Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Leonardo Boff
22/9/2016 | Atualizado às 8:02
[fotografo]Edilson Rodrigues/Agência Senado[/fotografo][/caption]No nosso caso, o bode expiatório escolhido foi e continua sendo o PT e, pessoalmente, a ex-presidenta Dilma Rousseff, incluindo-se o ex-presidente Lula. Ele cumpre uma dupla função: uma de aplacar e outra de ocultar.
Toda a raiva e o ódio acumulados são lançados sobre o bode expiatório. Ele carrega todas as maldades e é feito responsável por todos os desmandos ocorridos e pela crise econômico-financeira. Esquecidos ficam, consciente ou inconscientemente, todos os acertos, em especial a maior transformação social pacífica feita em nosso país, que implicou a diminuição de nossa maior vergonha, a desigualdade social e, positivamente, a integração de cerca de 40 milhões, sempre considerados peso morto da história. Para o efeito da construção do bode expiatório tudo isso não conta, caso contrario não se cumpriria a função do bode expiatório de aplacar a fúria coletiva. Todos se sentem livres desta praga - se possível, a ser exterminada. É a função de aplacar a carga negativa jogada sobre a vítima.
Mas há uma outra função, a de ocultar. Ao colocar toda a culpa e todos os males sobre o PT e a ex-presidenta, feitos bodes expiatórios, esses grupos dominantes ocultam sua própria perversidade e sua culpa. Apresentam-se, farisaicamente, como paladinos da moralidade tomados de indignação contra a corrupção. No entanto, a bem da verdade, exatamente dentre esses grupos dominantes se encontram os maiores corruptos, corruptores e sonegadores de impostos - no estilo da Fiesp, esteio do impeachment, aquela que mais sonega impostos, na ordem de bilhões, como o tem denunciado o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, sem ainda referir os cerca de 600 bilhões de reais de brasileiros mantidos no exterior, em paraísos fiscais e em offshores.
A Bíblia conhece também as figura do bode expiatório, sobre o qual a comunidade colocava todas as ofensas a Javé e o levava para o deserto para lá morrer. O mesmo faziam os gregos, chamando o bode expiatório, uma pessoa ou animal de phármacon, que como um remédio farmacêutico purificava a sociedade de seus desacertos. O cristianismo vê na figura do cordeiro imolado, aquele que vicariamente tira os pecados do mundo, como se reza por três vezes na missa. O efeito é sempre o mesmo: aplacar a sociedade para que, refeita, possa equilibrar seus conflitos até que estes se agravem novamente e acabem por criar algum outro bode expiatório.
Pois assim funciona canhestramente a nossa história sacrificialista. Gerard vê uma saída sensata: na coordenação dos interesses ao redor do bem comum, na total transparência e da inclusão de todos, sem sacrificar ninguém. Mas reconhece que esse não é o caminho seguido pela maioria das sociedades conhecidas. O mais fácil é criar bodes expiatórios como se pratica atualmente no Brasil. Para a infelicidade geral.
Mais crise brasileira
Mais sobre DilmaTags
Temas