Apesar da ofensiva de última hora do Palácio do Planalto para tentar retirar as assinaturas de aliados, PSDB e PFL protocolaram ontem o requerimento que propõe a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar denúncia de corrupção nos Correios.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que fará "o necessário para agilizar" a instalação, mas o governo avalia que ainda dispõe de margem de manobra para barrar os trabalhos. Caso isso não seja possível, já trabalha para fazer a maioria, eleger o presidente ou o relator e controlar os trabalhos da comissão, a exemplo do que fez na CPI do Banestado. Numa reunião da bancada do PT, na noite de terça-feira, o nome do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) ganhou força para presidir ou relatar a comissão.
A idéia é tentar convencer os partidos a retirarem o apoio às investigações coletivamente. Mas a retirada das assinaturas é considerada tarefa difícil. No Senado, a oposição conseguiu 44 assinaturas. Eram necessárias apenas 27. Na Câmara, onde era necessário o apoio de 171, 223 deputados assinaram o requerimento. No geral, 19 dessas assinaturas são do PT, seis do PSB, cinco do PL e cinco do PCdoB, partidos da base aliada. O PTB, do deputado Roberto Jefferson (RJ), envolvido na denúncia de corrupção nos Correios, contribuiu com 12 assinaturas. Entre os deputados do PMDB, sigla que detém o comando do Ministério das Comunicações, responsável pelo controle dos Correios, 29 assinaram o pedido.
No Planalto, a primeira reação à CPI partiu do ministro da Casa Civil, José Dirceu, que orientou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a procurar os líderes aliados para convencê-los a pedir às suas respectivas bancadas a retirada das assinaturas. Só um deputado atendeu ao apelo do líder: Vicentinho (PT-SP). A oposição assegura dispor de "estoque regulador" para repor eventuais assinaturas retiradas. Depois que o requerimento foi protocolado, pelo menos outros dois deputados assinaram a lista, segundo o jornal Valor Econômico.
As assinaturas do requerimento estão sendo conferidas pelas Mesas da Câmara e do Senado. Quando receber o pedido, Renan, que preside o Congresso, vai falar com Severino Cavalcanti (PP-PE) antes de convocar sessão conjunta para ler o requerimento. Depois pedirá a indicação dos líderes. O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), adiantou que serão indicados 15 deputados e 15 senadores. "Falei com os líderes e senti a disposição de indicar", disse Renan.
Se os líderes não indicarem seus representantes, cabe ao presidente do Congresso definir quem participará da CPI. A sessão do Congresso Nacional ainda não está marcada. A oposição pede para que a sessão ocorra amanhã.
Oposição espera envolver Planalto no caso
O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse que o objetivo da CPI não é o de atingir o governo Lula. "Se atingir o ministro José Dirceu, paciência", afirmou. No roteiro dos líderes da oposição está a quebra do sigilo telefônico e bancário dos diretores dos Correios atingidos pela denúncia e do dono da Novadata, Mauro Dutra, que é amigo do presidente. A empresa é citada nas gravações que deram origem à reportagem publicada na revista Veja. Esperam encontrar ligações para o Palácio do Planalto e até mesmo para a sede do PT, que é o que mais temem os líderes do partido de Lula.
Caso pode ser investigado pela PF, defende Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a deputados federais que o governo está tomando todas as medidas necessárias para investigar a suposta corrupção nos Correios, com destaque para o trabalho da Polícia Federal, instituição classificada por Lula como "zelosa" e "cuidadosa", que só prenderia acusados que são "pegos com a boca na botija".
Para deputados da oposição e alguns governistas presentes a um café da manhã no Palácio do Planalto, os elogios à PF e ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) foram o jeito encontrado por Lula para dizer que não é necessária a instalação de uma CPI pelo Congresso para apurar o caso.