Condenado a 37 anos de prisão por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro, o ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, conhecido como "Comendador", afirmou em depoimento à Polícia Federal, em Cuiabá, que emprestou dinheiro para o ex-governador de Mato Grosso Dante de Oliveira (PSDB) para cobrir gastos de campanha eleitoral.
Arcanjo confirmou o depoimento prestado em abril por Nilson Roberto Teixeira, ex-gerente da Confiança Factoring, empresa de sua propriedade. Os dois acusaram Dante de pegar dinheiro com a empresa e pagar a dívida, referente às eleições de 1998 e 2002, com cheques do Dvop (antigo órgão de obras públicas do governo tucano de 1995 a 2002). De acordo com a Justiça Federal em Mato Grosso, a Confiança Factoring recebeu do Dvop R$ 8,3 milhões de janeiro de 1998 a fevereiro de 2003.
Preso em abril de 2003 no Uruguai, Arcanjo foi extraditado em março passado. Ele é acusado de controlar a exploração de cassinos, caça-níqueis, jogo do bicho e uma rede de pistolagem e de ser o mandante do assassinato do dono do jornal Folha do Estado, Domingos Sávio Brandão, morto em setembro de 2002. Ele será ouvido nos próximos dias pela CPI dos Bingos, que deve enviar uma comitiva a Cuiabá.
Por determinação da Justiça Federal, a PF investiga também se o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que perdeu o governo de Mato Grosso em 2002, também recebeu recursos do bicheiro. O delegado federal Tony Barbosa de Castro, que ouviu Arcanjo, informou que outra pessoa cuida do inquérito sobre a campanha de Antero e, por isso, não teria havido perguntas sobre o senador. "Ele mencionou Antero como um velho conhecido", disse, após o depoimento, o advogado Zaid Arbid, que defende Arcanjo.
O bicheiro afirmou ainda à PF que não participou da negociação de empréstimos com Dante. Segundo ele, os coordenadores de campanha do tucano à época, Carlos Avalone e José Carlos Novelli, discutiam o assunto com Teixeira. Novelli, atual presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso, foi diretor do Dvop, órgão de onde teria saído dinheiro para cobrir os empréstimos de campanha.
Dante e Barros negam
Em entrevista por escrito à Folha de S. Paulo, o ex-governador Dante de Oliveira negou ter operado com João Arcanjo Ribeiro. "Nunca. O sr. Arcanjo jamais contribuiu, seja legal ou ilegalmente, com minhas campanhas eleitorais". "O governo do Estado, na minha gestão, jamais fez empréstimo ou qualquer outro tipo de operação financeira com o sr. Arcanjo ou qualquer uma de suas empresas", reiterou o tucano.