Na véspera do anúncio do candidato tucano à sucessão presidencial, marcado para hoje, o prefeito de São Paulo, José Serra, disse ontem, pela primeira vez, que o seu nome está à disposição do partido para concorrer ao Planalto. O prefeito, porém, jogou a responsabilidade sobre a candidatura para a cúpula partidária ao reafirmar que não aceita disputar prévias.
Segundo ele, a disputa interna, sem aclamação, divide a legenda e favorece o projeto de reeleição de Lula. "Decidi deixar à disposição do partido a minha indicação para disputar a presidência da República, mas sem realização de prévias. Se tiver disputa vamos ter de examinar. Prévias trazem o risco de divisão do partido favorecendo os adversários. E, para ganharmos uma eleição dessa importância, é preciso unidade, união, esforço e humildade. Essa é a posição que apresentarei ao partido", disse.
O partido deve anunciar ainda hoje se lança Serra ou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como candidato à presidência da República.
O governador reafirmou ontem que só desiste se assim for decidido pelo partido após consulta às bases.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de Minas, Aécio Neves, e o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), se reuniram com Serra no restaurante de um hotel em São Paulo, para tentar chegar a uma conclusão. O resultado da reunião não foi divulgado.
A resistência do prefeito até então encontrava explicações na promessa que fizera durante a campanha eleitoral de se manter na prefeitura paulistana até o fim do mandato, no fim de 2008. Serra disse que tomou a decisão também por ter sido convencido por dirigentes tucanos sobre suas chances de vencer o presidente Lula na eleição de outubro.
"Vou me apresentar para a direção do PSDB em razão do fato de que as pesquisas há muitos meses apontam o meu nome como o mais forte para disputar com o presidente Lula este ano", disse o prefeito paulistano.
Governistas não têm voto para adiar prévias no PMDB
A ala governista do PMDB ainda não conseguiu apoio suficiente para adiar as prévias do partido, marcadas para o próximo domingo, e evitar o lançamento imediato de uma candidatura própria ao Palácio do Planalto.
Os pemedebistas contrários à realização das prévias argumentam que o partido deveria aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a manutenção ou não da verticalização nas eleições deste ano, o que só deve ocorrer no dia 22.
Mantida a verticalização, os partidos políticos não podem firmar alianças nas eleições estaduais que contrariem as coligações nacionais. Isso significa que o PMDB, por exemplo, se tiver candidato a presidente, não poderá se aliar nos estados aos partidos que disputarem com seus próprios candidatos, como o PT e o PSDB.
Os governistas, representados pelo presidente do Senado,
Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), ainda não haviam conseguido, até ontem à noite, os seis votos necessários para convocar uma reunião da executiva, na qual tentariam adiar as prévias.
Nessa segunda-feira, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), deu mais um passo rumo às prévias, ao reunir os dois candidatos inscritos - governador Germano Rigotto (RS) e ex-governador Anthony Garotinho - para sortear a ordem em que os nomes deverão aparecer na cédula de votação. Para Temer, principal defensor das prévias, a candidatura própria a presidente é importante para o partido com ou sem verticalização.
"O ideal seria que a gente fizesse um acordo adiando as prévias para depois da decisão do STF. Se a verticalização for mantida e o PMDB tiver candidato próprio, ninguém vai querer se aliar à gente", afirmou o líder do partido no Senado, Ney Suassuna (PB), da ala governista. "Outro acordo poderia ser para que, se as prévias forem mesmo realizadas, que a gente não seja obrigado, na convenção nacional, a homologar o nome escolhido", completou.