Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. Livros, filmes e uma neo-humanidade

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

Livros, filmes e uma neo-humanidade

Congresso em Foco

Autoria e responsabilidade de Márcia Denser

12/8/2011 7:00

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
O romance À sombra do vulcão (Under the Volcano), do inglês Malcolm Lowry (que virou filme do mesmo nome, dirigido por John Houston, produção de 1984, com Albert Finney, Jacqueline Bisset e Anthony Andrews) é desses livros canônicos, torturantes, definitivos. Algo que nasceu absolutamente perfeito. Como uma rosa ou uma laranja podem ser perfeitas. Não o comprei, ganhei - aliás, herdei da viúva do escritor Osman Lins, Julieta Godoy Ladeira, morta em 1994. Deu-me precisamente este livro por razões não isentas de malícia - razões, que a ironia e o mau-humor, poderiam considerar moralistas - até porque, na época, eu absolutamente não seria um modelo de sobriedade. E bons modos. Muito ao contrário. Tava mais para "la belle dame sans merci", a bela criatura lamentável, arranjando uma pá de saias justas sobretudo para os amigos, algo que, aliás, não abandonei de todo, afinal, eu me conheço.Mas amadureci, sinto-me mais vulnerável, quer dizer, fisicamente, na razão inversa da mente, esta bem menos vulnerável - plantada é a expressão correta. Posso não ter certeza de muitas coisas, posso, é claro, não saber de muitíssimas outras, mas sei precisamente o que quero, onde posso chegar e o que não quero. Enfim, conheço meus limites. Mais: a essa altura da vida, começo, mansamente, silenciosamente, a compreender Clarice e sua "Via Crucis do Corpo". Voltando ao romance: na essência, é a radiografia mais completa já escrita sobre o alcoólatra e a plena sistematização desta alquimia - quase uma ciência - chamada Alcoolismo. E sem nenhum proselitismo, não obstante a magnitude quase hipnótica da sua poesia. Então, fico pensando que o Osman, tão culto e tudo mais, pela óbvia impossibilidade da leitura deste livro no original, socorreu-se da edição portuguesa (Livros do Brasil - Lisboa, Rua dos Caetanos,22). Como eu própria, mais tarde, faria com os romances de Faulkner. Por que estou relendo À sombra do vulcão? Pelo estilo, acima de tudo, a exemplo deste fragmento magistral: "Meus segredos são daqueles que precisam se manter inviolados. E é por isso que me imagino um explorador que, tendo descoberto uma terra extraordinária, jamais poderá abandoná-la para informar ao mundo sua descoberta, porque essa terra é o Inferno." Essa semana assisti, no cabo, Enterrado Vivo (Buried, 2010), produção espanhola dirigida por Rodrigo Cortés, com Ryan Reynolds. Quer dizer, comecei a assistir muito a contragosto e falta do que fazer, pensando, porra, mais um filme com claustrofobia, onde o personagem principal - motorista de caminhão americano trabalhando no Iraque - após um tiroteio, se acha confinado num caixão com um celular egípcio, lanterna falhando e um isqueiro. Reynolds passa os, sei lá, 90 minutos do filme, tentando pedir socorro, teclando infinitamente para a mulher (que nunca está), operadoras diversas, cujo implacável jargão torna os diálogos filhadaputamente absurdos, a polícia (de Chicago!), o FBI, o Departamento de Estado, seus sequestradores - sim, porque é um sequestro, depois se fica sabendo ­- que pedem cinco milhões de dólares pelo seu resgate; um sujeito chamado significativamente Dan Brenner (clara alusão a L. Paul Bremer III, o enviado da Casa Branca em 2003 que, dentro da Zona Verde, representava o governo dos EUA (1) no Iraque pós-invasão, cujos "erros" político-administrativos no sentido de "privatizar" o mais rápido possível um país já devastado, inauguraram uma nova categoria de crime de guerra (2)) no caso, o chefe duma firma americana local especializada em resgates. Em essência, o que o filme coloca com precisão claustrofóbica, daí sua eficiência, é que o único ramo de negócios florescente no Iraque atual é a Irak Seqüestros & Resgates Inc. e por uma razão muito simples: no intuito de "apagar o Iraque" e impor uma "democracia de araque" (com o perdão do trocadilho), os norte-americanos dissolveram todas as instituições do país - Estado, governo, exército, sistema de saúde, educação, transportes, saneamento, água, luz, comunicações, indústrias locais, universidades, bibliotecas, etc., tudo. Literalmente, eles mataram uma nação, até porque, assim como a romana, a Pax Americana não é nada mais que um deserto, pontuado por algum Wall Mart, Big Mac ou Pizza Hut, aqui e ali. Eis a Grande Revolução Neocon: um Estado oco recheado com batatas Pringles, cultura pop e filmes dublados. Ainda em Buried, um derradeiro requinte macabro: nos instantes finais, Reynolds recebe uma ligação dos patrões informando-o que acabara de ser despedido por justa causa, pois, contrariando as normas de seu contrato, mantivera ligação amorosa com colega de trabalho (morta simultaneamente em outro sequestro) e, consequentemente, a firma se eximia de qualquer pagamento, compromisso ou ônus decorrente da presente situação (sequestro) do ex-funcionário. Portanto bye-bye, te encontramos no Inferno. Nesses tempos desumanos, brutais, insensíveis, neo-truculentos, pós-antigos, natimortos, moralóides - essencialmente imorais,  preferencialmente amorais - ler (ou reler) Malcolm Lowry ou assistir a filmes como Buried (este, pelo lado negativo) implica, não só em atos de coragem (literalmente no caso do filme:haja saco), mas em algo como uma espécie de renovação de fé na humanidade. Que ainda deve existir em alguma parte. (1)Autoridade Provisória de Coalizão (CPA). (2) o Capitalismo de Desastre, segundo Naomi Klein.
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar
[Erro-Front-CONG-API]: Erro ao chamar a api CMS_NOVO.

{ "datacode": "NOTICIAS_LEIA_MAIS", "exhibitionresource": "NOTICIA_LEITURA", "articlekey": 75538, "viewed": [ "75538" ], "context": "{\"articlekey\":75538,\"originalarticlekey\":\"75538\"}" }

NOTÍCIAS MAIS LIDAS
1

REAÇÃO AO TARIFAÇO

Leia a íntegra do artigo de Lula no New York Times em resposta a Trump

2

VÍDEO

Valdemar Costa Neto admite "planejamento de golpe", mas nega crime

3

GOVERNO

Lula escolhe Emmanoel Schmidt Rondon para presidir os Correios

4

MANOBRA NA CÂMARA

Eduardo Bolsonaro é indicado a líder da Minoria para evitar cassação

5

TRANSPARÊNCIA

Dino pede que PF investigue desvios em emendas de nove municípios

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES