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18/6/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:29

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Os pratos presentes na foto são: Madsessu - República dos Camarões (canto sup. esq.); Bobotie - África do Sul (canto inf. esq.); Kamba - República dos Camarões (canto inf. dir.); Polvo e Casca - Tanzânia (canto sup. dir.); Chakalaka - África do Sul (meio superior);  Joneasburg - África do Sul (centro) [fotografo] Foto:Mariana Maiara [/fotografo]

Os pratos presentes na foto são: Madsessu - República dos Camarões (canto sup. esq.); Bobotie - África do Sul (canto inf. esq.); Kamba - República dos Camarões (canto inf. dir.); Polvo e Casca - Tanzânia (canto sup. dir.); Chakalaka - África do Sul (meio superior); Joneasburg - África do Sul (centro) [fotografo] Foto:Mariana Maiara [/fotografo]
Caro leitor(a), você sabe a origem de alguns dos alimentos que consumimos cotidianamente no Brasil? Já pensou no motivo pelo qual utilizamos os mesmos ingredientes que outros países e temos resultados tão diferentes? Ou ainda, como o aspecto visual de um prato pode despertar os seus sentidos e uma variedade de sensações? Essas são perguntas que tentarei responder neste artigo. Durante muito tempo a coleta e a caça foram a principal maneira de obtenção de alimentos na história do homem e foi a partir do desenvolvimento da técnica agrícola e da domesticação de animais que o homem fixou-se na terra e, com o início das trocas comerciais, povoados e civilizações se formaram. Nesse momento, foram dados os primeiros passos para a criação da culinária e, principalmente, da gastronomia, que vem a ser um dos elementos culturais mais antigos do mundo e engloba a maneira de preparar as bebidas, os alimentos e as matérias primas que com eles combinam. Sem dúvida, os diferentes momentos históricos e contextos sociopolíticos como as trocas comerciais, as migrações e as grandes navegações possibilitaram que cada cultura desenvolvesse suas técnicas culinárias e hábitos alimentares. Contudo, parto da Diáspora Africana, que influenciou diretamente a forma de pensar, sentir, falar e de se alimentar em vários lugares do mundo, sobretudo, no Brasil, que tem a maior população negra fora da África. Embora esse fenômeno tenha ocorrido há alguns séculos, a sabedoria milenar transmitida oralmente e a cultura alimentar dos diferentes grupos étnicos africanos marcaram a formação do Brasil com a introdução de alimentos e adaptações de ingredientes, em receitas que recuperavam e acionavam sua memória social, afetiva e religiosa. Alguns dos ingredientes de origem africana que constituem o amplo e complexo sistema alimentar afro-brasileiro são: o quiabo, a melancia, a pimenta-malagueta, o azeite de dendê, o inhame, a batata doce, o grão-de-bico, a banana, o gengibre, o jiló, o coco verde e outros. Evidentemente ingredientes de outros países e técnicas culinárias foram apreendidas e modificadas devido às necessidades de adaptação a uma sociedade escravocrata. No entanto, estamos cansados de ouvir uma narrativa que não aprofunda a singularidade de um preparo culinário, não valoriza a estética, apaga a relação entre o alimento e a religiosidade e, por fim, não caracteriza a identidade e cultura nacional para além da feijoada. O ato de comer vai muito além da simples ingestão da comida, pois é a partir da alimentação que compreendemos e identificamos a cultura, o contexto social e econômico, a religião, a geografia, a etnia, a ecologia e as diversas práticas sociais. Como vemos, a formação do gosto e dos hábitos alimentares está intrinsecamente ligado ao processo de socialização, ou seja, somos ensinados a gostar de determinados alimentos e de apreciá-los visualmente a partir da sua estética e da representação daquela cultura. Diante disso, é perceptível que essa construção ideológica da comida também nos remete a visualizar o lugar social daqueles que consomem determinados alimentos. Cá entre nós, não é nenhuma novidade que grande parte dos elementos culturais, africanos e afro-brasileiros não são apresentados como portadores de complexidade, de técnica, beleza estética e valor. Contudo, movimentos como os da coluna Olhares Negros e de mulheres como a chef Dida Nascimento, do Dida Bar e Restaurante, buscam nutrir o imaginário social com sabedoria ancestral e a força vital de suas ações. Em meus artigos, é possível perceber que a fotografia tem seu lugar de destaque e, como fotógrafa e cientista social, nada é tão importante quanto a possibilidade de dialogar e conhecer a trajetória das pessoas com quem interajo. Assim, para escrever este artigo, além de pesquisar sobre o assunto e fotografar, conversei com a chef Dida sobre o propósito de preparar pratos fundamentados na culinária africana e como a estética de um prato pode lançar um olhar único sobre um legado que não se encontra em livros ou espalhados pelas cidades. A narrativa sobre a história da família dela e do restaurante me permite dizer que toda a experiência simbólica e material vivenciada pela chef tem origem familiar, pois seu negócio é a continuidade de um bar que sua mãe teve e fruto da valorização da cultura africana presente na educação de sua família. Para as famílias negras, brasileiras e africanas, a comida ocupa lugar central, pois é a partir dela que temos o empoderamento das mulheres negras que desde sempre cozinharam provendo o sustento de suas famílias, e transmitiram os saberes ancestrais para as futuras gerações. A presença das cores, da música, do vestuário, da religiosidade de matriz africana e as fotografias de referências negras, no conceito e nas paredes do espaço, respectivamente, nos fazem experienciar o afeto/acolhimento e a visualidade de signos e símbolos que nos remetem à herança africana. Uma fotografia de gastronomia tem em sua composição diversos elementos. Contudo, a minha produção fotográfica para este artigo visa representar um verdadeiro banquete onde os ingredientes são os protagonistas deste cenário e nos levam a um intercâmbio cultural e gastronômico pela África. Na fotografia que compõe este artigo observamos pratos da África do Sul, República dos Camarões e Tanzânia. Os pratos foram preparados para o Jantar Africano do Dida e elaborados a partir de uma intensa pesquisa teórica e cursos realizados no continente africano. Considerando a dimensão da construção ideológica da comida, aqui abordada, como vemos os pratos africanos? Como eles são representados e apresentados nas televisões e mídias? A partir desta foto vemos como a culinária africana pode despertar sensações, acionar memórias afetivas e nos instigar a saborear pratos que estão presentes no cotidiano de outros grupos sociais tão próximos de nós afro-brasileiros. Por fim, encerro este artigo com três indicações, para que tenham uma experiência completa, sobre gastronomia africana e fotografia: o Dida Bar e Restaurante (no Rio de Janeiro), a minissérie Da África aos EUA: Uma jornada gastronômica e o documentário Sankofa: A África Que Te Habita, ambos disponíveis na plataforma Netflix. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais textos da coluna Olhares Negros Se você chegou até aqui, uma pergunta: qual o único veículo brasileiro voltado exclusivamente para cobertura do Parlamento? Isso mesmo, é o Congresso em Foco. Estamos há 17 anos em Brasília de olho no centro do poder. Nosso jornalismo é único, comprometido e independente. Porque o Congresso em Foco é sempre o primeiro a saber. Precisamos muito do seu apoio para continuarmos firmes nessa missão, entregando a você e a todos um jornalismo de qualidade, comprometido com a sociedade e gratuito. Mantenha o Congresso em Foco na frente.
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