Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
21/8/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:32
Mas ser apenas cidadão não é ruim.
A palavra cidadão é usada de forma respeitosa, hoje em dia, graças à reflexão de pesquisadores e gestores públicos, iniciada quase 20 anos atrás.
No início dos anos 2000, seminários organizados na Universidade de Brasília, pelo Grupo de Estudos em Ergonomia Aplicada ao Setor Público (ErgoPublic), serviram de ponto de encontro para gestores dos serviços de atendimento de órgãos públicos. Um dos pontos mais discutidos foi, exatamente, qual a melhor palavra para se designar os usuários dos serviços públicos. Havia franco diálogo entre o ErgoPublic (coordenado pelo Professor Mário César Ferreira) e o recém-nascido Programa Gespública (formalizado em 2005, encerrado em 2017, coordenado pelo gestor Paulo Daniel). A discussão, portanto, não se restringiu ao ambiente acadêmico.
Na época, falava-se em "foco no cliente". Mas os gestores admitiam que havia problemas em chamar o usuário do serviço público de "cliente" - afinal, o usuário de serviços públicos não estão ali comprando coisas. A palavra "usuário" também ganhou rápida antipatia.
E se chamássemos o usuário de serviços públicos de "cidadão"? Ficaria bom?
Cidadão é quem tem direitos políticos, como diz a Constituição Federal. Mas também é mais do que isso. Cidadão também é contribuinte e, como contribuinte, ele deveria ser tratado como um acionista do Estado, não é? Talvez sim, mas esse acionista não pode se colocar acima das leis. Além disso, o servidor público que presta o atendimento também é um cidadão, também é acionista do Estado, está no mesmo patamar de importância. Não pode um cidadão exigir respeito sem respeitar a cidadania do outro.
O contexto da discussão era atendimento ao público, mas também se aplica a guardas tentando aplicar multas.
Qual é a conclusão?
A conclusão é que a palavra cidadão é a correta para designar a todos. Não é à toa que ela passou a ser usada como padrão nos sites governamentais e nas comunicações de governo. Ela indica uma pessoa que é contribuinte, tem direitos políticos, mas também cumpre regras. O Estado não separar cidadãos por segmentos de importância. Não há amigos do rei.
Quando um fiscal chama alguém de cidadão, está reforçando o ideal de tratamento igualitário a todos, sem distinção. O fiscal provavelmente aprendeu a usar essa palavra em cursos de formação no setor público, pois é nesses cursos que a importância dessa palavra passou a ser ensinada.
Mas ainda não é fácil ser tratado como cidadão. Quem se acha um über-cidadão precisa se acostumar com a ideia de, numa democracia, ser tão importante quanto qualquer outro cidadão. E há também o outro lado: infelizmente, muitos brasileiros não recebem o tratamento digno que merecem, por conta de preconceitos enraizados por cor da pele e classe social. Há muito o que se corrigir para a igualdade de tratamento não virar letra morta em nossas leis.
*Thiago Carneiro é Doutor em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília com a pesquisa Engajamento Político: Participação Política no Brasil e na Suécia, predito por Estereótipos sobre Parlamentares, Educação Política e Contágio Comportamental.

Temas
Segurança pública
PSB destitui advogados da ADPF das Favelas e é alvo de nota de repúdio
SEGURANÇA PÚBLICA
Hugo Motta quer usar arrecadação das bets para financiar segurança
SEGURANÇA PÚBLICA
Hugo Motta: Câmara vai priorizar PEC da Segurança e projeto antifacção