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Política
26/11/2025 13:00
Mais da metade da população brasileira viveu a maior parte de suas vidas na égide de governos do Partido dos Trabalhadores. Basta fazer as contas com os números do IBGE. O PT chegou pela primeira vez ao poder, no âmbito federal, há cerca de um quarto de século. Quase 60 milhões de brasileiros nasceram após a primeira vez que Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa do Palácio do Planalto em Brasília. Se fizermos uma idade mediana da sociedade, concluiremos que metade tem menos de 35 anos. É mais de uma geração nascida ou criada sob o cuidado de gestões petistas.
São pessoas que vivenciaram uma revolução positiva no Brasil em muitos fatores que envolvem suas trajetórias. As taxas de pobreza e miséria caíram dramaticamente - o que por si só justificaria a passagem do partido pelo poder. Mas também a renda e o consumo subiram como nunca. Os índices de educação e saúde tiveram melhorias notáveis. Pela primeira vez, os filhos das famílias mais pobres foram efetivamente para as universidades. E nosso país se tornou potência tanto em energia limpa quanto na produção de alimentos, fatores essenciais para o exercício da soberania. A democracia, apesar de todos os ataques, foi plenamente consolidada. E mais: o Brasil recuperou papel relevante no mundo e a própria biografia de Lula despertou um sentimento altivo de autoestima nos mais pobres.
Por óbvio, há muitas dificuldades que precisam ser superadas. As desigualdades de raça, gênero e regionais persistem. A criminalidade resiste ao Estado numa luta transnacional feroz. A desindustrialização e a inevitável revolução tecnológica seguem afetando a classe trabalhadora tradicional e atrasando o desenvolvimento do país. Os juros altos travam o crescimento e envergonham o Brasil perante o mundo. Mas quando observamos a trajetória do Brasil, a afirmação de que avançamos bastante ao longo desse período se torna incontestável - e negá-la é até desonestidade intelectual.
Porém, é preciso admitir, algo ficou pelo caminho. Comemora-se números, dados, mas a utopia que empurrou milhões de brasileiros na direção do PT e da esquerda obnubilou-se. Parece também que nossos objetivos são só defensivos, como lutar contra grupos fascistas que buscam tomar o Estado, rebater mentiras de redes sociais, ou administrar os recursos de maneira a respeitar as restrições orçamentárias, muitas vezes impostas por quem não se interessa por um país mais justo. Claro, resistência e defesa são importantíssimas, mas a ação é para frente.
Para além dessas lutas diárias, é preciso recuperar o ideal de sonhos. Trazer de volta as paixões, trazer de volta a alma que guiou o partido desde os primórdios. Governar um país é muito mais do que administrar uma corporação. Tem a ver com conduzir mentes e corações para um projeto maior de nação. Colocar como horizonte valores como justiça, fraternidade e igualdade.
Em um provável quarto mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, temos que trazer novamente os projetos que podem levar o Brasil a ser menos desigual, mais democrático e justo. Sonhos que podem ser sonhados juntos e que não se percam nas batalhas diárias e mundanas. A vitória de um imigrante, socialista e jovem (34 anos), Zohran Mamdani, para governar Nova Iorque, cidade símbolo do capitalismo mundial, é um recado. Vale a pena apostar nos ideais.
Para sair do curto-prazo que acinzenta o ambiente, o PT vai precisar estabelecer sua agenda. De imediato, auxiliar o governo a recuperar a força do Estado, de maneira a trazer a justiça tributária, reduzir as desigualdades, ou ter poder para coordenar as obras de infraestrutura que ainda precisamos. A estratégia exige, sem dúvida, retomar o controle do orçamento, hoje pulverizado pelos microinteresses regionais dos parlamentares. Necessário também repensar o papel do Judiciário, que ocupou o vácuo deixado tanto pelo Executivo quanto pelo Legislativo, e parece determinado, muitas vezes, a indicar os rumos mais transcendentes do país. Consolidar seu papel (do Brasil) na nova geopolítica mundial e apresentar um programa de longo prazo que vise mudar o Brasil estruturalmente. Por outro lado, o Partido vai precisar se reorganizar, atualizar-se e tornar sua utopia numa linguagem contemporânea.
Quem foi forjado(a) na militância por um país mais digno, como tantos do PT, não se contenta com celebrações pequenas de avanços econômicos e de vitórias táticas na política, nem da demonstrada e provada competência administrativa. Por mais importante que seja, isso ainda é insuficiente. É preciso mostrar aos brasileiros que o PT e Lula têm um projeto de nação sólido, inclusivo, próspero - para esta e as próximas gerações. O imediatismo turva o rumo e nos leva para uma batalha de superficialidade, ao gosto dos adversários. Voltemos, pois, à essência que, ao cabo, é o que temos de melhor, de mais genuíno. Voltemos àquilo que um dia fez brilhar não só os nossos, mas os olhos de todos os brasileiros.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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