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Congresso em Foco
1/11/2006 | Atualizado 7/12/2006 às 17:48
Soraia Costa
Elevada à condição de musa do novo Congresso, a deputada eleita Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) se exime em desfazer qualquer relação entre a expressiva votação que recebeu dos gaúchos e a indisfarçável beleza que cultiva no auge dos seus 25 anos.
Convicta de suas idéias, Manuela contrasta a voz suave com um discurso contundente contra o neoliberalismo e em defesa da juventude. "Não foi a beleza que me elegeu. Se fosse assim, outros candidatos muito bonitos tinham se elegido. A população de Porto Alegre já conhece meu trabalho", diz.
Vereadora há dois anos, Manuela chegou à Câmara municipal respaldada por sua atuação no movimento estudantil, do qual participou ativamente durante cinco anos, enquanto cursava jornalismo e sociologia na capital gaúcha. O início dos trabalhos legislativos, logo após a formatura em jornalismo, a impediu de concluir o outro curso e a fez adiar os planos de se tornar professora universitária.
"Não consigo me imaginar sendo feliz e me realizando pessoalmente se não estivesse na luta. Seja de que maneira for", diz a deputada eleita, com a autoridade de quem recebeu 271.939 votos em 1º de outubro.
Na Câmara dos Deputados, Manuela pretende participar das discussões sobre a reforma universitária e sobre questões relacionadas aos interesses da juventude, como a meia-entrada e a regulação dos estágios. Comunista de carteirinha, a deputada chega a Brasília com um discurso afinadíssimo com o governo Lula.
"Foi o melhor governo que tivemos até agora. Tratou de maneira respeitosa os movimentos sociais, manteve a autonomia das instituições e deu abertura para o diálogo", considera. "É um governo com posição muito clara e que conseguiu resistir ao neoliberalismo", completa.
Semelhança, só na juventude
Manuela faz parte de um seleto grupo de 17 parlamentares federais menores de 30 anos. Mas rejeita qualquer comparação com lideranças jovens de outras cores partidárias. "Não posso ser comparada com um jovem do PFL, como ACM Neto ou Rodrigo Maia. Nós temos histórias de vida diferentes, somos jovens diferentes e representamos parcelas distintas da sociedade. Não represento a elite gaúcha, mas a população", ressalta.
Com a facilidade característica que os jovens têm para lidar com as novas tecnologias, Manuela soube aproveitar como poucos o espaço disponível na internet. Além da página oficial, "E aí, beleza", na qual conta um pouco de sua trajetória política e de sua vida pessoal, a deputada eleita mantém seis perfis no site de relacionamentos Orkut. Com quase mil pessoas cadastradas em cada um deles.
Sempre com linguagem informal, ela comenta suas idéias e discursos no blog e leva para o plenário muitas das sugestões feitas por e-mail. "Quero continuar atuando assim na Câmara", diz.
Confissões de adolescente
Em sua página, Manuela faz até confissões impensáveis para quem hoje rejeita o rótulo da beleza. Ao falar de sua adolescência, revela, quem diria, ter sido um dia chamado de gordinha pelos colegas. "Sofri muito preconceito por ser esteticamente diferente daquilo ditado pelos padrões, ou seja, GORDA!", acentua.
Apesar de trabalhar 17 horas por dia, a vereadora e deputada eleita ainda busca tempo para responder aos internautas que a procuram. Dormindo cerca de seis horas por noite, Manuela garante que arruma tempo para se divertir, como qualquer outro jovem da sua idade. "Gosto de música, de sentar em um barzinho com os meus amigos, conversar, ler", conta.
Embora não seja oficialmente casada, Manuela divide o apartamento com o seu "namorido", o estudante universitário Adriano, conforme diz em seu blog. O casal faz planos de ter o primeiro filho ao longo dos próximos quatro anos, durante o mandato da deputada. "Com certeza não será no momento da reeleição, não posso fazer campanha grávida", adianta.
Leia a entrevista de Manuela D'Ávila ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco - Quais projetos que você apresentou como vereadora têm a sua cara?
Manuela D'Ávila - Fiz a lei da meia-entrada para estudantes, que era uma luta muito antiga da juventude porto-alegrense e acho que não foi uma vitória pequena, pois levamos mais de 20 anos para conquistar isso. Presido a Comissão de Educação, Esporte e Cultura da Câmara de Vereadores. Fizemos várias ações para enfrentar a violência praticada pelos seguranças terceirizados, que é um problema muito grande e que afeta principalmente os jovens. Outro projeto de lei trata do incentivo ao uso de bicicletas e transportes sustentáveis, da ajuda integral da passagem escolar e de benefícios como a compra parcelada, para favorecer os estudantes da rede de ensino particular. Também conseguimos debater outras questões, como a da saúde pública, da juventude, da prevenção da gravidez na adolescência, das creches no município de Porto Alegre e fizemos tudo isso a partir de iniciativas diversas, não só de leis, como é o caso da comissão que eu presido, como o caso do orçamento nos municípios.
Você pretende ser a representante da juventude na Câmara?
A juventude é uma marca forte, mas o que tentamos criar em Porto Alegre foi a visão de que não temos relação só com a juventude, mas com uma parcela significativa da população que convive com os jovens. A formação e a possibilidade de uma formação profissional melhor para os jovens tem relação direta com a família desse jovem e com a própria mobilidade social dessas famílias. Esse é nosso objetivo. Nós compramos uma briga recente na Câmara dos Vereadores com relação às Casas de Passagem para as mulheres vítimas de violência e que até hoje só podiam levar consigo os seus filhos crianças ou adolescentes. Achamos que os jovens também têm que ter a possibilidade de estar com essas mulheres, porque quando elas saem de casa não podem deixar que o jovem seja vítima da violência do agressor. Isso passa pelo reconhecimento da existência da juventude na sociedade e de como essa juventude pode estar inserida no desenvolvimento local, no desenvolvimento dos estados e no desenvolvimento nacional.
Que tipo de projeto você pretende apresentar no Congresso?
Eu quero debater a questão da reforma universitária, o projeto que está no Congresso. Vou fazer de tudo para que esse projeto seja aprovado para garantir a ampliação de investimentos na universidade pública.
E você concorda com o projeto da maneira como ele está hoje?
Eu acho que ele é bom, não diria que é excelente, mas tem características importantes e progressistas no seu conteúdo. Acho que também é importante discutir com a sociedade, porque ninguém é tão entendido que saiba tudo sobre determinado tema. É importante discutir com empresários, com estudantes e com as universidades a questão dos estagiários do nosso país e a ampliação do Prouni. Também temos que debater a questão da meia-entrada. Ela é garantida por legislações estaduais em alguns locais, mas acho importante que seja levada para todo o país para garantir o acesso à cultura e ao esporte. Temos que assegurar que os jovens se formem e tenham uma educação integrada e continuada, não apenas em sala de aula.
Você falou da questão do estágio. Na sua opinião o que precisaria mudar?
Não existem regras sem exceção. Tem muitos locais em que o estágio é feito de uma maneira correta como um espaço para aprendizagem, mas, em outros, os jovens são contratado apenas como mão-de-obra barata e não como mão-de-obra a ser qualificada. Então o que eu quero garantir é que o estágio cumpra com seu objetivo e seja um espaço de aprendizagem. Para isso, tem que ter regras e normas.
Em vários locais onde existe meia-entrada o preço do ingresso fica mais caro para compensar o prejuízo dos empresários. O que poderia ser feito para se evitar esse tipo de burla da legislação?
Muitas vezes isso acontece como uma maneira de chantagear para que não tenha a lei, mas a conseqüência disso é que eles perdem público. E eu acho que a gente tem a prova disso, pois não é comum ver salas de cinema e teatro superlotadas no país, salvo quando tem um grande projeto de marketing por trás. E a meia-entrada é uma maneira de aumentar a participação da juventude. Ter uma legislação única da meia-entrada que exija um padrão em todas as cidades facilita, porque será possível trabalhar com números para saber se existe ou não uma participação de público maior com a lei da meia-entrada.
O que a levou a participar do movimento estudantil?
Entrei na universidade pública e na privada em momentos agitados. Era o auge da tentativa das privatizações brancas das federais pelo ex-presidente Fernando Henrique e o ex-ministro Paulo Renato, quando se falava em Provão e em controle do governo com relação às federais e aos direitos dos estudantes. Nas particulares, os estudantes não conseguiam acompanhar o aumento exacerbado das mensalidades, que era gigantesco. Nas públicas, a condição sofrida da cultura da universidade era dramática. Entrei nas duas simultaneamente.
Como você vê o movimento estudantil de hoje? Acredita que ele seja eficaz?
Tenho convicção disso. Acho que o movimento estudantil conseguiu acontecer de acordo com a juventude de agora. Muitas vezes traçam paralelo querendo comparar o movimento estudantil de agora com o de décadas passadas. Acho isso completamente irreal. Não se pode comparar o movimento sem se comparar a realidade da sociedade daquele determinado momento. Hoje o movimento estudantil consegue mobilizar muitos jovens e fazer com que esses jovens tenham histórias concretas de luta pela democracia em diversos campos, como na questão da agricultura. Além, é claro, do histórico de lutas em favor da educação. A UNE foi protagonista do debate da reforma universitária que chegou ao Congresso Nacional. É um movimento que acontece de acordo com as características da juventude de agora. É um movimento renovado, atualizado na sua organização e na sua política e, além disso, tem conseguido manter sua história de luta bastante concreta.
Na sua opinião, como foi o primeiro governo Lula para o movimento estudantil?
Foi o melhor governo que tivemos até agora. Tratou de maneira respeitosa os movimentos sociais, manteve a autonomia das instituições e deu abertura para o diálogo. A UNE, por exemplo, nunca foi recebida pelo ex-ministro da educação Paulo Renato. Esse contato cria condições para a construção de um vínculo. Qual a vontade do governo Fernando Henrique de construir um vínculo com o movimento estudantil? Nenhuma. Reflexo dos projetos do governo. Já o governo Lula respeitou, reconhecendo a importância do movimento e valorizando as ideologias e opiniões. O que não é pouca coisa. É claro que, às vezes, as ações foram singelas, mas investimentos em atividades culturais, por exemplo, já alteraram significativamente os índices de qualidade de educação do Ensino Médio. O investimento no Pró-jovem, o pacote educacional que foi lançado agora e que prevê a formação continuada da educação básica, o próprio Fundeb, que tramita no Congresso, são outras ações que não ficaram só no discurso, são práticas concretas. Então acho que esse foi o melhor governo para a educação. É evidente que nós precisamos de muito mais. A educação brasileira é muito sucateada, seja no ensino superior, seja no profissionalizante, precisa ter investimento do governo federal para qualificar o ensino e ter um diferencial. O governo conseguiu recuperar o déficit de investimentos na educação e fez muita coisa, mas tenho certeza que fará muito mais no novo mandato.
Você acredita que os integrantes dos movimentos estudantis compartilham dessa sua opinião com relação ao governo Lula?
Eu acho que a gente está vivendo isso. Milhares de jovens estão no Prouni, outros conseguiram vagas na universidade pública após a ampliação. Os jovens que já estavam dentro da universidade percebem a recuperação da capacidade de produzir conhecimento e a própria melhoria tecnológica da universidade pública. Não são poucas as escolas técnicas federais que foram abertas, mais de 200 jovens estão no Pró-jovem. Então essa é uma realidade que as pessoas estão vivendo e o impacto educacional do governo tem uma relação direta com o desempenho eleitoral. Muitas vezes aqueles que não precisaram da educação pública ou os que não vêem no seu projeto a necessidade de produzir conhecimento e de criar uma geração de brasileiros capazes e bem informados para contribuir com o desenvolvimento do país é que acabam subestimando a validade do projeto educacional do presidente Lula. Hoje 14 milhões de crianças estão no ensino por causa do Bolsa Família. É muito fácil dizer que esse é um projeto eleitoreiro e não procurar ver qual era a situação anterior daquela criança. O impacto é muito grande e tem uma relação direta com o presidente. E quem não percebe isso é porque não consegue perceber a importância da educação para a construção de um país soberano.
Durante a campanha eleitoral, escutamos muitas críticas dizendo que seria possível dedicar mais dinheiro e fazer muito mais pela educação. Críticas essas vindas principalmente do ex-ministro Cristovam Buarque (PDT). Você concorda com esse tipo de crítica?
O principal problema é achar que existe projeto de ministro. Não tem, tem um projeto de país, que é liderado pelo presidente Lula e que é executado em equipe, não apenas pelos ministros. Não sei se foi correto ou não demitir Cristovam, mas sei que o governo tem um projeto para a educação e esse teve continuidade nos quatro anos de mandato do presidente Lula. Desde o início eles já apontavam para a questão da reforma universitária e temos um projeto que tramita no Congresso Nacional. Não vejo um governo composto só por nomes. Temos um projeto político que é composto pelo todo. É verdade que é preciso e possível fazer muito mais, mas isso agora que recuperamos a economia brasileira e retomamos a capacidade de investimento do governo federal. Hoje é possível afirmar na propaganda eleitoral que muito mais será feito. Há quatro anos não era essa lógica. Achei até engraçado o Alckmin ter falado de investimento em educação se o PSDB nunca teve um plano de ampliação do ensino superior brasileiro, nunca teve contemplada a visão da produção de conhecimento. Pelo contrário, sempre teve uma visão de que o país seria completamente dependente do conhecimento produzido pelos outros. Nosso projeto político é o de desenvolvimento tecnológico que tem a participação dos jovens.
Na sua opinião, o projeto do governo Lula ainda está próximo da esquerda e até do comunismo?
Nunca ninguém do PCdoB disse que este era um governo comunista. Mas acho que o governo Lula enfrenta e resiste à implementação do neoliberalismo, que é a forma como o capitalismo se apresenta na sociedade de hoje. Este governo conseguiu de forma bastante tranqüila não renovar os contratos com o Fundo Monetário Internacional, não implementar a Alca, nem as privatizações. Então é um governo com posição muito clara e que conseguiu resistir ao neoliberalismo. Hoje temos um país que negocia internacionalmente de maneira autônoma com outros países. Conseguimos abrir novas negociações com países da Ásia, do Oriente, e isso não significa pouco do ponto de vista econômico. Essas prioridades são características de um governo ligado à população, um governo com características de esquerda, como é o PT.
Tradicionalmente a juventude é atraída pela esquerda. Hoje continua sendo assim?
Continua. A juventude tem uma vontade muito grande de mudar a realidade e sabe que para a realidade ser alterada, ela não encontrará espaço nos partidos tradicionais, daí a identificação da juventude com os partido de esquerda.
Na sua opinião, o interesse dos jovens pela política aumentou?
Acho que existe uma tentativa de sempre de dizer que o jovem não se preocupa com a política. Na minha opinião o problema dos jovens é com os velhos partidos que não permitem a participação efetiva deles. No nosso campo político, seja no PCdoB, no PT ou no PSB, há uma participação ampla dos jovens. E mais do que isso, há alguns números que evidenciam essa participação dos jovens, como é o caso do aumento crescente do número de jovens solicitaram o título de eleitor sem ter a obrigação. Acho que essa é uma demonstração de que o jovem tem interesse e está participando da política.
Qual a importância de ter essa participação dos jovens na política?
Primeiro é preciso diferenciar a juventude porque ela representa diferentes lados. Eu, por exemplo, não posso ser comparada com um jovem do PFL, com ACM Neto ou com Rodrigo Maia. Nós temos histórias de vida diferentes, somos jovens diferentes e representamos parcelas distintas da sociedade. Não represento a elite gaúcha, mas a população. Acho que a participação da juventude ajudará a renovar e oxigenar a política do país. Somos uma parcela significativa da população, 33 milhões de brasileiros, uma Argentina inteira. Imagina se a juventude não se envolver, como será a participação da sociedade em dez anos? Temos uma capacidade muito grande de ocupar espaço e quando ocupamos nosso espaço conseguimos fazer não só com que a política se oxigene, mas também com que haja a continuidade na participação da luta política do nosso país.
Você acabou de completar 25 anos e quando saiu da universidade entrou quase que imediatamente na política. Você acha que a política deve ser encarada como uma profissão?
Eu nunca pensei que seria candidata antes de ser. Acho que é errado as pessoas usarem a política para fazer suas vidas ou para se realizar individualmente. A política tem que ser feita de maneira coletiva e eu me sinto como representante de um projeto político. Estudei e quero continuar estudando, e não acho errado alguém ter diversos mandatos e acabar tendo uma parte significativa da sua vida dentro do parlamento ou do poder Executivo. O que acho errado é a pessoa fazer a sua realização individual a partir disso. E eu falo de realização pessoal no sentido pejorativo. Até porque eu sou muito feliz fazendo política, não é nesse sentido, é no sentido de usar a política para alcançar os seus objetivos pessoais e não os interesses coletivos. Isso que eu acho errado.
Enquanto você se dedica à política, acaba deixando de lado outras prioridades que normalmente os jovens têm. Como fica a sua vida pessoal?
Fica difícil, você não faz idéia. Mas é uma opção de vida minha. Não consigo me imaginar sendo feliz e me realizando pessoalmente se não estivesse na luta. Seja de que maneira for, no movimento social ou no movimento sindical, como pretendo fazer daqui a alguns anos, dando aulas. Não consigo me imaginar sem reivindicar a melhoria de condições para o nosso povo. A gente vai aprendendo a conciliar. Tranquei meu segundo curso [sociologia] porque, como vereadora, trabalho 17, 18 horas por dia. Existe espaço para tudo. Por exemplo, eu programo para durante estes quatro anos em que estarei exercendo o mandato ter meu primeiro filho. Com certeza não será no momento da reeleição, não posso fazer campanha grávida. Então acabo conciliando, mas a idéia não é só ocupar um lugar no parlamento, mas militar. Antes de entrar na política militei por cinco anos no movimento estudantil.
Deixando a política, qual seria seu objetivo profissional?
Eu me formei com 21 anos no meu primeiro curso, fui pesquisadora e tenho vontade de continuar estudando. Não como alternativa salarial, porque quando a gente se forma, tem um curso superior, que infelizmente poucos têm acesso no Brasil, acaba encontrando emprego. Conheço poucas pessoas que se graduaram e não conseguiram emprego. Mas minha preocupação não é essa. Meu objetivo profissional é ser professora de Teoria da Comunicação, o espero que mais cedo ou mais tarde conseguir.
Você está falando em ter filhos, não tem medo de ficar sem mandato e não ter uma alternativa de salário definida?
Minha mãe deu aula de violão para sustentar a gente, então eu tenho a tranqüilidade de saber que quando a gente quer, a gente se esforça e consegue. Acho que dá para me sustentar, mas não estou pensando nisso agora, estou pensando no meu mandato.
E como é a Manuela além da política? O que você gosta de fazer, que tipo de música gosta de ouvir?
Gosto de música, gosto de sentar em um barzinho com os meus amigos, conversar, ler. Minha música preferida é MPB e leio muito para o trabalho, mas o que gosto mais é da literatura latino-americana.
Você já sabe onde vai ficar em Brasília?
Ainda não, mas acho que vou ficar em um hotel.
Agora vamos falar de questões polêmicas e relacionadas principalmente aos jovens e mulheres. Qual a sua opinião sobre a legalização do aborto?
Eu sou a favor. A gente tem que pensar a legalização como uma questão de saúde pública. Não podemos deixar que milhares de jovens do nosso país morram em clínicas clandestinas de execução do aborto, como nós sabemos que morrem, enquanto outras jovens de classe média realizam aborto e não morrem. Precisa ter recursos para fazer isso da maneira adequada. Mas tem problemas também. Não acho que o aborto deva ser tratado como um substitutivo para o planejamento familiar. Pelo contrário, acho que o planejamento familiar tem que ser tratado de maneira séria tanto para mulheres, quanto para homens. Temos uma legislação atrasada com relação ao aborto de fetos anencéfalos. É um absurdo deixar que a mulher sustente uma gravidez durante nove meses para um feto que não vai viver mais de oito horas. Isso gera traumas para a mulher. Tem que ser dado um passo de cada vez e seria um bom começo evitar que mulheres não gerem filhos que não vão sobreviver, depois deve haver um amplo debate com a sociedade para que haja uma política mais eficiente de planejamento escolar. É preciso pensar isso de uma maneira integrada. Mesmo sem ser legalizado hoje, há milhares de mulheres que realizam o aborto e morrem por causa disso.
E sobre as cotas nas universidades?
Eu defendo reserva de vagas para estudantes da escola pública dentro disso percentual de acordo com as regiões para afrodescendentes. Na realidade, nós temos um déficit com os estudantes da rede pública de ensino. A gente tem que pensar a reserva de vagas para a escola pública dentro de uma política de melhoria do ensino brasileiro que estipule prazos. Por exemplo, dizer "nós queremos 15 anos, 10 anos, cinco anos, com reserva de vagas" e perguntar o que pode ser feito nesse período para se igualarem as condições do ensino público com relação ao privado. As cotas devem ser vistas não como uma política solta, mas como uma política paliativa. É preciso melhorar as condições não só de ensino, mas também de permanência desses jovens na escola. Até porque muitas coisas são subjetivas e não objetivas. Por exemplo, se você compara uma escola com outra, às vezes elas são iguais, mas o jovem que está na instituição privada não tem que trabalhar dez horas por dia, não vai caminhando para a escola, tem acesso a computador e ao livro didático. Quer dizer, tem outras coisas que a gente não vê no primeiro plano, mas que têm relação direta com a qualidade do ensino oferecido ou pelo menos com a diferença da qualidade oferecida aos jovens.
Qual a sua opinião sobre a política antidrogas?
Nós aprovamos agora uma nova política nacional antidrogas que tem um fator positivo, consegue separar o usuário do traficante. Minimiza a discriminação com o usuário e maximiza a proibição e a penalização do traficante. Conseguimos avançar bastante com isso. Também tenho uma preocupação muito grande com relação aos espaços para atendimento aos dependentes químicos. Há muitos exemplos da diferença gritante de tratamento dado a um jovem de classe média e a um jovem da periferia e sabemos da dificuldade das mães. Não é incomum ver a notícia da mãe que amarrou ou acorrentou o filho na cama para ele deixar de usar drogas. Temos que pensar nisso também do ponto de vista da saúde pública. Ter preocupação também com as vítimas, com os danos causados pelo consumo de bebida entre a juventude, os acidentes de trânsito que são causados pelo consumo do álcool. Não podemos eternamente fazer de conta que droga ou que drogados só são os jovens que consomem drogas ilícitas.
E no caso da maconha? Ela deveria ser legalizada, comparada a um cigarro comum?
Cigarro comum também é droga. Temos que rever toda a legislação antidrogas do nosso país. Devemos adotar uma política mais severa com relação ao alcoolismo e ao tabaco. O que não admito é que um jovem usuário de drogas seja tratado como um narcotraficante e acho que já conseguimos contemplar isso na legislação que foi aprovada. O que a sociedade brasileira tem que debater é como combater o narcotráfico, como fazer com que o narcotráfico não seja uma alternativa de emprego para a juventude como é hoje. Outra coisa são os dependentes químicos e os usuários de drogas que têm que ser tratados com políticas públicas de saúde para o combate ao consumo. E isso para todas as drogas, inclusive o cigarro e o álcool.
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