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PALAVRAS FINAIS
Congresso em Foco
22/4/2025 20:20
O papa Francisco, falecido na segunda-feira (21), deixou como última mensagem pública um apelo enfático por paz e reconciliação entre israelenses e palestinos. O artigo póstumo foi publicado nesta terça-feira (22) à revista The Parliment, especializada em assuntos da União Europeia. Com o título "O banho de sangue na Palestina/Israel deve acabar", o texto reafirma posições históricas da Santa Sé e condena com veemência a violência no Oriente Médio.
Logo nas primeiras linhas, o papa lembra o simbolismo da região para as três religiões abraâmicas: "uma terra sagrada para os judeus, cristãos e muçulmanos, é o próprio local onde a história da salvação teve sua origem, onde Deus decidiu revelar tanto sua glória divina quanto seu inestimável valor pela dignidade humana".
Ele destaca o paradoxo de o local sagrado ser também cenário recorrente de tragédias. "A Terra Santa tem sempre sido o local de guerras atrozes, resultando em um rio de sangue que não cessa e grita por justiça diante dos olhares de Deus e de todos os povos"
Banalização da guerra
Francisco expressa preocupação com a naturalização da violência como resposta política. Segundo ele, "o ciclo de violência e retribuição se tornou tão atrelado à psique humana que até mesmo a invocação da paz pode ser interpretada de forma suspeita: como uma leniência diante do inimigo ou falta de empatia pelas vítimas e suas preocupações".
Para o pontífice, a guerra é um engano coletivo, "uma resposta simplista para problemas sociais e políticos complexos, mas nunca uma solução". Ele insiste que a construção da paz exige tempo, paciência e, sobretudo, coragem, "muito mais do que na guerra".
Futuro compartilhado
O papa reitera a posição do Vaticano em favor de uma solução política baseada na coexistência de dois Estados soberanos na região disputada por Israel e Palestina. Ele adverte que a segurança de um povo não pode ser construída sobre o sofrimento do outro. "A segurança não pode jamais ser atingida por dominação, aniquilação, humilhação ou a exclusão do próximo", declarou.
No texto póstumo, o líder religioso ressalta que "a abordagem militar ou decisões unilaterais podem trazer vitórias aparentes e momentâneas, mas não trazem a paz. Pelo contrário: elas aprofundam feridas, semeiam ódio e perpetuam ciclos de violência".
Citando o livro de Isaías, Francisco liga justiça à paz verdadeira. "Justiça requer o reconhecimento da dignidade do outro, especialmente dos vulneráveis, dos deslocados e daqueles que não possuem voz ou escolha.
O pontífice também afirma que a paz não é apenas uma questão de acordos políticos. "Suportar uma solução de dois Estados não é simplesmente traçar fronteiras e assinar acordos. Significa reconhecer que a independência deve andar de mãos dadas com a interdependência", disse.
Ele destaca que israelenses e palestinos compartilham mais do que uma geografia, mas também "a história e um futuro que ou eles construirão juntos ou permanecerão sob risco eterno". E faz um alerta à comunidade internacional: "a paz nunca vai florescer no isolamento ao resto do mundo. Alguém poderia dizer que há paz na Lua, mas essa paz é vazia, (...) não a paz da integridade que nós somos convocados a construir nesta Terra".
O Papa encerra citando o livro de Mateus: "abençoados são os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus". E complementa: "Deus e as futuras gerações nos julgarão não por quantos inimigos nós derrotamos, mas por quantas vidas salvamos. Talvez chegue em breve o dia em que espadas serão transformadas em relhas de arado, quando crianças acordarão não com sirenes, mas com canções de paz, e que a Terra Santa se torne realmente santa".
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