Após os depoimentos do delegado Benedito Antônio Valencise e do motorista Francisco das Chagas Costa à CPI dos Bingos, uma nova testemunha desmente o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, revela a edição de hoje de O Estado de S. Paulo. Em entrevista à repórter Rosa Costa, Francenildo Santos Costa, caseiro da mansão freqüentada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, por amigos e assessores que acompanham o ministro desde que ele era prefeito de Ribeirão Preto, complicou ainda mais a situação de Palocci.
Nildo, como é mais conhecido, contou que a casa, alugada por Vladimir Poleto, ex-assessor da prefeitura, era usada para partilha de dinheiro. Segundo o caseiro, Palocci era freqüentador assíduo do local, onde todos o chamavam de "chefe". Também aparecia por lá, com assiduidade até maior que Palocci, seu secretário particular, Ademirson Ariosvaldo da Silva.
De acordo com Nildo, cuja função era vigiar e limpar o local, a mansão era palco de reuniões para organizar a distribuição de dinheiro por Brasília, além de festas animadas por garotas de programa, agenciadas, muitas vezes, por Jeany Mary Corner.
Nildo disse ter visto malas e maços do dinheiro administrado por Poleto. Na entrevista, ele conta que, numa ocasião, testemunhou quando Costa, o motorista, teria entregado um envelope com reais a Ademirson, no estacionamento do Ministério da Fazenda. O caseiro afirmou que Costa, sempre por orientação de Poleto, fazia entregas de dinheiro com freqüência.
Segundo Nildo, o dinheiro era enviado de São Paulo mensalmente por Rogério Buratti, secretário de Governo de Ribeirão na primeira gestão de Palocci. Uma parte do dinheiro custeava as despesas de manutenção do imóvel e pagava os serviços dos empregados e as festas. O restante seria distribuído entre os membros da república de Ribeirão. "Eu via as notas. Vi pacotes de R$ 100 e de R$ 50 na mala do Vladimir", afirmou o caseiro ao Estadão.
Poleto costumava carregar maços de reais numa mala e pagava tudo com dinheiro vivo, até mesmo o aluguel dos seis primeiros meses da casa, num total de R$ 60 mil, afirmou. Segundo o caseiro, Palocci esteve no imóvel "umas 10 ou 20 vezes". Chegava quase sempre sozinho, dirigindo um Peugeot prata de vidros escuros - o mesmo usado por Ralph Barquete, secretário de Finanças de Palocci na prefeitura de Ribeirão e posteriormente assessor da presidência da Caixa Econômica Federal. Barquete morreu em junho de 2004, de câncer.
De acordo com o caseiro, sempre que Palocci ia à casa, os integrantes do grupo de Ribeirão eram alertados por um telefonema de Ademirson. "Olha, o chefe vem hoje", diziam. Palocci, contou o caseiro, pedia que as luzes do portão ficassem apagadas para que ninguém o visse.
O testemunho de Nildo, somado ao depoimento do motorista à CPI, derruba a versão sustentada pelo ministro de que não tinha mais convivência com a chamada república de Ribeirão Preto após a sua vinda para Brasília.
A manutenção da proximidade com esses personagens, já como ministro, reforça a posição do Ministério Público de Ribeirão, para o qual Palocci estava comprometido com o esquema de corrupção na prefeitura. Na semana passada, o delegado Valencise acusou Palocci, também na CPI, de ter comandado um esquema de fraude nos contratos de coleta de lixo.
Por meio de sua assessoria, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reiterou ao Estadão o que disse à CPI dos Bingos: "Nunca foi à casa do Lago Sul e, portanto, não tem qualquer relação com as atividades realizadas na mesma". O ministro afirma que o caseiro da mansão do Lago Sul e o motorista Francisco das Chagas Costa, que disse na semana passada tê-lo visto na casa, "não estão falando a verdade". O caseiro, mais uma vez, contestou o ministro. "Do lado dele, eu não sou nada, mas ele está mentindo", reforçou Nildo.