"A rua hoje é virtual", diz Cristovam Buarque

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Daniela Lima

"O Congresso que o site deseja é também o Congresso que queremos". A afirmação é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), em apoio a editorial publicado pelo Congresso em Foco, na última segunda-feira (27). No texto, elogiado pelo senador, este site reiterou o compromisso com a defesa de um Parlamento mais transparente e atento aos anseios da sociedade. "Se engana o parlamentar que acha que a população não está mobilizada. A rua agora é virtual", declarou o parlamentar, em entrevista.
 
Em nota enviada à redação, o pedetista cumprimentou o trabalho feito pelo site com as revelações sobre abusos no uso das cotas de passagens aéreas. "Parabenizo o site Congresso em Foco pelo seu trabalho que, não tenho dúvida, é feito em defesa do Poder Legislativo como instituição", afirmou o senador.
 
Cristovam, que chegou a levantar na tribuna do plenário a possibilidade de se sugerir um plebiscito sobre o funcionamento do Congresso, disse ainda que enxerga o Parlamento federal como uma Casa "talvez, hoje 'fechada' na prática, por conta de seus problemas e do distanciamento com os reais anseios da sociedade brasileira."
 
O senador ressaltou que o Congresso atravessa uma "crise de confiança", e que isso está provocando dois fenômenos que ameaçam a democracia: a descrença da opinião pública e a perda do entusiasmo dos jovens pela vida pública. "Independente da vontade dos parlamentares, estamos sendo obrigados a lidar cada vez com mais transparência", disse.
 
Cristovam aponta na nota o que, acredita, seriam ações capazes de conter a crise do Legislativo: a transparência em todos os atos, gestos e gastos públicos, aumento da produtividade, mudança no comportamento dos parlamentares - que, avalia o senador, não parlamentam -, e um reencontro com o que ele chama de "agenda do povo", debatendo temas de real interesse da população. "A minha sugestão ao presidente (José Sarney) foi de que o uso das passagens fosse divulgado diariamente, como o nome do beneficiário, o destino e o valor do bilhete", revelou.
 
"O Brasil espera de nós mais do que estancar escândalos. Quer que demonstremos nosso poder de mudar o país, fazendo um congresso que orgulhe a todos os brasileiros", finaliza o senador do DF.

Leia a seguir a íntegra da nota enviada por Cristovam Buarque ao Congresso em Foco.
 
"Parabenizo o site Congresso em Foco pelo seu trabalho que, não tenho dúvida, é feito em defesa do Poder Legislativo como instituição, jamais contra ele. O Congresso que o site deseja é também o Congresso que queremos. Quando levantei há algumas semanas a polêmica de que talvez alguém pudesse vir a sugerir um plebiscito sobre o funcionamento do Congresso, o que queria não era fechar o Poder Legislativo, como muitos interpretaram. Era, ao contrário, abrir o Congresso. Um Congresso, talvez, hoje "fechado" na prática, por conta de seus problemas e do distanciamento com os reais anseios da sociedade brasileira.

A atual crise de confiança que atravessa o Congresso está provocando dois fenômenos que ameaçam a democracia: a descrença da opinião pública e a perda do entusiasmo dos jovens pela vida pública. Por isso, nós que fazemos parte do Parlamento de hoje, nós que somos o centro dos escândalos, temos de pensar não só na honra pessoal ameaçada, mas também na nossa responsabilidade com a consolidação da democracia. Tenho dito que a crise do Congresso se resolveria com quatro ações.

Primeiro, precisamos entender nossa culpa e responsabilidade. Mesmo que a imprensa possa exagerar - o que de modo algum é o caso do site Congresso em Foco -, a notícia é sempre despertada, nunca inventada. Por isso, a primeira ação deve ser garantir transparência em todos os atos, gestos e gastos. Não se comete crime e pecado do lado de lá de um vidro limpo, sob o olhar do público.

A segunda ação é aumentar nossa produtividade. O que mais deve incomodar a opinião pública é o fato de não ver, ao lado das notícias dos escândalos, o resultado concreto do nosso trabalho para melhorar o dia-a-dia do povo brasileiro. Estamos ficando um poder irrelevante diante das Medidas Provisórias e das decisões judiciais, espremidos entre o Executivo e o Judiciário. Por nossa ausência, Executivo e Judiciário se assenhorearam do poder de toda a República.

Em terceiro lugar, temos de mudar radicalmente nosso comportamento. É impossível ter poder parlamentar quando se fica apenas dois dias por semana no Congresso, não mais que poucas horas no plenário, raríssimas vezes em sessões plenárias e nunca em sessões nas quais dialoguemos, discutamos, parlamentemos. O maior de todos os escândalos é o fato de que, no Brasil de hoje, nós parlamentares, não parlamentamos.

Finalmente, precisamos renovar o compromisso com a agenda do povo. Gastamos muito tempo debatendo generalidades, quando o Brasil enfrenta uma crise estrutural e outra conjuntural. O Brasil espera de nós mais do que estancar escândalos. Quer que demonstremos nosso poder de mudar o país, fazendo um Congresso que orgulhe a todos os brasileiros."