Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
7/9/2007 | Atualizado às 9:07
Em entrevista a revista Veja, edição antecipada nesta sexta-feira (7), o advogado Bruno Brito Lins faz novas revelações sobre negócios irregularres entre seu ex-sogro, o lobista Luiz Garcia Coelho, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Bruno Lins afirma ter distribuído propinas e que "entre o fim de março e o início de abril de 2005, fez três saques no BMG, todos por ordem de Luiz Coelho." Os saques, segundo o relato, foram de R$ 300 mil reais, R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão.
A propina, de acordo com a denúncia do advogado, era parte de um negócio intermediado pelo ex-sogro com a direção do banco BMG em troca de alterações nas normas do crédito consignado para aposentados.
"Ele acompanhou de perto as articulações do BMG com seu sogro para viabilizar interesses do banco no Ministério da Previdência – até agora, não se sabe exatamente como o BMG, um peixe pequeno do mercado financeiro, despontou com tanta pujança na liderança do bilionário mercado dos empréstimos consignados do INSS", diz a reportagem de Diego Escosteguy.
Segundo o advogado, o deputado e ex-presidente do INSS, Carlos Bezerra (PMDB-MT), recebeu de suas mãos R$ 150 mil em dinheiro no hotel Metropolitan, em Brasília. "No mesmo dia, por volta das 9 da noite, Luiz me entregou 50.000 numa sacolinha, dessas de presente. Disse: "Dá uma passadinha na casa do Leão (José Roberto Leão, diretor da Dataprev) e deixa esse negócio para ele". Fui à casa do Leão e entreguei a sacola", completa o advogado.
Bruno também diz que Renan era chamado de "chefe" pelo lobista e revela que sua ex-mulher vale-se do cargo de assessora de Renan para marcar audiências para "clientes" do pai com ministros e autoridades do governo.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Quando você soube pela primeira vez da relação de Renan Calheiros com o seu sogro, Luiz Coelho?
No meu casamento. Fiquei sabendo um mês antes que ele seria padrinho, convidado pelo Luiz.
Por que você diz que ele é homem de confiança de Renan Calheiros?
Pelos comentários que ele vivia fazendo, de que o "chefe" estava dando trabalho, estava dando dor de cabeça, que o fazia trabalhar demais. Eu via o que estava acontecendo. Os comentários sobre Renan eram recorrentes.
Ele trabalhava em tempo integral para Renan?
Ele sempre dizia que ia sair para resolver alguma coisa para o Renan, ou para ir à casa do senador.
Como seu sogro se referia a Renan?
Na frente dos outros, ele quase nunca falava o nome do senador. Em casa, Renan era chamado de chefe.
BMG
Quando começaram as negociações entre Luiz Coelho e o BMG?
Antes da posse do senador Renan Calheiros como presidente do Senado, nunca tinham falado de crédito consignado, de nada. Logo depois que Renan tomou posse, as conversas sobre o BMG ficaram freqüentes, só se falava nisso. Aliás, a cúpula do banco chegou a prestigiar a posse do senador. Eu estava lá.
O que se falava?
Eu presenciei conversas e ouvi telefonemas nos quais o pessoal do BMG e o Luiz começaram a confabular para tirar o Amir Lando da Previdência e colocar outra pessoa.
Quem?
Eles falavam que tinham de nomear o senador Romero Jucá.
No começo de março de 2005, um mês depois da posse de Renan e poucos dias antes que Jucá efetivamente assumisse o Ministério da Previdência, como era desejo do grupo, Bruno conta que acompanhou Coelho até o hangar da empresa Líder, no aeroporto de Brasília. "Vamos buscar uns amigos meus", explicou o lobista, segundo o relato de Bruno.
Os dois seguiram no carro de Bruno. No aeroporto, um Omega aguardava os três dirigentes do BMG, que chegaram em um jatinho. Um deles era o presidente do banco, Ricardo Guimarães. Os dirigentes do BMG e Luiz Coelho foram até o gabinete do senador Romero Jucá. "Eles ficaram por volta de uma hora e meia dentro do gabinete", lembra o advogado. De lá, o carro que transportava a cúpula do BMG retornou ao aeroporto.
O que um lobista e três banqueiros foram fazer no gabinete de um senador? "O Luiz não comentou sobre o que se falou lá dentro", diz Bruno. Nos dias que se seguiram, as negociações entre Coelho e o BMG se intensificaram. O advogado conta que o banco queria mudanças na instrução normativa que regulava a concessão do crédito consignado, permitindo o desconto em folha de compras feitas com cartões de crédito.
Durante as conversas sobre as alterações, diretores do banco combinaram de enviar a Luiz Coelho uma cópia da instrução vigente, para que ele se inteirasse do assunto.
Em nota, o BMG sustenta que nunca tratou do tema crédito consignado com Luiz Coelho. Uma intrigante mensagem eletrônica foi enviada a Bruno Lins às 12h42 do dia 16 de março, por Marcus Vinicius Vieira, um dos diretores jurídicos do banco. VEJA teve acesso à mensagem. O e-mail desmente a versão oficial do banco sobre a conversa a respeito do crédito consignado. Dois dias depois da mensagem, em 18 de março, o então presidente do INSS, Carlos Bezerra, assinou uma instrução normativa contendo as alterações que beneficiavam o BMG.
O dinheiro do BMG teve que fim?
Dois ou três dias depois, o Luiz me chamou na casa dele e me pediu para levar 150 000 reais para o Carlos Bezerra, no hotel Metropolitan.
A que horas ocorreu esse encontro?
À tarde. Eu fui sozinho até o hotel. O próprio Carlos Bezerra me atendeu. Estava de calça jeans, sapatos e camisa social. Entreguei a sacola na porta do quarto, ele agradeceu e eu fui embora.
Você fez mais alguma entrega de dinheiro nesse dia?
No mesmo dia, por volta das 9 da noite, Luiz me entregou 50.000 numa sacolinha, dessas de presente. Disse: "Dá uma passadinha na casa do Leão (José Roberto Leão, diretor da Dataprev) e deixa esse negócio para ele". Fui à casa do Leão e entreguei a sacola.
Postalis
Na Páscoa de 2006, Bruno fez uma viagem de carro com o sogro a Arraial d'Ajuda, na Bahia.
O casamento dele com a assessora de Renan já estava degringolando, mas Coelho fez uma proposta ao genro. O lobista confidenciou que estava prestes a entrar num grande negócio e queria que ele coordenasse o início das operações.
O plano de Coelho era construir um resort de luxo em Trancoso, na Bahia, com dinheiro do fundo de pensão dos Correios, o Postalis. O resort custaria 250 milhões de reais, mas a idéia era estimar o investimento em 500 milhões de reais, para que o fundo, ao arcar com aparentemente metade do empreendimento, pagasse tudo. O banco BVA ficaria responsável por avalizar o negócio. Bruno presenciou uma reunião na casa do sogro em que o assunto foi discutido e na qual estavam presentes o presidente do BVA, José Augusto dos Santos, e o então presidente do Postalis. Segundo Bruno, o lobista disse que Renan seria um dos sócios, por causa da influência que o PMDB tinha junto aos fundos de pensão.
O negócio não foi para a frente?
Eles ainda estavam negociando a compra do terreno. O Luiz me contou os planos, me convidou para participar, mas eu não aceitei.
O Renan participaria do negócio?
Meu ex-sogro disse que ele poderia ser um dos sócios.
Bruno Lins conta ainda que esteve com o senador Renan Calheiros no dia 28 de junho passado, no escritório do advogado Eduardo Ferrão. Explica que resolveu procurar o advogado quando começaram a surgir rumores de que suas revelações estariam sendo usadas por um conhecido estelionatário da cidade para extorquir o senador. Estelionatário por coincidência muito conhecido da família Garcia Coelho. Ele diz que foi ao escritório para esclarecer que, pessoalmente, nada tinha contra o senador Calheiros. Explicou ter narrado à polícia as atividades de seu ex-sogro para se defender das ameaças que vinha sofrendo desde que decidiu se separar. Renan ouviu tudo atentamente – e nada falou. Nesta semana, o presidente do Congresso será julgado em plenário pelo envolvimento com Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, lobista que pagava suas despesas pessoais.
Temas
REAÇÃO AO TARIFAÇO
Leia a íntegra do artigo de Lula no New York Times em resposta a Trump
VIOLÊNCIA DE GÊNERO
Filha de Edson Fachin é alvo de hostilidade na UFPR, onde é diretora