Apesar do discurso de otimismo adotado pelo presidente Lula em face da atual conjuntura financeira global, especialistas ouvidos pelo Congresso em Foco afirmam que o pior da crise ainda está por vir.
“Passaremos por essa crise financeira, mas a do setor real (empresas privadas e públicas de modo geral), ainda está por vir pela frente”, prevê o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Jandir Feitosa.
Segundo ele, os brasileiros não perceberão o impacto da crise no curto prazo, mas no final de dezembro e início do próximo ano. “Acho que, na virada do ano, vamos sentir isso mais forte. No primeiro trimestre de 2009, é bem provável que ela já esteja de fato instalada”, avalia.
O economista da Universidade de Brasília (UnB) Vitor Gomes divide a mesma impressão, mas sob um aspecto diferente: a possibilidade de uma quebradeira generalizada das instituições financeiras em todo o mundo.
“Não estamos no ponto mais crítico. Pode chegar a piorar, por exemplo, se centenas de bancos viessem a quebrar. Seria muito pior”, disse Gomes. “Acho que o Lula teve uma postura errada ao afirmar que a crise dessa proporção não atingiria o país”, acrescentou.
Medidas necessárias
Mas os especialistas acreditam que as medidas tomadas pelo governo até agora foram apropriadas.
“O maior problema atualmente é a falta de crédito e, por isso, o governo está ampliando a oferta de crédito para manter grandes fluxos, principalmente entre os bancos. Não acredito que haja uma política para defender esse ou aquele banco, mas sim para proteger o sistema financeiro”, explicou Gomes.
Feitosa acrescenta que a falta de dinheiro para empréstimo atinge primeiro o banco e, depois, o consumidor. “Os bancos travam o crédito para os consumidores. Sem crédito, a economia não cresce. Isso pode gerar desemprego, fazer a economia parar de crescer, gerar uma recessão. E isso é o que o mundo mais teme”, ressaltou o professor da FGV.
Ele acredita que o crescimento do país em 2008 não está prejudicado “Mas para o ano que vem, acho que vamos ficar num nível de crescimento de 3,5%”, avaliou Feitosa.
Na última segunda-feira (6), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciaram novas medidas para tentar conter os reflexos no país da crise financeira global. Entre elas, está o repasse de R$ 5 bilhões do Tesouro para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que servirão para reforçar a linha de crédito conhecida como “pré-embarque”. A iniciativa visa a assegurar o fluxo das exportações.
A equipe econômica também aposta na aplicação de parte das reservas no mercado para aumentar a liquidez para os exportadores. As medidas do governo fazem parte da Medida Provisória 422/08, encaminhada na terça-feira (7) ao Congresso.
O Banco Central também prevê a concessão de empréstimos aos bancos em dificuldades, que darão como garantia do pagamento as carteiras de crédito.
Em nota divulgada hoje (10), o BC esclarece que não há limites fixados para as operações de redesconto bancário (concessão de um empréstimo por parte de um Banco Central a um banco comercial) e nem para sua atuação nos mercados cambiais. “O compromisso do Banco Central é com o bom funcionamento dos mercados”, afirma a entidade em trecho da nota. (Erich Decat)