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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Guilherme Lacerda
26/2/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 17:29
Por aqui, os credores da dívida pública são empresas e cidadãos nacionais. Felizmente no segundo governo Lula o país conseguiu reverter a situação histórica de devedor internacional, passando a uma posição credora, com reservas internacionais superiores a US$ 370 bilhões. Não há, portanto, qualquer ameaça de "default", com descumprimento de contratos.
Ademais, uma parcela significativa - ao redor de 30% - de nossa dívida pública corresponde ao lançamento contábil das operações compromissadas associadas aos depósitos privados feitos no Banco Central e às contrapartidas em moeda nacional do total de haveres existentes em moeda estrangeira.
Esse aspecto é normalmente omitido pelos analistas porque não interessa admitir que, de fato, a dívida pública que impacta o orçamento é menor que os percentuais divulgados ou porque não entendem a contabilidade pública. Na realidade, a manifestação atemorizante sobre a dimensão da dívida é pura e simplesmente uma construção feita por vozes valorizadas do tal mercado, para avançar na escalada dos ganhos financeiros. Tal discurso é irradiado aos quatro cantos por jornalistas econômicos de rasos conhecimentos técnicos e, assim, sanciona-se um senso comum com ares de verdade absoluta.
A construção de expectativas favoráveis para acicatar os investimentos passa por políticas públicas que promovam um ambiente saudável de negócios, com fortalecimento do mercado interno e o empenho em atenuar as profundas desigualdades de renda e riqueza que marcam o nosso país.
As transferências de recursos para os municípios e para as famílias carentes, além do apoio às pequenas e médias empresas, foram imprescindíveis para diminuir a crise. A previsão de queda do PIB em 2020 está ao redor de -5%. Inicialmente, essa previsão era de -8% a -10%.
As ações de auxílio permitiram uma retomada da produção. Ao contrário do que os analistas de sempre reverberam, tais medidas proativas repercutiram numa melhoria das contas públicas, com maior arrecadação de tributos nos três níveis de governo. Na ausência de tais auxílios é difícil prever o que teria acontecido no país e, com certeza, o mercado financeiro teria sido fortemente penalizado.
Mas parece que esse efeito multiplicador da renda não existe para os rentistas de visão obtusa, que não cedem em seus vetustos postulados. As máximas são sempre a de que o estado precisa fazer as reformas e que é preciso ser rigoroso no controle orçamentário. Negam os fatos. Desafio que apresentem um caso nas histórias dos países desde o início do século 20 que tenha se desenvolvido com base na teoria dos orçamentos equilibrados. Não há.
A retórica enganosa sobre as restrições orçamentárias chegou ao ponto de um secretário de política econômica (discípulo de um guru pregador de teorias precopérnicas) ter o despautério de argumentar que o auxílio emergencial prejudicará os pobres, porque com ele a dívida pública cresce, o investimento privado não ocorre e não gera empregos. Um discurso roto, primário, da era vitoriana (século 19), assentado em suposições de nexos causais inverossímeis.
O mundo dos investidores financeiros não faz concessões morais ou sociais. É indiferente se o país está com mais de 20 milhões de cidadãos sem ocupação (desempregados e desalentados) e nem se outros milhões de famílias voltaram para uma condição de miséria. Nos países democráticos tais aspectos são determinantes nas suas equações econômicas, mas por aqui não; interessa apenas alardear o risco de se ir além de um anômalo teto de gastos, estabelecido logo após a interrupção também atípica de um governo legitimamente eleito.
Assim, há que se recorrer à máxima de Kalecki, citado à epígrafe, para relembrar aos incautos que o dinheiro destinado a socorrer famílias vira integralmente gastos domésticos que realimentam os ganhos empresariais e fortalecem a economia. Essa dinâmica da economia real está além dos movimentos frenéticos e especulativos de mercados bursáteis insaciáveis, que se mantém na crista da onda para pautar os discursos opacos do dia a dia do país.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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