O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) desempenhou um papel inusitado durante protesto público que um grupo de ativistas realizou na tarde de ontem (segunda, 20) contra a absolvição do coronel Ubiratan Guimarães, da Polícia Militar de São Paulo.
Em 2001, o militar havia sido condenado a 632 anos de prisão pela morte de 102 dos 111 prisioneiros assassinados no episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru, ocorrido em 1992 na administração do atual deputado federal Luiz Antonio Fleury (PTB-SP). Na última quarta-feira, porém, Guimarães foi absolvido, por decisão de 20 dos 22 desembargadores presentes à sessão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Depois de discursarem na escadaria da catedral da Sé, na capital paulista, Suplicy e os manifestantes - ligados a cerca de 30 entidades de defesa dos direitos humanos - se deitaram em frente ao TJSP, em memória dos 111 detentos mortos. Cada um deles segurava um cartaz com o nome de um dos prisioneiros assassinados.
Na manifestação, o presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, Hélio Bicudo, informou que pedirá a interferência da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). "Vamos pedir a ela que leve o caso para a Assembléia Geral dos Estados Interamericanos e que, examinando o episódio, imponha ou não sanções ao Estado brasileiro", afirmou Bicudo, segundo relato da Agência Brasil.
Conforme o coordenador do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, "no Brasil, para ficar impune basta cometer um massacre". As entidades que participaram do protesto divulgaram nota dizendo que o argumento aceito pelo TJSP para absolver o coronel Guimarães - ter agido no estrito cumprimento do dever legal - foi o mesmo que o famoso Tribunal de Nuremberg recusou ao decidir não inocentar os criminosos dos campos de concentração nazista.