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Crise
12/6/2025 10:18
O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro nesta terça, 10/6, como réu em um processo que pode condená-lo a muitos anos de cadeia, deixou a sensação que o bolsonarismo arregou. Em horas de depoimento transmitidas ao vivo pela TV Justiça, Bolsonaro chamou apoiadores de "malucos", disse que Lula tem "coração muito grande" e pediu "desculpas" ao Supremo Tribunal Federal. Toda a valentia contra as instituições? Era "retórica".
A impressão é que ele se queimou com alguns segmentos que até então o acompanhavam, confiantes na sua liderança. Os bolsonaristas mais aguerridos, mais violentos, estão em silêncio. Bolsonaro decepcionou as expectativas depositadas, se apequenou no desespero para salvar a própria pele, diante de um juiz tranquilo e das fartas provas oriundas da investigação da Polícia Federal, que levaram a Procuradoria-Geral da República a apontá-lo como "líder da quadrilha".
O contraste - que virou meme nas redes sociais - entre ele, vociferando contra Alexandre Moraes na Av. Paulista e a figura do mentiroso covarde, pedindo desculpas e procurando agradar a um juiz firme e destemido, pode ter sido fatal. Para essa gente que cultiva uma postura machista, agressiva, não sobrou nada para reforçar a imagem de um comandante valente que cuida dos seus comandados e dos ideais do grupo. Sobrou até para o advogado de defesa: "foi ele quem imprimiu [o discurso incendiário]", apontou Bolsonaro, como um colegial medroso, pego no flagra.
Para os ferozes apoiadores, que arrancaram cruzes fincadas nas areias de Copacabana em um ato pacífico em memória aos mortos pela Covid-19 ou quebraram placas com o nome de Marielle, Bolsonaro arregou. Mostrou-se submisso e preocupado exclusivamente em salvar a própria pele. Nessa busca, não vacilou em chamar seus adeptos de "malucos".
O silêncio ecoava na Praça dos Três Poderes. Chamou a atenção o fato de não ter ninguém do lado de fora como apoio. Certamente, Bolsonaro ainda tem muitos seguidores. Além de oportunistas que procuram a melhor hora de abandonar o navio com algum pedaço do butim, há os ingênuos ou gente com distúrbios afetivos e cognitivos. Esses, órfãos do modelo de líder valentão, machista e autoritário, parecem caídos, ainda que momentaneamente, numa melancólica apatia.
O "imbrochável" brochou. Foi ferido de morte e não mais se levantará. Ingênuos ou fanáticos não são bons para organizar o rebanho. Restam as velhas e novas raposas, à espreita do butim do bolsonarismo. É preciso superar essa experiência distópica e voltar a discutir temas de interesse da população e do país que desejamos construir. É preciso defender a nossa frágil democracia da voracidade do mercado e trilhar um caminho onde o bem estar da população, a saúde, a justiça social e a responsabilidade ambiental sejam o centro da dinâmica econômica do país.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].