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A Caverna do Dragão e o Conselho de Ética do Senado
Congresso em Foco
03/09/2007 | Atualizado às 00h00
A Caverna do Dragão, um dos maiores clássicos dos desenhos animados da década de 80, que constava da grade de desenhos obrigatórios do “Xou da Xuxa”, pode servir como uma metáfora para o desenrolar do caso Renan no Conselho de Ética do Senado.
Mas antes de iniciar a argumentação desse paralelo construído por um representante da “década perdida”, é necessário explicar aos mais experientes, tendo em vista que o seriado ainda é transmitido aos sábados de manhã pela “TV Globinho”, no que consiste a Caverna do Dragão. A história começa quando um grupo de jovens americanos entra em um carrinho de montanha russa em um parque de diversões. De repente, eles são transportados a um mundo paralelo, cheio de monstros e perigos, na mais clássica atmosfera de pesadelo.
Trajados com roupas medievais, e equipados com armas dotadas de poderes especiais, os adolescentes adotam um unicórnio muito chato e são apresentados a um tal de “Mestre dos Magos”, velhinho simpático que os auxilia no desejo comum do grupo: retornar ao lar.
Mas, para que o caminho de casa seja atingido, é necessário enfrentar os mais variados obstáculos. E então, gigantes, dragões, insetos monstruosos, e toda a sorte de aberrações – entre elas um demônio próprio dito conhecido como “Vingador” – são enfrentadas diariamente pelos jovens. Tudo em nome da volta para casa.
O que caracteriza o roteiro do desenho é que sempre que o objetivo está para ser atingido, aparece algo que impede a concretização da volta para casa. Há até quem defenda a idéia (eu, por exemplo) de que o mundo que serve de cenário para o desenho animado é o inferno desses adolescentes americanos, que morreram na montanha russa. O tal do velhinho simpático, na verdade, seria o próprio Satanás, que se diverte com a esperança frustrada deles. Para os adeptos dessa teoria, o grupo passará a eternidade tentando voltar para casa, sem jamais conseguir.
A mesma coisa!
E onde entra o caso Renan no Conselho de Ética do Senado? Ora, é a mesma coisa! Sempre que o processo ameaça tomar uma definição, um rumo mais concreto, surge algo constitucionalmente imprevisto que adia um posicionamento da Casa legislativa.
Desde a votação do parecer do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que foi adiada devido a uma reportagem do Jornal Nacional na véspera, até a mais recente discussão a respeito de como será a votação no colegiado, se aberta ou fechada, tudo colabora para que o fim não seja alcançado.
Quem não se lembra do calvário que o colegiado enfrentou para encontrar um substituto para Sibá? E a definição dos relatores da primeira representação? Quem não se lembra de Eduardo Suplicy se oferecendo para assumir o cargo? E a novela que foi para que a perícia da Polícia Federal fosse feita nos documentos apresentados por Renan e pela jornalista Mônica Veloso, tendo em vista que o pedido teria que necessariamente passar pela Mesa Diretora?
Por causa do pedido de vista dos senadores Gilvam Borges (PMDB-AP) e Wellington Salgado (PMDB-MG) ao relatório de Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES), que pede a cassação do mandato de Renan, mais uma vez o processo se arrasta.
Os aliados do presidente do Senado devem recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar reverter a decisão do Plenário do conselho, que optou pelo voto aberto. O próprio presidente do colegiado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), afirmou que em seu entendimento a votação deveria ser secreta. Mas a pressão pelo voto aberto venceu.
Infinito
O caso Renan, assim como o desenho Caverna do Dragão, tende ao infinito. Sempre haverá algo que fará com que o processo seja adiado. E se houver uma nova denúncia então – e, neste fim de semana, houve! –, é melhor seguir o conselho de Bandeira e tocar um tango argentino.
Se existe um inferno institucional, esse é o inferno do Senado. E como todo inferno que se preze, esse também não será vencido com facilidade. Apesar de a obstrução ter desmoronado, o caso Renan ainda trará muito desgaste a todos nós.
PS: A comparação entre os personagens do desenho e do conselho foi omitida intencionalmente.
PS 2: Há quem diga que o final da série Caverna do Dragão dá a entender que os jovens morrem. Contudo, o último episódio, que não foi exibido pela TV brasileira, permite várias interpretações. Portanto, mantenho minha versão.
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