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Sérgio Moro deve estrear nas urnas nestas eleições pelo estado de São Paulo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.
As discussões judiciais em torno do embate entre Jair Bolsonaro e Sergio Moro que entraram na agenda política brasileira estão obscurecendo a questão principal: que razões levaram o presidente a atropelar sem piedade o seu mais popular ministro? O que está por detrás da insistência dele em pedir a cabeça do ex-diretor da Política Federal? Há um motivo forte para o presidente ter se exposto tanto, desgastando ainda mais a credibilidade de seu governo em meio a uma crise nacional sem precedentes provocada pela disseminação da covid-19 e pela paralisação parcial da economia.
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O motivo da demissão de Moro não pode ser creditada ao temperamento intempestivo do presidente. Há razões mais graves que precisam ser retomadas pela agenda da mídia e da política nacional.
Que motivos são estes? O que levou o presidente a um ato radical, consciente dos riscos políticos? Bolsonaro foi informado que as apurações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News e, principalmente, do inquérito do STF sobre o mesmo tema, com a colaboração da Polícia Federal, envolvem diretamente membros da ‘famiglia’ presidencial. O esquema de disseminação fraudulenta de notícias, denunciado já na campanha eleitoral, continuou ativo após a posse de Bolsonaro.
A milícia digital atua maquiavelicamente no Gabinete do Ódio, instalado no terceiro andar da Presidência da República, bem ao lado do gabinete do presidente. Financiado em parte pelos cofres públicos, pois os disseminadores das falsas notícias são assessores pagos por verba oficial que utilizam gabinetes, equipamentos e serviços oficiais.
O senador Angelo Coronel (PSD-BA), presidente da CPMI do Congresso, revelou que o Facebook e o WhatsApp já lhe entregaram o número dos IPs das máquinas suspeitas. O IP (Internet Protocol) é um rótulo numérico que permite o rastreamento de cada dispositivo conectado à rede. Com este número, é possível identificar de onde partiram as fake news. Eles já estão de posse da Polícia Federal.
O jornalista Vicente Nunes, do Correio Braziliense, revelou na última semana que a PF já tem também os nomes dos empresários que financiam a máfia digital. Ou seja, o cerco à ‘famiglia' Bolsonaro está se estreitando. Não é só a família Bolsonaro que está alarmada. Muitos deputados que atuam em parceria com o Gabinete do Ódio sabem que seus nomes estão na iminência de serem revelados e cobraram ao presidente a mudança na PF. O final do Inquérito do STF está previsto para o próximo mês de maio, quando deverá ser enviado ao Ministério Público.
Os empresários financiadores que bancam as despesas com os robôs que fazem as postagens automáticas nas redes também já foram identificados pela PF. O custo mensal das operações do núcleo está estimado em R$ 5 milhões. Além do financiamento de uma atividade ilegal, parece também haver evasão de divisas e sonegação. Bolsonaro sabe que quando os resultados do inquérito forem revelados, o estrago será grande. Ele tinha seus motivos para pedir a cabeça do diretor da PF.
Não é segredo para ninguém, a mídia já divulgou amplamente: o Gabinete do Ódio está estrategicamente instalado no terceiro andar do Palácio do Planalto, como denunciou em dezembro do ano passado a ex-fanática bolsonarista, deputada Joice Hasselmann, ex-lider do governo na Câmara. Ressentida com os ataques recebidos, ela botou o dedo na ferida em seu depoimento na CPMI: na Assessoria Especial da Presidência funciona o núcleo ideológico do bolsonarismo. Além de relatórios que fazem a cabeça do presidente, é de lá que partem os torpedos contra todos os que caem na antipatia do vereador Carlos Bolsonaro. É de lá que partem as intrusões aos multiplicadores das redes sociais e aos organizadores dos eventos de rua, como a recente manifestação contra o Legislativo e o Judiciário em Brasília.