Denúncia de fraudes acirra disputa em Fortaleza

Com a possibilidade da disputa à prefeitura de Fortaleza terminar no primeiro turno, os candidatos esquentam a briga com uma série de denúncias contra a atual administração comandada por Luizianne Lins (PT). A petista, que tenta a reeleição, segundo a última pesquisa Datafolha, lidera a disputa com 47% das intenções de votos na capital cearense.

Caso esse percentual seja confirmado, a candidata será eleita no primeiro turno, uma vez que a quantidade de votos atribuídos a ela é superior à soma de todos os outros candidatos. Luizianne é seguida por Moroni Torgan (DEM) com 22% e por Patrícia Saboya (PCdoB) que conta com 16%. Os demais candidatos foram lembrados por apenas 5% dos eleitores ouvidos pela pesquisa.

Segundo Moroni e assessores ligados à campanha de Patrícia Saboya, as denúncias estão sendo censuradas pela imprensa local, acusada de ligação com Luizianne. Em contrapartida, a prefeitura “lamenta” as acusações e classifica o episódio como especulação político-eleitoral.

O bombardeio se intensificou no último debate promovido pela TV Jangadeiro, ocorrido na quarta-feira (1), em que Moroni acusou Luizianne de anistiar 90% da dívida da empresa Sul América Serviços Médicos LTDA, em 2007. Segundo o candidato, após a intervenção da prefeita a empresa pagou apenas R$ 1,5 milhão dos R$ 14 milhões previstos inicialmente.

“A denúncia foi feita no debate. A gente espera que ela possa ter impacto na opinião pública. Mas não acredito que isso terá um impacto eleitoral porque a imprensa local não repercutiu. Talvez pelo fato de a prefeitura ser a principal anunciante”, disse Moroni por meio da assessoria.

Patrícia Saboya, também parte para o ataque na reta final e acusa a atual prefeita de improbidade administrativa. “A prefeita utiliza mal os recursos públicos. Deve explicação ao povo de Fortaleza sobre os gastos com o cartão corporativo e sobre o perdão de 90% da dívida da Sul América”, ressaltou a candidata ao Congresso em Foco.

“A atual gestão fez a cidade retroceder em várias áreas. Na saúde a situação é caótica, mais de 100 mil pessoas na fila esperando por atendimento. Na educação estamos no 89°lugar no ranking dos 187 municípios cearenses e somos a penúltima capital em qualidade de ensino, segundo o levantamento do Ministério da Educação”, acrescentou.

Outro lado

Em respostas às acusações, Luizianne afirmou, por meio de nota encaminhada à reportagem, que cumpre “rigorosamente” a prestação de contas do cartão corporativo junto ao Tribunal de Contas dos Municípios.

“Esses dados não são sigilosos e nada há de irregular com relação a eles. Acreditamos ainda que o debate deva ser enfrentado com seriedade e não ficar refém de especulações de cunho eleitoreiro”, rebateu.

Quanto à anistia à empresa de seguros, a prefeita contra-ataca e diz que há uma manipulação dos dados por parte dos adversários. Segundo ela, a empresa envolvida no episódio da suposta anistia não nem mesmo é a Sul América como afirmou Moroni, mas a Sulamed.

“Quando da mudança de moeda de cruzado novo para cruzeiro, foi feito o lançamento da dívida em ISS da seguradora para a nova moeda vigente, conforme estabelece a legislação. Não houve, portanto, nenhum tipo de abatimento drástico, apenas a conversão da moeda”, explicou.

Segundo ela, o acordo foi celebrado perante o juíz da 2ª Vara de Execuções Fiscais e de Crimes Contra a Ordem Tributária da Comarca de Fortaleza, Dr. Wilton Machado, em setembro de 2005. E a sentença publicada no Diário da Justiça no dia 20 do mesmo mês.

“Um acordo feito na justiça e não administrativamente. Reclamar do acordo equivale a pôr em dúvida a decisão judicial, agora já transitada em julgado”, ressaltou em trecho da nota.

Racha na família

As eleições em Fortaleza também servirão para medir a influência de dois irmãos atuantes na política local e nacional e que apóiam candidatos opostos na disputa. De um lado, o atual governador do Estado, Cid Gomes (PSB), apóia Luizianne. Do outro, o deputado federal, Ciro Gomes (PSB), faz campanha para a ex-mulher, Patrícia Saboya. Ao longo da campanha eleitoral de TV e rádio, Ciro, no entanto, não pôde participar dos programas em razão do PSB ser coligado com o PT de Luizianne.

A petista, entretanto, não teve apoio do presidente Lula, pelo fato de o partido de Saboya (PDT) ser integrante da base governista. Apesar do distanciamento do presidente, Luizianne conta com os conselhos do marqueteiro Duda Mendonça responsável pela vitória de Lula na campanha de 2002. (Erich Decat)