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Helena Theodoro

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5/5/2022 | Atualizado às 18:46

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O Salgueiro cantou a resistência do povo preto e as histórias do griot Djalma Sabiá. Foto: Mariana Maiara

O Salgueiro cantou a resistência do povo preto e as histórias do griot Djalma Sabiá. Foto: Mariana Maiara
Enfim tivemos carnaval, mesmo fora de época. As escolas de samba ficaram se preparando por dois anos para esta apresentação, cheias de dúvidas sobre a efetivação do evento, mas sem parar de produzir em suas quadras e barracões, fazendo poesia, cantando, ensaiando e construindo seu mundo de ilusões. Com um presente sombrio, os sambistas foram se abrigar em sua ancestralidade, que tanto sofreu, que viajou pelo Atlântico, conseguindo sobreviver subindo becos e vielas, formando quilombos, além de meios e modos de manter suas vidas e histórias. Assim sendo, nada mais natural do que aprender com a lição de ontem, aperfeiçoando num hoje, forjando um belo amanhã. As escolas de samba nos deram esse exemplo. Foram buscar em suas histórias e crenças a força para mostrar seus valores e sua fé na vida. Essa fé se revelou em sua capacidade de se comunicar e de transformar o mundo com caminhos e olhares novos que permitem crescimento e bom viver. Usando seus itans, histórias contadas pelos mais antigos, mostraram energias capazes de superar a dor e as dificuldades. Num processo de comunicação total, usou seus corpos em movimento, reproduzindo as energias   vitais, trazendo seus orixás, inquices e vodus que representam o ar, a água, a terra e o fogo, com o resultado do movimento (EXU) que nos dá as folhas, as árvores, os animais em diferentes espaços e formas. Dizer que os enredos afro das escolas estão na moda ou são repetitivos e já conhecidos é não querer ver a diversidade do mundo que se reflete em cada escola de samba que fala de um território, de seus líderes e de suas histórias que nunca são contadas nas escolas primárias nem na televisão e que são apresentadas em forma única pelo canto e dança dos moradores locais, com muita originalidade, em suas cores e ritmos próprios. [caption id="attachment_540461" align="aligncenter" width="683"] O ator Demerson D'alvaro interpretou Exu na Marquês de Sapucaí. Foto: Tyno Cruz[/caption]   A Vila Isabel exaltou seu poeta maior, que colocou sua territorialidade no nome: Martinho da Vila, tornando universal o espaço do Morro dos Macacos, bairro musical e alegre, de música preta que também abrigou Pixinguinha, Luís Carlos da Vila e o grande Noel Rosa. A Mangueira louvou a luta de seus guerreiros Cartola, Jamelão e Delegado, simbolizando a poesia, o canto e a dança de seu território, que se revela hoje e se perpetua num amanhã em suas cores verde e rosa, além de suas histórias das tias Zica e Neuma, com suas conquistas e participações no cenário nacional e mundial O Salgueiro cantou a resistência do povo preto e as histórias do griot Djalma Sabiá mostrando a seu povo a importância de ser diferente e a força da diversidade. Enfim, as escolas, dançando à volta do Baobá, reverenciam seus ancestrais, louvando toda uma forma de ser, existir e criar beleza, que se espalhou por este país continental e em todos os espaços que precisam acreditar no amanhã e necessitam aglutinar os que se perderam de seu grupo, criando, assim, uma nova família gerada pelas energias que os une: o tambor. Nos terreiros de gente preta, os tambores rum, rumpi e lê se comunicam e complementam, mas nas escolas de samba se transformam em trezentos nas baterias, aglutinando as batidas dos corações, fazendo com que todos que saem juntos se vejam e sintam como partes de um todo maior, pleno e forte. Como esses grupos menos favorecidos, camada mais vulnerável da população do país, conseguem tanta criatividade e força? Fé na vida, em sua capacidade de transformar o mundo é a resposta, enviada por seus orixás, representados pelo orixá EXU, que abre os caminhos e que a todos envolve. Ninguém duvida do voo do Super Homem ou da Mulher Maravilha, achando normal a força do martelo de Thor, mas a energia de EXU, com sua farofa na encruzilhada, modificando a vida e revelando possibilidades de mudança não é visto como exercício de força. Nossos meios de comunicação, em pleno dia do desfile das campeãs, consideradas as melhores histórias e apresentações, buscaram invisibilizar e ridicularizar uma cultura que conseguiu tirar as mordaças e romper o silêncio, gritando por seus direitos e por sua fé em todos os lugares. Laroiê, Exu, grito de guerra e de fé, abre caminhos para a comunidade preta passar e não pode mais aceitar o desconhecimento de jornalistas e comunicadores de sua força e sua efetividade. Colocar humoristas ridicularizando os moradores de favelas e guetos, além de ser de extremo mau gosto, é desrespeitoso e pouco verdadeiro diante da grandiosidade das histórias contadas pelas escolas de samba que trouxeram seus mitos e heróis de forma poética, plástica e musical. Não se pode mais aceitar o deboche e a falta de respeito das emissoras de televisão que ignoram toda a realeza e força de um povo que, na verdade, construiu a base deste país e das Américas. Foi a tecnologia africana que ergueu casas e palácios, asfaltou as ruas, construiu túneis, criou tecidos, garimpou minas de ouro, prata, esmeraldas e diamantes, plantou e colheu arroz, café, açúcar, borracha e soja, enriquecendo o país, os fazendeiros, os empresários e os políticos dessa sociedade desigual, racista e pouco democrática em que vivemos. Temos resistido sempre e vamos continuar sambando e resistindo durante o carnaval e durante todos os dias de nossas vidas pretas. Laroiê!!! O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais textos da coluna Olhares Negros   
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