O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, considera que a crise política está apenas agravando um quadro econômico que já era preocupante em razão das altas taxas de juros e da elevada carga tributária, entre outros fatores. "Falta vontade ao governo para um choque de gestão na economia." Essa inércia das autoridades federais, completa, começa a causar desânimo entre os empresários.
Quanto aos desdobramentos das denúncias que atingem tanto o Legislativo quanto o Executivo, ele alerta: "O país não pode parar para assistir ao desenrolar da crise política". A entrevista, a seguir, foi concedida antes do encontro de Skaf e outros 21 representantes do empresariado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na última sexta-feira.
Congresso em Foco - A economia do país já está sofrendo reflexos da crise política? Quais seriam?
Paulo Skaf - A economia do país, na verdade, está vivendo um quadro preocupante já há algum tempo, independentemente da crise política que, claro, agrava o contexto.
"O país não pode parar para assistir ao desenrolar
da crise política. Esse imobilismo é grave e
prejudica, ainda mais, a economia"
Como o senhor vê a situação dos investimentos no país? Estão parados? As parcerias público-privadas ainda não decolaram?
O país não pode parar para assistir ao desenrolar da crise política. Esse imobilismo é grave e prejudica, ainda mais, a economia. Somos um país-continente, com 180 milhões de pessoas que, acima de tudo, querem produzir. Os fatos que geraram a crise política precisam ser investigados, os culpados têm que ser descobertos e punidos, mas, enquanto isso acontece, o Brasil não pode deixar de trabalhar, de buscar o crescimento.
Nas duas últimas semanas, as oscilações no mercado têm indicado certo temor quanto a efeitos da crise na economia, com alta do dólar e perdas na bolsa. A instabilidade política é responsável por isso?
Em certa parte, sim. Mas, a rigor, estamos enfrentando problemas na economia há mais tempo, antes da crise política. Temos que reduzir gastos públicos, diminuir as altas taxas de juros e rever a absurda carga tributária, entre outros fatores.
"Falta vontade ao governo para um
choque de gestão na economia"
O senhor tem reclamado muito da postura do Banco Central de manter os juros altos. Acredita que agora, em meio ao turbilhão das CPIs, o governo vai pressionar o BC a adotar uma política menos conservadora sobre juros?
Uma coisa não deve se submeter à outra. A crise política deve ser tratada no âmbito político e a economia, no campo econômico. Falta vontade ao governo para um choque de gestão na economia.
"Não se trata de agenda mínima, e sim de fazermos
o que é necessário para um crescimento sustentado"
Qual é a agenda mínima de crescimento que o senhor propõe para evitar que a economia fique estagnada por causa da crise política?
Como eu disse antes, precisamos de um choque de gestão na economia. Não se justifica manter as taxas de juros elevadas, o que impede investimentos e crescimento econômico. Não se trata de agenda mínima, e sim de fazermos o que é necessário para um crescimento sustentado.
Até quando pode durar a blindagem da economia brasileira, que vem se beneficiando da estabilidade do mercado internacional?
Já se observa, em razão da taxa de câmbio, um desaquecimento nas exportações brasileiras. Fato, aliás, que já havíamos sinalizado há meses.
"Faltam ações concretas que criem condições
e motivem novos investimentos"
A sondagem da indústria feita pela FGV mostra que aumenta o pessimismo no setor, com o pior resultado nos últimos dois anos. Como o senhor avalia isso?
O empresariado começa a demonstrar desalento. Faltam ações concretas que criem condições e motivem novos investimentos.