O doleiro Carlos Alberto Quaglia afirmou, em depoimento à sub-relatoria de movimentação financeira da CPI dos Correios, que sua empresa, a Natimar, teria recebido "por engano" R$ 6,5 milhões da corretora Bônus-Banval. As duas empresas são suspeitas de terem participado no esquema de repasse de dinheiro operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Quaglia negou conhecer Marcos Valério.
Segundo ele, a Bonus-Banval teria explicado que o depósito milionário resultou de um erro de contábil. Após a descoberta do depósito, o doleiro, então, teria cobrado do sócio da corretora Enivaldo Quadrado que corrigisse o engano. Entretanto, Quadrado teria lhe dito não ser possível retificar o problema, pois a corretora passava por uma auditoria externa.
Para corrigir o erro, Quaglia assinou várias cartas de transferência de valor para a corretora, "sem saber os destinatários". Em tese, essas cartas demonstrariam que os recursos depositados pela Bônus-Banval na conta da Natimar estavam sendo devolvidos.
Segundo ele, a Natimar operava na Bolsa de Valores de São Paulo por intermédio da Bonus-Banval, que, segundo ele, oferecia vantagens para sua empresa não encontradas "em nenhuma corretora".
Desde março deste ano, contudo, a Natimar não fez mais operações com a Bonus-Banval, afirmou o doleiro. Mesmo assim, a empresa catarinense recebeu em junho 78 cartas de transferência da corretora, que, segundo Quaglia, não foram assinadas.
O sub-relator da comissão, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), questionou Quaglia qual seria a vantagem de a Bonus-Banval usar a Natimar para movimentar recursos. Segundo Quaglia, a vantagem seria "lavar dinheiro". "Para isso, a Natimar caiu como uma luva", afirmou.
Após as investigações da CPI e as revelações da imprensa, o doleiro percebeu que a Bonus-Banval utilizava as contas da Natimar indevidamente. "Foi uma utilização criminosa da Natimar", acusou. "Não é a primeira vez que uma corretora faz transferências internas entre contas de clientes."
Quaglia admitiu conhecer o doleiro Toninho da Barcelona, que teria feito movimentações para o PT. O depoente também disse ser amigo pessoal do doleiro uruguaio Najun Turner desde março deste ano, após ser condenado em 2004 a dez anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro brasileiro.
Quaglia contou que foi assessorado durante bastante tempo por Turner, que tem "muito mais conhecimento" do mercado financeiro. Turner depõe neste momento na CPI.