Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Marina Barbosa
14/12/2019 13:56
Ricardo Galvão. Foto: Waldemir Barreto/Ag. Senado[/caption]
Como o senhor recebeu a homenagem da Nature?
Eu vim a saber que provavelmente haveria uma homenagem há três semanas, quando estava na Universidade de Columbia e a Revista Nature me entrevistou. Quiseram saber o que tinha acontecido aqui no Inpe e me parabenizaram pela posição que eu tomei em defesa da ciência e da preservação da Amazônia. Mas eu não esperava que fosse aparecer entre os dez cientistas de destaque do ano. Por isso, recebi realmente com grande satisfação que considero importante para toda a comunidade
Ao que o senhor credita essa reconhecimento?
Eu considero como uma homenagem a toda a comunidade científica brasileira, que tem feito um trabalho espetacular em defesa do meio ambiente. E eles disseram que uma das razões principais para isso é que, neste momento em que estamos vendo no mundo todo um certo movimento obscurantista e negacionista das questões científicas, eu tinha tido muita coragem de ter me posicionado abertamente e ter enfrentado o governo numa acusação indevida ao trabalho do Inpe. Então, acho que é uma homenagem importante para reconhecer o trabalho de toda a comunidade científica brasileira.
Como o restante da comunidade científica tem enfrentado esse movimento de negacionismo?
Toda a comunidade tem reagido com um posicionamento bastante forte. Inclusive, antes mesmo de eu ter tido esse embate com o presidente, a Academia Brasileira de Ciência já tinha mandado um ofício a ele apontando problemas na maneira como a questão ambiental vem sendo tratada.
Então, o governo sabia do problema do desmatamento antes de questionar os dados do Inpe?
O ataque ao Inpe não vem de agora. Desde que tomou posse eu vinha enfrentando problemas de divulgação de dados do Inpe em relação às queimadas na Amazônia e também em outros biomas. A minha demissão foi o ápice, porque eu já vinha contestando o ministro Salles e suas acusações desde o primeiro trabalho que fizemos, em 16 de janeiro, logo após o começo do governo. Mas o próprio governo deixou claro na campanha que ia reverter abertamente a política que sempre foi reconhecida mundialmente.
> COP25: sociedade civil pede ajuda internacional para a Amazônia
Está na hora de o governo mudar sua postura? As sinalizações recebidas nesta semana deixam isso claro?
O presidente deveria entender tudo isso como um recado. Eu até brinquei nessa semana, depois da Nature e da Greta, parece até que o presidente Bolsonaro tem uma lança de ouro: todo mundo que ele ataca é reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho. Então, espero que o governo tenha a atitude de ver que não pode de maneira nenhuma continuar com essa política que está colocando o Brasil em uma situação terrível. O Brasil sempre foi reconhecido mundialmente pelo seu protagonismo, sempre foi elogiado. De 2004 a 2012, reduziu seu desmatamento em mais de 80%. Foi um dos únicos países da Conferência de Paris de 2015 a assumir uma meta muito séria na redução do efeito estufa. Mas todo esse protagonismo e reconhecimento mundial está sendo destruído.
Quais as perspectivas para o desmatamento no curto prazo?
Confesso que estou um pouco pessimista. Na própria COP25, as afirmações do ministro Salles foram decepcionantes. É importante ter o desenvolvimento sustentável da Amazônia que ele fala, mas ele usa esse argumento para disfarçar a política do governo que não vem tomando as medidas de fiscalização que deveria. O Brasil tem grande responsabilidade no ano que vem de não ter um desmatamento maior que 3,9 mil quilômetros quadrados, mas não cumprir isso, porque neste ano o desmatamento já bateu 10 mil quilômetros quadrados e continua. É preocupante.
Diante disso, o senhor acha que o Brasil vai conseguir os recursos que busca na COP?
Eu teria vergonha de cobra qualquer coisa a essa altura. Inclusive o próprio Fundo Amazônia, que o governo não tem executado mais, tem mais de R$ 2 milhões armazenado que poderiam ser executados. O orçamento do governo para o Ministério do Meio Ambiente também não está sendo totalmente executado. O governo vai chegar o fim do ano com menos de 95% de execução porque não está tomando as ações que deveria tomar, mas diz que não tem recurso.
> Senado leva dossiê sobre desmonte da política ambiental à COP-25
Nesta semana, o pedido de impeachment de Salles avançou no STF. O que o senhor acha disso?
Eu já estive em duas audiências no Congresso e ficou bem claro que há uma preocupação grande em relação à questão ambiental. Até porque a política brasileira para as mudanças climáticas é regulamentada por lei. E o governo não está cumprindo isso. Eu inclusive, há um mês, fui chamado no Ministério Público de São Paulo, que impôs a Salles o não prosseguimento da compra de um sistema de monitoramento, já que o Inpe já faz esse serviço. Também há uma ação no Senado. Então, acho que tudo isso pode ter alguma consequência, mas não sei até que ponto.
E o senhor o que pretende fazer agora?
Eu sou professor da Universidade de São Paulo. Mesmo quando estava no Inpe eu era professor, eu era comissionado. Então, voltei para a universidade, estou lecionando.
> Pasta de Salles ignora 8 de cada 10 pedidos da imprensa
> Tenha a melhor cobertura do Congresso de graça no seu Whatsapp

Temas
SEGURANÇA PÚBLICA
Crise no Rio reforça necessidade da PEC da Segurança, diz relator
TRANSPORTE AÉREO
Câmara aprova proibição da cobrança por malas de até 23 kg em voos
Relações exteriores
Senado dos EUA aprova projeto que derruba tarifa contra o Brasil