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TROCA DE MENSAGENS
Congresso em Foco
28/7/2025 | Atualizado às 10:52
Mensagens extraídas do telefone celular de Jair Bolsonaro (PL), recolhido pela Polícia Federal em maio de 2023, escancaram os bastidores de sua atuação política nos meses seguintes à saída do Planalto. O ex-presidente, mesmo fora do poder, se manteve ativo ao orientar aliados, articular nos bastidores contra propostas como o PL das Fake News, tentar preservar sua influência no agronegócio e manter conexões com figuras como o ex-embaixador de Israel, Yossi Shelley.
A extração do conteúdo foi feita após a apreensão do aparelho em operação que investigava fraudes em certificados de vacinação. A PF teve acesso a 7.268 arquivos, entre vídeos, documentos, áudios e mensagens de WhatsApp. A maioria das conversas, publicadas nesta segunda-feira (28) pelo jornal O Estado de S. Paulo, remonta à semana anterior à apreensão. Registros anteriores teriam sido apagados. O conteúdo se refere ao celular apreendido em maio, e não ao dispositivo recolhido em nova operação da PF em julho de 2025, quando foi determinada a colocação de tornozeleira eletrônica no ex-presidente.
"Boa noite, presidente. A galera tá me pressionando aí porque Eduardo, todo mundo assinou essa CPI de abuso de autoridade do TSE e do STF e eu não assinei até agora porque eu não queria entrar nessa bola dividida, com medo de prejudicar até o senhor mesmo nas decisões lá. O que o senhor acha aí mais ou menos?", questionou o parlamentar.
Bolsonaro, em resposta direta, não hesitou:
"Eu assinaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações".
Hélio respondeu em seguida:
"Já assinei".
A proposta havia sido apresentada originalmente pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) em 2022, mas não avançou. A tentativa de retomada da CPI no início de 2023 esbarrou na falta de apoio necessário.
Nesse fim de semana, Hélio Lopes protagonizou protesto em frente ao Supremo, montando uma barraca na Praça dos Três Poderes, com a boca tapada por esparadrapo. A manifestação foi interrompida por ordem de Alexandre de Moraes, que apontou riscos de novos atos semelhantes aos do 8 de Janeiro.
Bolsonaro atuou diretamente contra PL das Fake News
Outra conversa, de 2 de maio de 2023, mostra Bolsonaro orientando o filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), sobre os rumos da votação do Projeto de Lei das Fake News.
"Orlando Silva acabou de pedir para retirar de pauta o PL 2630", comunicou Eduardo.
"Tem que votar hoje", replicou Jair Bolsonaro.
"Manifestei pela votação hoje, como líder da minoria", finalizou o deputado.
O PL, apelidado pelo bolsonarismo de "PL da Censura", buscava regulamentar redes sociais e combater a disseminação de desinformação. Acabou sendo arquivado após decisão do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Contato com ex-embaixador de Israel incluiu convite para viagem
Nas mensagens, também surge o nome do ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, que manteve comunicação com Bolsonaro em abril de 2023.
Shelley compartilhou conteúdo sobre inovações tecnológicas israelenses, como carne feita por impressora 3D. Bolsonaro respondeu:
"Fala Shelley. Realmente é uma revolução né, proteína, carne em 3D. Parabéns aí pra vocês e vamo ver né qual o futuro dessa máquina aí. Um abraço e um abraço aí no nosso amigo Netanyahu".
O ex-embaixador então convidou o ex-presidente para uma visita:
"Vem nos visitar?"
E foi além:
"Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se vc quiser".
Logo depois, corrigiu a proposta:
"14 dias".
Bolsonaro agradeceu:
"Ô Shelley, obrigado, vou falar com a esposa aí e ver o que ela acha. Obrigado, um abraço".
Apesar do convite ter sido encaminhado a Michelle Bolsonaro, não houve resposta registrada. Shelley, atualmente nos Emirados Árabes Unidos, não respondeu à imprensa.
Estratégia para manter apoio do agro
Em mensagens disparadas por listas de transmissão, Bolsonaro demonstrou preocupação com o setor rural e compartilhou críticas à política fundiária do governo Lula:
"Cada vez mais problemas para o agro".
"Com Bolsonaro: ZERO demarcações [SIC]".
O assunto também foi tratado com Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa de 2022. Ele disse que buscaria dados com a ex-ministra Tereza Cristina para subsidiar Bolsonaro em sua participação na Agrishow, feira do agronegócio em Ribeirão Preto, em abril de 2023.
A presença do ex-presidente no evento gerou desconforto no Planalto. Lula, informado da presença de Bolsonaro, cancelou sua participação.
Em resposta a editorial do Estadão que o classificava como ameaça ao setor, Bolsonaro desabafou:
"Pô, acaso eu é que tô demarcando terra pra índio? Eu é que tô impulsionando o MST a invadir terras? Eu que tô fazendo lambança aí fora pra ter problemas com outros países no tocante ao fornecimento de fertilizantes. É foda né, é sinal que a gente tá bem, se tivesse mal o Estadão não estaria fazendo essa matéria aí".
Empresário rural hospedou Bolsonaro durante evento
Na mesma viagem ao Agrishow, Bolsonaro ficou hospedado na fazenda do empresário Paulo Junqueira, então presidente do sindicato rural de Ribeirão Preto. Em conversas com Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia, o ex-presidente detalhou a estadia:
"Ô Sachsida. Vou domingo pra lá, vou dormir na fazenda lá do Paulo Junqueira e segunda de manhã tô na Agrishow. Vamo lá, te boto lá, eu não tô mandando muito não, mas consigo te botar lá no palanque comigo. Valeu".
Junqueira foi mencionado em investigações por supostamente ter enviado dinheiro vivo para bancar a estadia de Bolsonaro nos EUA. O caso ainda está sob apuração.
Sobre a hospedagem, Bolsonaro acrescentou:
"Pode ir até a fazenda lá, apesar de não ser minha a fazenda, eu dou o toque lá no Paulo Junqueira pra tu entrar. Só não vai poder acho que dormir lá, o resto tudo bem. Se não der pra dormir tu dorme no chão lá com os cachorro também, da minha parte não tem problema não, tá ok".
Em outra mensagem, reforçou o convite:
"Se quiser ir hoje pra fazenda pode ir, vamo lá você, você é VIP meu aí tá, já falei agora há pouco com Paulo Junqueira sobre caso como o teu, que eu não sou o dono né cara. Sem problema, tu vai lá e fica com a gente. Até vê o jogo do Flamengo com a gente lá, desde que torça obviamente contra o Flamengo, tá ok".
Cautela com informações falsas após investigações
As mensagens também revelam que Bolsonaro passou a demonstrar mais cuidado com conteúdos sensíveis, especialmente após virar alvo de investigações da PF por disseminação de fake news.
Em diálogo com o assessor Tércio Arnaud Tomaz, ligado ao "gabinete do ódio", Bolsonaro pediu checagem sobre um vídeo do 8 de Janeiro.
"Ô Tércio, posso botar pra frente esse vídeo do relógio? Tá esquisito aí pô, tá inacreditável. Vê se eu posso botar pra frente aí".
Tércio respondeu com cautela:
"Tudo que você enviar sobre isso vai causar polêmica. Sobre esse assunto. Certo ou errado".
Ao confirmar que o vídeo era real, mas a interpretação era falsa, recomendou prudência:
"Presidente, falei aqui com a assessora do Ramagem e ela disse que confere o vídeo. O cara alterou mesmo. Então se for disparar aí no zap cuidado pra não te arrolarem mais nesse processo do dia 8, do jeito que tá. Que pode ser verdade, mas eles vão dizer que tá compartilhando fake news. Minha preocupação é só essa, tá. Mas confere, tá. Valeu".
Dias depois, Bolsonaro consultou Tércio sobre uma imagem que mostrava a página inicial do Google com a frase "Que saudade do Bolsonaro":
"Ô Tércio, confirma aí se é verdadeira essa notícia e dá um retorno pra mim".
Tércio esclareceu:
"Meme. Não tá no Google isso".
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