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Congresso em Foco
24/8/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:32
Contudo, essa importante inflexão não muda a tendência de os governos se escorarem no temporário conforto econômico geral. Explosões de consumo do Plano Cruzado (1986) e da farra cambial (1995-2001) renderam, respectivamente, episódica popularidade recorde a Sarney e duas folgadas eleições a FHC. Lula, por seu turno, superou escândalos e saiu do poder com aprovação de 80% graças à socialização de parte dos US$ 100 bilhões que o país lucrou durante o boom das commodities (2000-2014).
Até agora, bonanças impulsionaram projetos partidários enquanto a dívida pública disparava e reformas estruturantes ficavam suspensas até que uma forte crise desnudasse o governante irresponsável e desengavetasse agendas. Criou-se, pois, com a saudável rotina de eleições, o vício de apropriação da miragem econômica por eleitos sortudos até que a necessidade de correção de rumo mais adiante colaborasse com a vitória dos seus rivais.
Com pleitos de dois em dois anos no país e mandatos de apenas quatro anos, os presidentes do Brasil acabam se valendo apenas de alívios momentâneos na pobreza e se orientando pelo mantra "é a economia, estúpido", criado em 1992 por James Carville, estrategista do presidente Bill Clinton, vinculando resultados da eleição às condições econômicas.
Essa armadilha do imediatismo tem raízes profundas e apenas catástrofes econômicas são capazes de expor esqueletos do armário. Nessa toada, a prosperidade duradoura para os brasileiros é sempre adiada para um futuro incerto. O ciclo vicioso de remendos, tentações populistas e postergações só será quebrado quando os privilégios não mais conspirarem contra os direitos e a política se pautar prioritariamente pela visão de longo prazo.
Estadistas pensarem na geração seguinte e não na eleição seguinte. O Brasil precisa, pois, de um comandante que pactue o desmonte dos arranjos que se nutrem do status quo e que conduza o compartilhamento de sacrifícios para superar de vez persistentes mazelas. Bolsonaro prometeu levar adiante tal missão e ainda tem tempo de cumpri-la. Joga contra ele, contudo, as pressões e os ardores do malfadado estatuto da reeleição.
As urnas expressam fidedignamente a vontade do povo, cuja maioria pensa com o bolso, com a falta de moradia, com o valor da passagem, com o sinal grátis de Wi-Fi e com a perspectiva de ter trabalho ou renda. Bolsonaro está certo em não ignorar isso e investir no (re)conforto econômico do povo, ainda mais em meio à terrível pandemia. Mas ele também precisa enxergar além dos dividendos eleitorais para ousar e avançar naquilo que a História lhe confiou: construir um legado bem maior que oito anos no Planalto.
* Sílvio Ribas é jornalista, escritor e estrategista político

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