ÉPOCA
As urnas e os passaportes
A disputa eleitoral na Espanha é a verdadeira razão da repatriação recorde de brasileiros no aeroporto de Madri.
O rigor excessivo com que a Espanha tem tratado os brasileiros que escolhem o país como porta de entrada da Europa produziu na semana passada uma crise diplomática inédita. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou “profundo desagrado” com mais um episódio em que brasileiros foram barrados pelas autoridades de imigração ainda no aeroporto de Madri. “Em diplomacia, as palavras têm peso”, diz uma autoridade do Itamaraty. “Falar em ‘profundo desagrado’ equivale a dizer que é inaceitável”. O tom severo usado por Amorim é uma resposta à política restritiva adotada pela Espanha nos últimos meses. Em 2007, cerca de 3 mil brasileiros foram impedidos de entrar no país. No início de fevereiro, Amorim procurou as autoridades espanholas para cobrar explicações. Não adiantou. Só no mês passado, a Espanha barrou 452 brasileiros. Agora, além de endurecer o discurso, o Brasil parece querer dar o troco. Sete turistas espanhóis foram repatriados quando tentavam entrar no aeroporto de Salvador, na Bahia.
Por trás das restrições impostas pelas autoridades espanholas em relação à entrada de estrangeiros está o momento delicado da política do país. As eleições deste domingo colocaram na agenda o tema da imigração. A Espanha quer impedir a entrada de mão-de-obra barata, sobretudo vinda de países latino-americanos e da África. Os dois candidatos ao cargo de primeiro-ministro, o socialista José Luis Zapatero (que concorre à reeleição) e o conservador Mariano Rajoy, prometem criar 2 milhões de empregos. Imigrantes ilegais seriam um obstáculo ao cumprimento dessa promessa.
Ele tem chance?
Fernando Gabeira, novo candidato a prefeito do Rio, fez sua carreira política apoiando minorias como dependentes de drogas, prostitutas e gays. Agora, só ganha se conquistar a maioria
Fernando Gabeira costuma ser um homem antenado com as novidades do seu tempo. No final dos anos 60, auge da rebeldia política da juventude, foi guerrilheiro na luta contra a ditadura militar. Em 1979, de volta do exílio, usou uma tanga de crochê, tomada de empréstimo de uma prima, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, e transformou-a em símbolo da abertura política e de novos comportamentos. Nas décadas de 80 e 90, quando pouca gente dava atenção à Amazônia, Gabeira fundou e ajudou a consolidar o movimento ambientalista no Brasil. Foi eleito deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro em 2002 na onda que levou Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Desligou-se do partido antes do escândalo do mensalão. Em 2005, enquanto os petistas eram execrados publicamente, virou referência da luta pela ética ao acusar, com dedo em riste, o então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, de ser um “desastre para o país”. Na semana passada, Gabeira anunciou sua entrada na disputa pela prefeitura do Rio. Esta promete ser uma empreitada tão polêmica quanto as demais em que ele se envolveu até agora.
O aliado é o rival
Na disputa contra Alckmin em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, pode contar com um inesperado – e discreto – apoio do PT.
Já aconteceu um pouco de tudo neste início de corrida pela Prefeitura de São Paulo. O governador José Serra (PSDB) preferia que seu partido abrisse mão de ter candidato próprio para apoiar a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Quando parecia que os tucanos seguiriam essa orientação, o ex-governador Geraldo Alckmin, vendo que tinha chance nas pesquisas, decidiu ser o candidato do PSDB. Quando todos imaginaram que Kassab poderia então sair de cena para deixar os tucanos à vontade, ele resolveu tentar a reeleição. Agora está claro que a aliança entre o PSDB e o DEM, planejada por Serra como trunfo para sua candidatura à Presidência em 2010, não se realizará em São Paulo.
O mais inesperado, no entanto, é o papel que o PT, partido rival de democratas e tucanos no cenário nacional, pode desempenhar nesse racha. Longe do público, lideranças do PT em São Paulo têm discutido formas de ajudar Kassab na disputa contra Alckmin. Nada a favor de Kassab. O objetivo do PT é enfraquecer Alckmin, o candidato mais forte na disputa segundo as pesquisas mais recentes. De acordo com o Datafolha, Alckmin vence todos os adversários num eventual segundo turno. A provável candidata do PT, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, só tem chance de vitória se o adversário for Kassab.
VEJA
Por que Chávez quer a guerra
O uso das Farc para desestabilizar a região tem um entrave: a Colômbia está vencendo o terror.
O destempero verbal é uma característica dos caudilhos fanfarrões e, na maior parte das vezes, não deve ser tomado ao pé da letra. A saraivada de insultos e ameaças disparados por Hugo Chávez contra o governo da Colômbia pertence a uma dimensão mais perigosa – aquela na qual trafega o projeto de poder totalitário da esquerda radical na América Latina, único lugar do mundo onde essas sandices que envenenaram o século XX ainda parecem ter algum fôlego. A verborragia do presidente venezuelano é um elemento da estratégia de fomentar tensões na região. Caso os colombianos caíssem na armadilha de reagir à mobilização de tropas venezuelanas, na semana passada, Chávez talvez tivesse conseguido o que queria. Ele desejava uma escalada militar. Nas sombras, por procuração, Chávez já se envolveu na luta armada contra o governo democrático do país vizinho. O governo chavista é hoje o principal patrocinador político e financeiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A esquerda radical da América Latina, liderada por Chávez, sonha usar essa organização, cuja especialidade são os seqüestros e o narcotráfico, para criar um clima de guerra que cause a desestabilização dos governos democráticos do continente. Ironicamente, a oportunidade para tocar esse projeto foi fornecida por uma nova derrota do terrorismo.
Na madrugada de sábado, primeiro dia de março, um ataque aéreo colombiano devastou um acampamento das Farc instalado nas matas do Equador, a menos de 2 quilômetros da fronteira com a Colômbia. O bombardeio matou Raúl Reyes, o segundo na hierarquia da organização, e 22 de seus companheiros. Reyes era um dos sete membros do secretariado, o comando central das Farc. Dos escombros do acampamento, os militares colombianos recolheram o corpo do chefe terrorista e três computadores portáteis cujo conteúdo se revelou explosivo. Nos arquivos digitais estava a correspondência interna da organização. Nela se pode ler que Chávez entregou ou iria entregar 300 milhões de dólares ao terror e que eram excelentes as relações com o governo do presidente do Equador, Rafael Correa.
Sistema de Pernambuco aplica princípios empresariais na educação
Um lugar sob o comando de "gestores", onde os funcionários são orientados por metas, têm o desempenho avaliado dia a dia e recebem prêmios em dinheiro pela eficiência na execução de suas tarefas, pode parecer tudo – menos uma escola pública brasileira. Pois essas são algumas das práticas implantadas com sucesso em um grupo de colégios estaduais de ensino médio de Pernambuco. A experiência não chama atenção exatamente por seu tamanho – ao todo, são 33 escolas do gênero, com 15 000 alunos –, mas, sim, pelo impressionante progresso dos estudantes depois que ingressaram ali.
Como é praxe no local, o avanço foi quantificado. Os alunos são testados na entrada, e quase metade deles tirou zero em matemática e notas de 1 a 2 em português. Isso numa escala de zero a 10. Depois de três anos, eles cravaram 6 em tais matérias, em uma prova aplicada pelo Ministério da Educação (MEC). Em poucas escolas públicas brasileiras a média foi tão alta – o que despertou o interesse de especialistas. De saída, há uma característica que as distingue das demais: elas são administradas por uma parceria entre o governo e uma associação formada por empresários da região. Daí as semelhanças com o mundo corporativo. Resume Thereza Barreto, diretora de uma das escolas: "Como qualquer administrador à frente de uma organização, preciso entregar resultados. Neste caso, alunos bem formados".