Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. O preço do combate à corrupção - parte 3

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

O preço do combate à corrupção - parte 3

Congresso em Foco

17/8/2018 11:00

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

 [fotografo]Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil[/fotografo]

[fotografo]Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil[/fotografo]
Desde os artigos anteriores (O preço do combate à corrupção - parte 1 e parte 2), venho tratando da corrupção como fenômeno e como ela pode afetar a vida dos brasileiros sob os mais diversos aspectos. O psicólogo Luiz Hannz expõe com clareza alguns dos fatores que contribuem para que a corrupção seja um problema tão complexo e que, portanto, requeira soluções integradas e que atuem para a transformação comportamental e, por extensão, cultural da sociedade. Há, segundo ele, três naturezas distintas da corrupção: a sistêmica, a endêmica e a sindrômica. Adiante, uso essa tipologia para associar possíveis causas e algumas das consequências das soluções apresentadas para lidar com cada elemento dessa taxonomia. A corrupção sistêmica é uma fotografia "superficial" do fenômeno, sua forma e significação imediata. Em resumo, o descumprimento das normas mediante a expectativa de ganhos desproporcionais aos esforços empreendidos, com baixa probabilidade de punição. Os incentivos "positivos" são o lucro fácil e a ausência do elemento coercitivo. Como, em geral, temos combatido esse tipo de corrupção? Aumentamos seu custo com mais controles - reduzindo as margens dos corruptos - e endurecemos as penas - impondo sanções negativas mais duras, na esperança de que isso os constranja. Registrei nos textos iniciais que essas ações têm um caráter profilático mas também suas externalidades indesejáveis. Como a corrupção está razoavelmente distribuída, conforme aponta o especialista Manoel Galdino, o primeiro risco é que o mero enrijecimento dos controles, o antibiótico metafórico que combate o parasita, pode, dependendo da dose, enfraquecer o organismo contaminado até o limite de funcionalmente matar o paciente. A analogia com a biologia é também de natureza sistêmica. O Estado, que mal funciona com a corrupção, pode quase parar pelo excesso de regras que pretendem combatê-la. A ideia de que a corrupção pode ser "boa", uma chave para destravar processos com altos custos de transação, tem elementos palpáveis em estudos como os de Campos e Pereira. Eles demonstram que, expurgada apenas a corrupção - sem aumento de eficiência -, há diminuição do bem-estar econômico agregado. A questão a tratar não é então aceitar a corrupção, mas como mitigar os riscos de que ela ocorra, com a promoção de flexibilidade formal na proporção exigível para a efetividade da administração pública. Volto ao ponto ao falar da corrupção sindrômica. Por outro lado, a punição dos que são flagrados em casos de desvios de dinheiro público não tem sido tão eficaz para deter o cometimento desse tipo de delito. Basta observar algumas sentenças da operação Lava Jato, em que réus são citados por continuarem a praticar os mesmos ilícitos pelos quais foram acusados, mesmo depois de iniciado o processo. Nesse rol, até alguns que fizeram delação premiada. Afora isso, uma verdadeira rede de proteção se forma para assegurar o rent seeking (ver parte 1). São bancas de advogados cada vez mais especializadas e caras, lobbies profissionais que atuam na "negociação" da produção legislativa relacionada à governança pública, esquemas de comunicação para prover a contrainformação necessária à manutenção do capital político, dentre outras estratégias. Em relação à corrupção endêmica, ou o quanto é simbiótica a relação entre pequenas e grandes corrupções, há estudos que apontam alguma discrepância com o senso comum e a visão do Dr. Hannz. Historicamente, a corrupção de grande monta, aquela que envolve quantidades expressivas de recursos públicos não é exatamente alimentada pelo corrupção nossa de cada dia, a famosa "cervejinha para o guarda", mais que conhecida no dia a dia do brasileiro. Não é o pequeno corrupto, um possível prodígio no início da carreira delituosa, que se transforma no grande corrupto. A corrupção sistêmica se apoia no caldo cultural da corrupção endêmica, digamos assim, mas não se alimenta dela. Ela é a fonte, não a resultante. No artigo de Marcus André Melo, vemos como experimentos comprovam que um ambiente permissivo e em que se ouve falar de grandes negociatas é o que cria uma atmosfera propícia aos pequenos deslizes da população, não o contrário. Bastam a paralisia social de se pensar causa, de base moral, e a falta de lideranças que se elevem para além dos círculos corruptores de acesso ao poder e sirvam de exceção, para a falsa justificação inversa. Como não há concorrência aberta nesse ramo de atividade, a especialização é garantida e muito eficaz. Prova disso é a poderosa rede de corrupção, coordenada por núcleos pouco numerosos que comandaram todos os grandes esquemas revelados por escândalos trazidos à tona nos últimos trinta anos, conforme estudo realizado por Luiz Alves. O sistema agradece a preferência dos clientes, pois, como dizem, os exemplos vêm de cima. Para arrematar, a corrupção sindrômica reforça que a máxima da "criação de dificuldades para vender facilidades" encontra correspondência na prática hiper-regulatória que, sem sucesso comprovado, espera evitar a corrupção a qualquer custo. Regulamentos impraticáveis deixam iniciativas sérias e promissoras fora do mercado formal, comprometendo suas chances de sucesso e a consequente geração de emprego e renda, além da arrecadação de tributos. No setor público, a falta de contratação de metas e resultados claros, associada ao aumento exagerado do poder dos órgãos de controle, faz com que o gestor, em muitos casos, resolva simplesmente não fazer. Francisco Gaetani, presidente da Enap, nos fala um pouco sobre o que qualquer servidor público já sabe há tempos. *** São muitas as dificuldades e armadilhas a que o combate à corrupção está sujeito. São vários os fatores que precisam ser observados para que seja possível uma ação efetiva que nos livre desse mal. Fundamentalmente, que as ações e políticas anticorrupção sejam desenhadas com base em estudos e evidências acerca do fenômeno. No entanto, de todos os cuidados, o principal, o mais importante, é atentar seriamente para o risco de perversão da moral em conteúdo "moralista". Sobre isso, escrevo semana que vem.
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

corrupção Lava-Jato Manoel Galdino Luiz Hannz Campos e Pereira Marcus André Melo Luiz Alves Francisco Gaetani

Temas

Corrupção

LEIA MAIS

PESQUISA QUAEST

Após escândalo do INSS, avaliação de Lula estaciona em patamar crítico

CORRUPÇÃO

Acordos de leniência já devolveram R$ 10 bilhões aos cofres públicos

NOTÍCIAS MAIS LIDAS
1

SERVIÇO PÚBLICO

Câmara acelera debate da reforma administrativa antes do recesso

2

COMÉRCIO

Câmara vota fim da regra que exige acordo para trabalho em feriados

3

GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Grupo de políticos brasileiros tenta sair de Israel pela Jordânia

4

Piso Salarial

Comissão da Câmara aprova piso salarial para tradutores e intérpretes

5

Agenda

Lula participa de Cúpula do G7 no Canadá

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES