a única responsável."
Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), é preciso informar à opinião pública que o prazo desse sigilo é a elaboração do relatório. "Quando estivermos com o relatório pronto, ninguém vai nos impedir de divulgar", afirmou.
Já a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse acreditar na responsabilidade dos parlamentares de manter o sigilo. "Tenho sentido vontade geral de chegarmos a uma conclusão. E, na hora certa, vamos colocar o relatório sobre a mesa e votar." O senador Amir Lando (PMDB-RO) ressaltou, por sua vez, que a CPI está diante de uma ordem judicial que deve ser cumprida.
Ao abrir a reunião, o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que será estabelecido um horário para cada um dos integrantes da comissão examinar a documentação enviada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) relacionada aos inquéritos envolvendo 15 parlamentares. Biscaia leu ofício da presidente do STF, Ellen Gracie, no qual ela informa que o exame dos documentos é restrito à CPI e que a comissão deverá adotar "rígidas providências" para a preservação do seu sigilo.