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Vanda Machado
Dulce Pereira
Vanda Machado
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Olhares Negros
10/12/2021 | Atualizado 14/12/2021 às 13:35
 
 
 Casa de Yá - Acervo do Projeto Político Pedagógico Irê Ayó - Foto Vanda Machado[/caption]
 
Assim eu me vejo, e me compreendo como uma pessoa bem-nascida. Eu não sou uma arvore isolada. Eu sou parte de uma densa floresta que tem início do outro lado do Atlântico e aqui se reúne como um único povo malungo.[5]. Povo de Santo. Esta é a constatação de que a cultura e a religião de origem africana no Brasil expressam uma cosmopercepção sistemática, estruturada e estruturante que dá significado e orienta vidas pretas no Afonjá.
Na condição de mulher preta, professora, historiadora, mestra e doutora com o "anel no dedo" como quis Mãe Aninha, criei com a participação de toda comunidade o Projeto Político Pedagógico Irê Ayó[6] na Escola Eugênia Anna dos Santos. Além de educar formando sujeitos solidários e coletivos vejo desdobrada a cultura africana, recriando e restabelecendo coletiva e individualmente a nossa identidade resinificada no contexto da nossa cidade que é pluricultural, multiétnica e polissêmica onde 83% da população se autodeclara negra.
Tenho estudado muito para compreender o terreiro como um lugar que por sua origem legitima ações e interconexões com a História do Brasil e a História da África, o Direito, as Ciências, a Ética imprescindível na relação comunidade e sociedade.
Tenho me esforçado para viver cada dia mergulhada no simbólico, materializado ou não. e que ocupa todo o espaço sagrado completando o sentido na religião e convivência comunitária. Esta é uma razão pela qual se faz necessário distinguir as peculiaridades dos terreiros como lugar mítico de resistência política, proteção e cuidado com o outro.
Fiquei sabendo deste episódio por e está registrado, que certo dia a senhora, Mãe Aninha, entrou em uma quitanda e encontrou uma mulher que ia saindo e que chorava muito. Indagou o motivo de choro, quando o quitandeiro respondeu: Não vendo mais fiado a esta mulher. "Ela já comprou muita coisa aqui e não paga".  Mãe Stella me contou que a Senhora, Mãe Aninha, retirou seus brincos de ouro, pôs em cima do balcão ordenando: Venda tudo que ela precisar e cobre o que ela lhe deve. Amanhã eu volto para buscar meu trôco.
Assim, eu me despeço grata pela proteção e o encanto deste lugar perfeito para fazer emergir a realização da essência mais profunda da natureza humana.
[1] Pedido de licença na língua ioruba.
[2] Nome ancestral de Mãe Aninha - Criadora do Ilê Axé Opo Afonjá.
[3] Saudação às mães ancestrais do Afonjá na língua ioruba.
[4] Deusa protetora do povo Grunci.
[5] Malungo é irmão na língua banto.
[6] Irê Ayó -Caminho de Alegria na Língua Yorubá
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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 Casa de Yá - Acervo do Projeto Político Pedagógico Irê Ayó - Foto Vanda Machado[/caption]
 
Assim eu me vejo, e me compreendo como uma pessoa bem-nascida. Eu não sou uma arvore isolada. Eu sou parte de uma densa floresta que tem início do outro lado do Atlântico e aqui se reúne como um único povo malungo.[5]. Povo de Santo. Esta é a constatação de que a cultura e a religião de origem africana no Brasil expressam uma cosmopercepção sistemática, estruturada e estruturante que dá significado e orienta vidas pretas no Afonjá.
Na condição de mulher preta, professora, historiadora, mestra e doutora com o "anel no dedo" como quis Mãe Aninha, criei com a participação de toda comunidade o Projeto Político Pedagógico Irê Ayó[6] na Escola Eugênia Anna dos Santos. Além de educar formando sujeitos solidários e coletivos vejo desdobrada a cultura africana, recriando e restabelecendo coletiva e individualmente a nossa identidade resinificada no contexto da nossa cidade que é pluricultural, multiétnica e polissêmica onde 83% da população se autodeclara negra.
Tenho estudado muito para compreender o terreiro como um lugar que por sua origem legitima ações e interconexões com a História do Brasil e a História da África, o Direito, as Ciências, a Ética imprescindível na relação comunidade e sociedade.
Tenho me esforçado para viver cada dia mergulhada no simbólico, materializado ou não. e que ocupa todo o espaço sagrado completando o sentido na religião e convivência comunitária. Esta é uma razão pela qual se faz necessário distinguir as peculiaridades dos terreiros como lugar mítico de resistência política, proteção e cuidado com o outro.
Fiquei sabendo deste episódio por e está registrado, que certo dia a senhora, Mãe Aninha, entrou em uma quitanda e encontrou uma mulher que ia saindo e que chorava muito. Indagou o motivo de choro, quando o quitandeiro respondeu: Não vendo mais fiado a esta mulher. "Ela já comprou muita coisa aqui e não paga".  Mãe Stella me contou que a Senhora, Mãe Aninha, retirou seus brincos de ouro, pôs em cima do balcão ordenando: Venda tudo que ela precisar e cobre o que ela lhe deve. Amanhã eu volto para buscar meu trôco.
Assim, eu me despeço grata pela proteção e o encanto deste lugar perfeito para fazer emergir a realização da essência mais profunda da natureza humana.
[1] Pedido de licença na língua ioruba.
[2] Nome ancestral de Mãe Aninha - Criadora do Ilê Axé Opo Afonjá.
[3] Saudação às mães ancestrais do Afonjá na língua ioruba.
[4] Deusa protetora do povo Grunci.
[5] Malungo é irmão na língua banto.
[6] Irê Ayó -Caminho de Alegria na Língua Yorubá
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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