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Saúde
7/8/2025 18:00
O Brasil tem uma indústria de dispositivos médicos com tecnologia, qualidade e capacidade crescente para atender as demandas de saúde do país. Exportamos para o mundo, geramos empregos e desenvolvemos soluções inovadoras. Ainda assim, ano após ano, estamos perdendo espaço no nosso próprio mercado.
Em 2024, o setor alcançou R$ 26,1 bilhões em produção, com crescimento mesmo diante de um cenário desafiador. Mas o mercado interno cresceu ainda mais, e o espaço que era ocupado por produtos brasileiros foi sendo tomado por importados. A participação da indústria nacional no total consumido no país caiu para 35,8% - em 2021, era 44%. Ou seja: estamos produzindo mais, mas ficando com uma fatia menor do mercado.
Esse movimento fica claro quando olhamos o chamado consumo aparente, que nada mais é do que o total necessário para abastecer o país. Ou seja, o que foi produzido aqui, somado ao que foi importado, menos o que foi exportado. É uma medida que mostra a demanda real do Brasil por dispositivos médicos. Em 2024, esse volume chegou a R$ 72,8 bilhões.
Boa parte deste crescimento vem sendo atendida pela importação. Em 2024, o Brasil importou o equivalente a US$ 9,8 bilhões em dispositivos médicos, quase R$ 53 bilhões considerando o câmbio médio do ano. A conta não fecha: enquanto investimos tanto para desenvolver e modernizar a indústria nacional, continuamos entregando grande parte da nossa demanda para fornecedores estrangeiros.
E isso não acontece por falta de competência das empresas brasileiras, nem porque o produto brasileiro é caro ou tem qualidade inferior - muito pelo contrário. No mesmo período, exportamos US$ 1,2 bilhão, com crescimento de 24% nas vendas externas.
Estamos observando inúmeros países protegendo seus mercados e principalmente sua indústria, pois há muito entenderam a importância de gerar tecnologias, empregos e produção localmente. Estas ações acabam criando um cenário ainda mais desafiador para nossa indústria.
O problema é que, no Brasil, faltam políticas públicas que valorizem a produção nacional. A regra das compras públicas, por exemplo, ainda é simples e injusta: vence quem tiver o menor preço, sem considerar se o produto foi feito aqui ou fora, sem avaliar impacto econômico, geração de emprego ou inovação. Assim, abre-se espaço para importados e desestimula-se a produção nacional.
O Brasil possui um sistema de saúde único no mundo, ao se propor garantir saúde a toda a população, e se quiser avançar de forma sustentável, é fundamental termos um sistema produtivo forte e inovador, e para isso terá que desenvolver uma política pública que priorize a produção nacional. A indústria nacional de dispositivos médicos pode - e quer - ocupar um espaço maior. Mas, para isso, precisa de um ambiente que a reconheça como estratégica. Com critérios de compras que valorizem o conteúdo local valorizando os investimentos e inovação de desenvolvimento, com isonomia tributária, com visão de longo prazo.
A meta do governo federal é ousada e correta: fazer com que 70% do que consumimos no país seja produzido aqui. Hoje estamos pouco acima da metade desse caminho. Para avançar, é preciso vontade política. Ainda há tempo para reverter a curva - mas é preciso agir já.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].