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Congresso em Foco
8/12/2005 | Atualizado às 5:08
Ricardo Ramos
A CPI dos Correios cobrará explicações da BBTur sobre o motivo pelo qual os repasses da operadora de viagens para a promotora de eventos Multi-Action, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, aumentaram 13 vezes, entre os anos de 2001 e 2003, sem qualquer cobertura contratual para essas operações. A revelação, publicada ontem com exclusividade pelo Congresso em Foco, surpreendeu os integrantes da comissão durante o depoimento do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato - que alegou também desconhecer esse tipo de transação.
Os dados da quebra de sigilo bancário da Multi-Action apresentaram um aumento nos depósitos da BBTur de R$ 195 mil, em 2001, para R$ 2,68 milhões, em 2003. O Banco do Brasil, que detém toda a participação acionária da operadora de viagens, informou que essa elevação deve-se à promoção de eventos de grande porte, como a "montagem de arenas para campeonatos de vôlei de praia e de estandes em feiras das quais o banco participa". A empresa de Valério, que iniciou as atividades no ano de 2000, jamais assinou contrato com a operadora de viagens.
"Não temos absolutamente nada sobre a BBTur. É uma operação fora do sistema que vinha sendo apurado pela CPI", admitiu ontem o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Segundo ele, a comissão terá de abrir uma nova frente de investigação para ter noção do que realmente ocorreu nesse caso.
Os integrantes da CPI vão pedir esclarecimentos à operadora de viagens sobre a falta de contrato entre ela e a empresa de Valério. Serraglio, inclusive, já pediu aos técnicos da comissão um levantamento sobre quais empresas com participação acionária do Banco do Brasil mantinham ligações comerciais com Valério. Com base nesse pente-fino é que será possível saber se essas operações são irregulares, afirmou.
Dinheiro público
Mesmo assim, o relator da CPI afirmou que as atividades realizadas pela Multi-Action com recursos da BBTur tinham vinculação com o Banco do Brasil e são típicas de quem se valia exclusivamente de dinheiro público. "Nesse caso, essa administração (dos recursos) é tudo uso de dinheiro público", observou. A CPI vai apurar se a operadora de viagens se valeu de um "orçamento indireto" - uma espécie de reserva de caixa - para bancar as despesas da Multi-Action com a promoção desses eventos.
"É mais uma firma (de Valério) de movimentações financeiras intensas", ressaltou o relator-adjunto da CPI, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). "Mais uma linha de serviços pagos e não prestados", completou o tucano.
Inexplicável
Após lerem a reportagem do Congresso em Foco, os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e José Eduardo Cardozo (PT-SP), sub-relator de Contratos da CPI, questionaram o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato se ele tinha conhecimento dos repasses da BBTur à Multi-Action. Nas duas vezes Pizzolato negou saber de qualquer operação desse tipo.
"Não tenho a mínima idéia a respeito disso", respondeu a Cardozo. "A BBTur é uma associada integral do Banco do Brasil, mas tem uma gestão própria e instâncias de decisão e não se reporta ao banco", afirmou, quando perguntado se ele sabia explicar por que não havia contratos.
O sub-relator de Contratos também perguntou ao ex-diretor do BB se ele conhecia "alguma situação" ou "evento em comum" do Banco do Brasil que vinculasse a BBTur à Multi-Action". Assim como em todo o seu depoimento, mais uma vez, Pizzolato foi evasivo: "Eu não tenho essa informação de uma forma precisa".
Mão-dupla
A CPI dos Correios também quer esclarecer o significativo aumento de saídas de recursos das contas de Valério para a BBTur. Dados do sigilo bancário do empresário mineiro obtidos pelo Congresso em Foco mostram que os pagamentos das empresas dele à operadora de viagens do Banco do Brasil cresceram 25 vezes entre 2001 e 2004. Nesse período, o valor dos repasses aumentou de R$ 90 mil para R$ 2,309 milhões (leia mais).
"Essa saída de recursos é tão estranha como o aumento nos depósitos para as contas de Valério", avaliou Cardozo. "Aliás, tudo o que envolve Marcos Valério é suspeito", acrescentou.
O ex-diretor de Marketing disse ser "óbvio" que havia "o interesse do banco de que as suas empresas e as que prestavam serviços para o banco, além de terem contas no Banco do Brasil, usassem os serviços das empresas do Banco do Brasil".
Ele chegou a citar o exemplo da Porto Seguro, que faz seguro de automóveis. "Não era algo impositivo, mas o banco fazia gestão para que as empresas fizessem seguro de veículos nas empresas em que o banco tinha participação".
Para o deputado, o pagamento para a empresa de Valério permanece inexplicável. O sub-relator adiantou que vai conversar nos próximos dias com Serraglio sobre a necessidade de a comissão convocar dirigentes da BBTur para explicar a operação.
Visanet
Para Faria de Sá, a CPI está obrigada a investigar a relação entre as duas empresas. Segundo ele, a comissão precisa saber se o mecanismo utilizado por Valério com a Visanet - empresa administradora dos cartões Visa no país - foi repetido com a BBTur. No mês passado, a CPI divulgou dados sigilosos para provar que o dinheiro pago pelo Banco do Brasil à DNA Propaganda, por campanhas da Visanet, é o mesmo que garantiu o empréstimo de R$ 10 milhões concedido pelo banco BMG à Rogério Lanza Tolentino & Associados, empresa da qual Valério também é sócio. O BB controla cerca de um terço das ações da administradora de cartões.
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