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MEMÓRIA
Congresso em Foco
13/6/2025 12:01
Em 13 de junho de 1931, o cheiro de café queimado invadiu o litoral paulista. No porto de Santos, a fumaça espessa de milhões de sacas incineradas anunciava uma tentativa drástica do governo provisório de Getúlio Vargas de frear a derrocada econômica provocada pela crise mundial iniciada em 1929.
O plano era conter a queda vertiginosa dos preços internacionais do café, que já havia perdido 90% de seu valor em apenas um ano. O produto, que representava mais de 70% das exportações brasileiras, era a espinha dorsal de uma economia ainda rudimentar e dependente de commodities. A alternativa encontrada: eliminar o excesso de oferta com fogo.
A crise que incendiou a economia
Após a quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929, o consumo internacional despencou. A crise se alastrou para além dos Estados Unidos e atingiu diretamente o Brasil, que dependia da exportação de produtos como café, cacau, algodão e borracha. A derrocada selou também o fim da chamada "república do café com leite", dominada pelas elites políticas de São Paulo e Minas Gerais.
Sem crédito no exterior e com estoques abarrotados de grãos encalhados, o governo passou a administrar diretamente a política cafeeira. Em maio de 1931, Vargas retirou a responsabilidade do Instituto do Café do Estado de São Paulo e criou o Conselho Nacional do Café, com representantes dos estados produtores.
Café como lenha
A dimensão da crise era tamanha que chegou-se a cogitar o uso do café como combustível. De fato, locomotivas foram abastecidas com os grãos. Em 1932, uma composição de 610 toneladas rodou durante duas horas movida a 2,9 toneladas de café verde. Já em Santos, trabalhadores portuários despejavam os grãos no mar, prática que logo foi proibida. Ainda assim, parte da carga era recolhida, seca e revendida ilegalmente.
Entre 1931 e 1944, o Brasil destruiu 78,2 milhões de sacas de café. Somente em 1937, cerca de 70% dos estoques foram queimados. Em média, um quarto da produção anual virou fumaça durante esse período. Apesar dos esforços, a medida pouco impediu a falência de cafeicultores endividados e sem acesso a crédito.
Lições e paralelos
Quase um século depois, as exportações nacionais de café voltam a enfrentar ameaças: não mais por falta de consumidores, mas por precariedade da infraestrutura de transporte. Em 2024, o colapso logístico impediu a exportação de 1,83 milhão de sacas de café. O prejuízo estimado chegou a R$ 51,5 milhões. Nos primeiros quatro meses de 2025, o problema persistia. 738 mil sacas encalhadas e R$ 22 milhões em perdas.
A situação atual evidencia um contraste gritante. Enquanto antes se queimava café para controlar os preços, hoje perde-se café por falta de estrutura ferroviária e portuária para escoá-lo. A incapacidade do Estado em dar conta da demanda portuária ameaça a competitividade do agronegócio e reproduz, com outros contornos, os gargalos históricos da economia brasileira.
Símbolo do improviso
As chamas de 1931 foram símbolo de improviso, desespero e voluntarismo. A medida de Vargas visava salvar a economia à custa de um produto que simbolizava o próprio Brasil, inclusive visualmente: desde o período imperial, o ramo de café é parte do brasão de armas nacional.
A memória dessa política extrema permanece como alerta. Decisões econômicas apressadas, ainda que embasadas em boas intenções, podem ter efeitos duradouros e controversos.
Setenta anos depois da última grande queima, os desafios de infraestrutura, planejamento e coordenação entre entes federativos persistem. A história do café queimado é, também, a história de uma economia que ardeu por não saber como se reinventar.
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