O senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL) afirmou, em entrevista concedida ontem (7) ao site G1, que o primeiro discurso que fará no plenário do Senado, no fim de março, será contando a versão dele sobre os fatos que levaram ao impeachment sofrido em 92.
“Todos já deram suas versões, livros foram escritos, teses foram defendidas em universidades, artigos reproduzidos. Cada um dando sua versão. Não há ainda a versão de quem viveu o fato, ou seja, a minha. Ainda não foi dada essa oportunidade à nação brasileira. Agora, eleito senador, acho que chegou a hora da preencher essa lacuna. E será uma versão absolutamente fidedigna dos fatos. O juízo ficará a cargo de quem tiver a curiosidade de ouvir, assistir ou de ler”, ressaltou.
Ao ser questionado se antigos adversários políticos estavam preocupados com o discurso, Collor respondeu que achava que não. “Será a verdade. Se a verdade ofender, alguns ficarão incomodados. Mas a verdade, em geral, busca esclarecer, dar uma luz nesse processo político movido contra mim que não é de conhecimento da sociedade”, disse.
O ex-presidente declarou ainda que se acha vítima de um golpe do Congresso. Collor comentou, inclusive, que um livro escrito por ele na época em que foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com 640 páginas e ainda sem data de publicação, foi intitulado de A crônica de um golpe, a versão de quem viveu o fato.
“Um golpe articulado. O ex-ministro Tales Ramalho – ex-ministro do Tribunal de Contas da União –, que me convenceu a publicar o livro, me disse: ‘olhe, a sua queda começou a ser tramada logo após a sua posse’. (...) Ele disse que logo depois da posse, foi chamado para uma reunião com dirigentes de entidades de classe importantes, políticos importantes, e que, ao final do jantar, sentaram-se para tomar um cafezinho, e uma das pessoas disse: ‘vamos ao que interessa, como faremos para derrubar o Collor?’ Aí, o Tales disse ‘vocês estão loucos. Ele foi legitimamente eleito’. E as pessoas mudaram de assunto. O Tales pediu licença e foi embora”, relatou.
Para Collor, o escândalo do mensalão foi muito maior do que o dele, porém, devido a uma base muito sólida, o presidente Lula não foi diretamente afetado. “A grande diferença é que me faltava a base de sustentação”, revelou.
De qualquer forma, Collor afirmou que acredita na inocência de Lula. “Eu acredito na palavra dele, embora isso tenha acontecido a poucos metros da sala presidencial. Acredito nele, porque – o que é um defeito do sistema presidencialista – é impossível saber tudo o que está acontecendo”, disse.
Por fim, Collor foi questionado sobre o que mudou nele de 92 para hoje. “São 14 anos de diferença. Basicamente é uma mudança para qualquer um de nós. É o amadurecimento, a experiência, uma reavaliação da própria vida pessoal, profissional, política. Uma mudança grande, que significa evolução e eu espero que agora, com o mandato que recebi das urnas, possa dar minha contribuição ao debate no Congresso”, finalizou.