O deputado Nelson Trad (PMDB-MS) foi desmentido na noite de segunda-feira (21) pelo programa "humorístico-jornalístico" Custe o Que Custar (CQC), da TV Bandeirantes, a respeito de uma "agressão" que teria sofrido da equipe de reportagem que o abordou nas dependências da Câmara. Na ocasião, em um quadro que simulava a coleta de assinaturas para uma proposta de emenda à Constituição (PEC), a entrevistadora Mônica Iozzi, o produtor e o cinegrafista tiveram de lidar com a ira do peemedebista, que quase quebrou o equipamento de filmagem. Tudo isso porque quiseram saber o que parlamentar acabara de assinar - sem ler o conteúdo: a "PEC da Cachaça", peça fictícia com o propósito de incluir a bebida alcoólica na cesta básica do brasileiro.
No programa veiculado há pouco pela TV Bandeirantes, o apresentador Marcelo Tas advertiu os eleitores de Mato Grosso do Sul para o que viria: o vídeo, sem cortes, a mostrar que a única agressão partiu de Trad - e não de quaisquer dos integrantes do CQC, versão que o próprio deputado levou a alguns veículos da imprensa sul-matogrossense.
"Eu vi a entrevista que ela fez com um colega parlamentar e recusei. Cinco deputados já haviam sido abordados. A repórter me disse 'O senhor assinou um projeto incluindo cachaça no Bolsa Família [sic]'. 'Isso é coisa de moleque', respondi'", disse Trad ao site "Mídia News". "Eu já estava puto e segurei o microfone dela, e ela puxou. Rasgou minha mão e segui com a mão cheia de sangue."
Mas no vídeo exibido na íntegra pelo CQC, é o produtor da reportagem quem se queixa da mão a sangrar. Trad também atinge o rosto de Mônica ao tentar arrancar dela um microfone. O próprio produtor relatou há pouco ao Congresso em Foco detalhes - alguns impublicáveis - do episódio. Em certo momento da confusão, o deputado demonstra com um sonoro palavrão não se importar com a câmera em funcionamento, a registrar sua reação. A reportagem não conseguiu localizar o deputado para comentar o acontecimento.
Veja o vídeo sem cortes:
Apelação parlamentar
Além do deleite dos telespectadores e a agressão de Trad, a simulação da proposta hipotética levou a uma reação institucional. Como este site noticiou em primeira mão na última quarta-feira (16), a brincadeira séria levou o primeiro vice-presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a analisar medidas judiciais contra o programa (leia mais). O petista gaúcho acionou a assessoria jurídica da Casa quanto à observância de dois princípios: o da liberdade de imprensa e o direito do cidadão de autorizar, ou vetar, o uso de sua imagem por programas de TV.
Para fazer a "pegadinha", que demonstrou o descuido de diversos parlamentares - além de Trad, outros deputados não leram e assinaram o documento (veja o vídeo abaixo) -, a equipe do CQC contratou (e bem vestiu) uma mulher para reunir as assinaturas de apoio à PEC. Com a desenvoltura peculiar às moças que realizam a mesma tarefa, a maioria contratada pelos próprios deputados em busca de apoio aos seus projetos, a "atriz" a serviço do programa só não obteve êxito em um caso: depois de ler o teor da matéria, o deputado João Dado (PDT-SP) se recusou a subscrevê-la.
Confira:
"Queria chamar a atenção dos eleitores do Mato Grosso do Sul, esse é o senhor Nelson Trad. (...) Aliás, a mão forte dele é conhecida lá no estado: nós temos o Nelsinho Trad, que é prefeito de Campo Grande; temos o Marquinhos Trad, que é deputado estadual; e temos a excelentíssima esposa do senhor Nelson Trad, que era funcionária do Senado durante cinco anos sem nunca ter botado os pés em Brasília", entregou Marcelo Tas.
"Depois de toda essa história, ainda vem o deputado Marco Maia, do Rio Grande do Sul, que falou que vai enviar para a assessoria jurídica da Câmara um pedido para criar medidas contra o CQC, como se a culpa fosse da gente", emendou o humorista Rafinha Bastos, que ancora o programa ao vivo ao lado de Tas e do também humorista Marco Luque.
"Eles querem impedir que figuras públicas sejam abordadas por jornalistas lá dentro da Câmara dos Deputados. Uma coisa muito bonitinha...", ironizou Tas.