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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Luiz G. Motta
28/4/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:37
Carlos identifica quem são os alvos, a equipe faz o resto. Embora resida no Rio, ele frequenta rotineiramente o gabinete do terceiro andar. Seu guru e inspirador ideológico é o controvertido Olavo de Carvalho, que Carlos já visitou algumas vezes. Muito provavelmente, a eficiente estrutura foi organizada conforme o modelo indicado por Steve Bannon, maquiavélico marqueteiro de Donald Trump. Carlos Bolsonaro esteve pessoalmente com ele durante a campanha, em companhia de Olavo de Carvalho.
O Gabinete do Ódio não é um núcleo ideológico apenas, atua agressivamente como uma milícia digital. Para isso, mantém uma sofisticada estrutura profissional que trabalha 24 horas por dia. De lá que partem os petardos contra todos que - segundo Carlos Bolsonaro e seus assessores - são empecilhos à hegemonia absoluta do bolsonarismo no governo. Recentemente uma escalada de notícias foi disparada contra Tereza Cristina, ministra da Agricultura, porque ela não gostou dos ataques à China, principal compradora de produtos agropecuários brasileiros. Ela atribuiu o ataque ao Gabinete do Ódio. O presidente do Senado Davi Alocumbre, e da Câmara Rodrigo Maia, ambos do DEM (partido de apoio ao governo), também são alvos constantes.
Conforme a mídia já divulgou, há três assessores especiais: Tercio Arnaud Soares, José Mateus Sales Gomes e Mateos Matos Diniz (este último está formalmente lotado na Secretaria de Imprensa). O chefe da Assessoria Especial de Bolsonaro Célio Faria Junior também participa das discussões e decisões. Além do assessor dele, Leonardo R. de Jesus, o Léo Índio, que zelosamente vigia a 'infiltração de comunistas' na hierarquia do governo.
Felipe Martins, assessor do deputado Eduardo Bolsonaro, costuma passar por lá e orientar ações. Duas profissionais estrategistas de 'inteligência' e comunicação digital da empresa AM4, que trabalharam na campanha eleitoral, faziam o trabalho executivo em posições subordinadas. Ambas foram afastadas no ano passado. A empresa é especializada em "posicionar marcas no ambiente digital e ajudá-las a atingir seus objetivos". Em seu site oficial, a AM4 se idêntica como um lobo-guará: "enxergamos mais longe e temos a velocidade".
A CPMI das Fake News do Congresso Nacional teve recentemente seu prazo prorrogado por mais seis meses. Seu presidente já disse que convocará o ex-ministro Sergio Moro para depor. O inquérito do STF corre em sigilo, e sua conclusão está prevista para o próximo mês de maio, quando deve ser enviado ao Ministério Público. A legalidade do inquérito foi questionada por 'vício de origem': partiu do próprio STF e não da Polícia Federal ou do Ministério Público, como de praxe. Mas a Polícia Federal já avançou muito nas investigações para voltar atrás.
A ex-Procuradora Geral da República Raquel Dodge pediu o arquivamento do inquérito, mas o atual procurador Augusto Aras mudou a estratégia, recomendou o andamento do inquérito e passou a ter acesso ao seu conteúdo. No final do ano passado o relator Ministro Alexandre de Moraes do STF adotou como estratégia desmembrar o inquérito enviando partes dele à Policia Federal a fim de colocá-lo no rito processual normal. Juízes e procuradores do Ministério Público que receberam inquéritos parciais, entretanto, mandaram arquivar os processos considerados ilegais.
Tudo caminhava para um impasse jurídico. Mas a intempestiva demissão do Ministro da Justiça Sergio Moro com o objetivo de proteger a 'famiglia' Bolsonaro recolocou o inquérito na ordem do dia. Precavendo-se com a troca na direção da PF, o Ministro Alexandre de Moraes já expediu ordem para que os delegados que tocam o inquérito sejam mantidos. A agressiva ação do presidente contra Moro deixa claro que a revelação do conteúdo das investigações será devastadora. Os inquéritos ganharam incontestável dimensão política. Quem são os milicianos digitais? Quem são os deputados que lhes dão apoio? Quem são os empresários financiadores? A opinião pública aguarda ansiosamente os resultados da investigações.

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