Em depoimento ainda em andamento no Conselho de Ética da Câmara, o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), está dando uma demonstração clara de que está disposto a colocar a cabeça a prêmio, mas pretende carregar consigo a cúpula nacional do PT, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e peças fundamentais da base aliada no Congresso. Jefferson reiterou que recebeu R$ 4 milhões da direção petista e se disse disposto a isentar o seu partido de qualquer responsabilidade por esse fato.
"Eu assumo pessoalmente a responsabilidade pelo dinheiro que recebi. E Genoino deve assumir também", afirmou, referindo-se ao presidente nacional do PT, José Genoino. Os recursos, destinados ao financiamento de candidatos do PTB nas eleições municipais de 2004, não foram declarados à Justiça Eleitoral nem à Receita Federal.
Antes, havia alvejado Dirceu. Apelando para que ele deixe o cargo, de modo a preservar o presidente Lula, disse: "Zé, saia daía. Saia daí rápido. Se você não sair daí rápido, vai fazer de réu um homem bom, que tenho orgulho de apertar a mão".
Jefferson também reafirmou que importantes líderes da base governista, como os deputados Pedro Henry (PP-MT), Pedro Corrêa (PP-PE), Sandro Mabel (PL-GO), José Janene (PP-PR), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Bispo Rodrigues (PL-RJ), recebiam o mensalão. "Me perdoem, mas não posso ser cúmplice de vocês", falou, dirigindo-se a eles.
O deputado, sempre poupando o presidente Lula, elevou o tom das críticas contra José Dirceu, Genoino e os dirigentes petistas Delúbio Soares e Sílvio Pereira. "Vi um homem correto, um homem simples se sentir traído", contou, ao relatar o encontro em que teria denunciado o mensalão ao presidente da República.
Dizendo que "o Brasil sempre teve presidentes da elite", destacou o fato de Lula ter sido o primeiro chefe do Executivo no país que passou pela experiência da fome: "O presidente Fernando Henrique ouviu falar na fome lendo Graciliano Ramos. O presidente Lula, não. Igual ao povo, retirante do Nordeste, passou fome, sabe o que é desemprego, sabe o que é pau-de-arara".
Roberto Jefferson (RJ) está revelando bastante segurança ao confirmar todas as suas acusações que fez à Folha: "Não arredo uma linha do que disse em entrevista à Folha de S. Paulo. Ela é a expressão do que eu vivenciei e convivi", afirmou.
Muitas vezes irônico, bateu boca com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, autor do pedido de cassação em exame no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e a quem o petebista acusou de ser um dos beneficiários do mensalão. Valdemar insistiu para que ele desse os nomes dos deputados do PTB que reclamaram do fato de não receberem a mesada ilegal distribuída aos parlamentares.
"Quem são esses deputados?", perguntou Costa Neto aos brados. "Não vou dizer o nome deles aqui", respondeu Jefferson. "Quero que o senhor dê os nomes para que a gente possa investigar", voltou à carga o presidente do PL. "Os meus não aceitaram, os seus que cobravam", devolveu o petebista, repetindo que a bancada do seu partido não aceitou receber o mensalão pago a parlamentares do PP e do PL.
Ele já havia provocado o seu interlocutor referindo-se ao "honrado presidente nacional do PL" e depois voltaria a fustigá-lo chamando-o de "mulherengo". Ante a insistência, Jefferson acrescentou: "Afirmo que o senhor recebia o reparte".
Jefferson atribuiu a acusação de que comandava a corrupção na Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (ECT) e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) a uma manobra do governo federal, a quem acusou de usar vários órgãos da imprensa e a Polícia Federal para atingi-lo.