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Congresso em Foco
14/7/2006 | Atualizado 16/7/2006 às 22:59
Edson Sardinha
Pernambucano como o presidente Lula, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) é o homem escalado por seu partido para coordenar a campanha do paulista Geraldo Alckmin à Presidência da República. Até outubro, terá como desafio maior fazer com que o candidato tucano decole no Nordeste. Na região onde Alckmin apresenta o seu pior desempenho nas pesquisas eleitorais, Lula já tem uma frente de 47 pontos percentuais sobre o seu principal adversário, segundo o último levantamento CNT-Sensus.
O Nordeste é também a única região do país em que o total das despesas do governo com o Bolsa Família supera (em 17,4%) todos os investimentos federais ali feitos desde o início de 2003. Dados que, somados ao pouco conhecimento dos nordestinos em relação a Alckmin, explicariam, na avaliação de Guerra, a diferença entre os dois nas pesquisas. "O PT acha que as camadas de menor escolaridade vão votar no Lula, como se as pessoas só tivessem barriga. É uma subestimação da capacidade do povo. O povo tem barriga, mas tem inteligência também. É a inteligência do povo que vai ganhar a eleição para Alckmin", diz o senador.
Nesta entrevista ao Congresso em Foco, Sérgio Guerra minimiza o resultado das últimas pesquisas eleitorais, apesar do crescimento da candidatura tucana, e relativiza o poder eleitoral de Lula. "Os resultados das atuais pesquisas comprovam o seguinte: ainda não existe intenção de voto, apenas grau de conhecimento", avalia. "Os números do presidente não são firmes. O grau de convicção do eleitor do presidente Lula é baixo. Isso é reconhecido até por gente da campanha dele. Isso é questão de tempo", considera.
Ultrapassagem, só no 2º turno
O coordenador da campanha de Geraldo Alckmin afirma que a preferência do eleitorado vai migrar do petista para o tucano assim que a campanha eleitoral começar na TV e no rádio, com a volta à cena dos escândalos políticos que abalaram o governo Lula. Ainda assim, diz não acreditar que Alckmin ultrapasse Lula já no primeiro turno. "Eu não aposto nisso. Acho que vamos chegar ao segundo turno e ganhar", prevê o senador.
Economista por formação e ex-consultor de empresas, Guerra ataca a política econômica do atual governo, segundo ele, voltada para o favorecimento do sistema financeiro. Rebate as críticas de que a gestão FHC também teria beneficiado os bancos e promete um conjunto de ações voltado para o setor produtivo. "Não sou contra nem reclamo dos bancos. Mas não concordo com uma economia que permita que os bancos ganhem demais e aqueles que produzem não ganhem quase nada, quando não perdem", afirma.
Lula x FHC
O senador também faz coro a Geraldo Alckmin ao rechaçar a estratégia dos petistas de usar indicadores sociais e econômicos na comparação entre os governos Lula e Fernando Henrique. E nega que haja constrangimento da parte dos tucanos em analisar as duas gestões à luz dos números. "Fernando Henrique não é candidato. É apenas indevida a comparação. A comparação é uma fraude. O presidente Fernando Henrique foi presidente em determinada situação, numa conjuntura interna e internacional diferente. Lula assumiu com outro ambiente internacional, um país com moeda. FHC assumiu um país que nem moeda tinha", diz.
Na metade de seu primeiro mandato como senador, Sérgio Guerra é um político experiente e com bom trânsito até entre os governistas. Em 2004, liderou a oposição no Senado. Deputado federal por três vezes, também foi secretário estadual em Pernambuco nas gestões de Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Miguel Arraes (PSB). No início de sua carreira, chegou a dirigir a antiga Datamec, empresa de processamento de dados e engenharia de sistemas que desenvolveu a loteria no Brasil, por indicação do ex-governador Carlos Lacerda.
Congresso em Foco - As pesquisas mais recentes indicam a ascensão de Alckmin, mas que o presidente Lula ainda venceria no primeiro turno. Qual a estratégia da campanha para que Alckmin também conquiste os eleitores de Lula?
Sérgio Guerra - Os resultados das atuais pesquisas comprovam o seguinte: ainda não existe intenção de voto, apenas grau de conhecimento. O presidente Lula é infinitamente mais conhecido do que o candidato Geraldo Alckmin. Disputou todas as eleições presidenciais desde o fim da ditadura. E o fez sempre com muita repercussão. Além do mais, nos últimos três meses, Lula usou de maneira absolutamente ilegal os meios de comunicação de massa. Em determinadas ocasiões, ele chegou a ocupar 80% do noticiário político na televisão, enquanto todos os demais dividiam os outros 20%. Neste instante, o candidato Alckmin começa a ser mais conhecido no Brasil de maneira geral. O crescimento alcançado por ele está muito acima das expectativas que nós estabelecemos.
Por quê?
Os números do presidente não são firmes. O grau de convicção do eleitor do presidente Lula é baixo. Isso é reconhecido até por gente da campanha dele. Isso é questão de tempo. Nós temos de crescer de maneira lenta, desejamos crescer assim. Não temos expectativa de crescimento acelerado. No final, iremos constatar que o PT e o presidente Lula já não são mais os mesmos porque não têm mais o que dizer.
O senhor acredita que Alckmin possa passar Lula no primeiro turno?
Eu não aposto nisso. Acho que vamos chegar ao segundo turno e ganhar.
Apesar desse cenário otimista que o senhor traça, no auge da crise, alguns líderes da oposição chegaram a dizer que Lula sequer se candidataria à reeleição. A oposição não subestimou o poder eleitoral dele?
A oposição não é golpista. Nós nunca desejamos o mandato do presidente sem ganhar dele nas eleições. Isso nunca passou na nossa cabeça. Lula atravessou momentos críticos. Mas não dá pra pensar também que todos os acontecimentos foram esquecidos, que aquilo tudo foi fantasia, que o José Dirceu ainda é ministro e nada aconteceu com ele, que Delúbio Soares ainda é tesoureiro do PT. O partido foi todo quebrado. Ficou claro que o presidente Lula, no mínimo, se omitiu. Não existe nenhum decreto que determine a revogação da opinião pública no Brasil. Os brasileiros têm memória. Isso não vai acontecer. Essas coisas vão ficar claras na medida em que tivermos o contraditório. Com a campanha na televisão a população vai entender que o governo Lula fracassou do ponto de vista político, ético, social e econômico.
Mas, no final das contas, não há uma sensação de que o presidente Lula se descolou dos escândalos?
Isso é subestimar a inteligência da população. Nada do que aconteceu poderia ter ocorrido sem que o presidente Lula soubesse. Ninguém é bobo. Mas não vamos ganhar a eleição por causa disso. Vamos ganhar porque nosso candidato, Geraldo Alckmin, foi um grande um governador em São Paulo. É uma pessoa extremamente simples, um homem de classe média, eficiente, competente, que vai fazer um governo do qual o Brasil precisa. Um governo de austeridade, seguro e que vai criar condições para o país crescer de 7% a 9%.
Na sua opinião, qual será o tom desta campanha eleitoral?
Tão logo comece a sentir o crescimento de Alckmin, o PT vai apelar. Aliás, já começou a fazer isso. Eles gostam de apelação.
Que tipo de apelação?
Uma campanha agressiva e, por vezes, truculenta.
Mas o PFL também não tem feito uma campanha agressiva?
O PFL tem feito uma campanha crítica. Uma parcela considerável dos brasileiros tem essa atitude também em relação ao presidente Lula e a tudo o que aconteceu.
Mas não é tênue essa linha que separa a agressividade do PT e a crítica do PFL?
Não. A linha é clara. Há uma diferença entre nós. Não vamos falar sobre o que não existe, não vamos denunciar fantasia. Vamos trabalhar no plano da realidade, que vai aparecer. Essa idéia de que é possível revogar a memória do povo não existe. As pessoas mais informadas não votam no presidente Lula. O PT acha que as camadas de menor escolaridade vão votar no Lula, como se as pessoas só tivessem barriga. É uma subestimação da capacidade do povo. O povo tem barriga, mas tem inteligência também. É a inteligência do povo que vai ganhar a eleição para Alckmin.
O presidente Lula tem o seu melhor desempenho nas pesquisas no Nordeste. Como Alckmin pretende reverter esse quadro na região?
Na verdade, Geraldo está bem nas áreas em que é mais conhecido. Não está bem nas áreas em que é menos conhecido, como no Nordeste. Em Pernambuco, que é meu estado, só 30% das pessoas já ouviram falar dele, enquanto 100% conhecem Lula. É uma questão de tempo.
O fato de o governo ter levado o Bolsa Família a 32 milhões de pessoas não complica as pretensões eleitorais do PSDB?
O governo tem usado isso eleitoreiramente. Aliás, só tem. Mas não é bem assim. O povo não tem só barriga, tem inteligência também. O que Lula faz não é política para melhorar as condições do povo, mas para segurar o povo.
Há duas semanas, o jornal britânico Financial Times publicou um artigo mostrando as semelhanças entre Lula e Alckmin, o que foi prontamente rechaçado pelos dois. Quais as principais diferenças entre eles?
Lula fala muito, Alckmin fala pouco. Lula não tem experiência municipal, Geraldo tem total. Lula não tem experiência administrativa, Geraldo tem absoluta. Lula é demagógico, Alckmin não é. Geraldo fala com firmeza, segurança e tranqüilidade. Lula é populista, Geraldo não sabe nem o que isso significa. Lula fez a política dos banqueiros. O presidente Geraldo Alckmin não fará uma política dos banqueiros, mas uma política para o país, para todos, para a produção.
Mas, senador, o governo do PSDB também socorreu os bancos com o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, que consumiu oficialmente R$ 20,359 bilhões do governo federal, em 1998, para sanear os bancos)...
Isso é bobagem. O Proer foi uma medida correta para o país. O Brasil tem hoje um sistema financeiro saudável exatamente porque, no momento adequado, o presidente Fernando Henrique desenvolveu o Proer. Não sou contra nem reclamo dos bancos. Mas não concordo com uma economia que permita que os bancos ganhem demais e aqueles que produzem não ganhem quase nada, quando não perdem.
Mais do que nos outros anos, cresceu este ano, por causa do caixa dois, a preocupação com a origem do financiamento dos candidatos. Alckmin declarou que pretende gastar até R$ 85 milhões. De onde virá todo esse dinheiro?
Virá de contribuição legal e espontânea. Não temos governo pra fazer pressão nem favores pra oferecer. Mas há um sentimento muito grande do empresariado brasileiro de que é preciso ter um caminho mais seguro porque o governo Lula acabou.
Por causa do lucro dos bancos no governo Lula, o PSDB terá mais dificuldade para levantar recursos entre os banqueiros para a campanha de Alckmin?
Os banqueiros estão interessados num projeto de Brasil. Desejam que o país continue viável. Garantias para o funcionamento do país em base estável e auto-sustentável quem dá é o presidente Geraldo, não o Lula. Não conheço a economia dos banqueiros, nem a contribuição deles para a campanha. Eu, por exemplo, nunca tive ajuda de financiadores desse tipo. O que o presidente Lula está fazendo é usar a máquina pública de maneira total. Ele fez isso nos últimos três meses, quando inaugurou obras que não foram sequer começadas. Até ferrovias que nunca foram construídas foram inauguradas. Houve claramente um exagero na utilização dos meios de comunicação pelo presidente Lula.
Pelo mapeamento que o senhor tem, Alckmin terá mais palanque do que Lula nestas eleições?
Sem dúvida. O PT só conseguiu se aliar ao PCdoB. Não conseguiu aliança nenhuma. Um presidente com 50% nas pesquisas, mandando no país, só conseguiu apoio de um único partido. É sinal de que ele não foi capaz de juntar muita coisa, embora respeitemos o PT e o PCdoB, que são dois grandes partidos.
Mas ainda há divergências entre PFL e PSDB em pelo menos sete estados. Isso não complica a situação de Alckmin?
O PSDB e o PFL são dois grandes partidos que têm candidatos, nomes, tradição e história em cada estado. Essa coisa a gente não resolve aqui de cima. Tem de ser resolvida aos poucos. Há uma harmonização crescente da nossa campanha. Ela vai ser maior ao longo do processo eleitoral. Do ponto de vista nacional, há total identidade. Do ponto de vista local, há uma divergência ou outra que está sendo trabalhada pelas lideranças do partido.
Pelo menos 14 diretórios regionais do PMDB declararam apoio à reeleição de Lula. Como atrair o partido para Alckmin?
O PMDB real, que tem voto, está conosco. O PMDB que tem história, que está fora da coligação da crise que resultou no mensalão e tanta coisa, está cada vez mais perto de nós.
O senhor acredita numa aproximação, em um eventual segundo turno, com partidos como o PL, o PTB e o PP, envolvidos com o mensalão?
Por enquanto, não. Ainda é cedo. Além disso, esses partidos têm gente no governo. O governo Alckmin terá uma base muito mais estável do que teve o presidente Lula. Primeiro, porque o PT fez um discurso a vida toda, e o governo Lula fez o contrário do que prometeu. Já havia uma confusão entre eles. Em segundo lugar, porque foi buscar aliados para desestruturar os demais partidos. Tirou gente do PFL e do PSDB para formar essas legendas que fizeram a chamada coligação da crise. Nós não faremos isso.
Vocês farão como, então?
Teremos uma bancada grande no PSDB, no PFL e no PMDB. E, seguramente, aliados de partidos como o PP e o PTB, que também têm gente da melhor qualidade. Não temos preconceito com partido algum. Temos preconceito com pessoas que comprometem a vida pública.
Mas, ainda assim, não há risco de atrair os fisiológicos?
Os fisiológicos estão e continuarão a estar com o presidente Lula. Não temos a menor dúvida sobre essa coerência e identidade.
Em que bases se dará o programa de governo de Alckmin?
Teremos um projeto claro e explícito. Mostrando o processo, o que se deseja fazer, como se deseja fazer, como construir soluções. Não apenas para o país mas para os estados e as regiões também. Não faremos a política do toma-lá-dá-cá, dando cargos em troca de apoio.
Mas o PSDB não está demorando a explicitar suas propostas?
Não, até porque isso tem de ser feito de maneira geral e construído. Ninguém tem a salvação do Brasil na cabeça. A solução das questões da Paraíba, de Pernambuco, do Espírito Santo, de Santa Catarina tem de ser discutida lá. Temos de ouvir e nos apropriar de idéias positivas.
Até aqui, o candidato Alckmin tem dito que não aceita comparações de Lula com governo Fernando Henrique Cardoso. Apenas com a gestão dele em São Paulo. Não transparece aí um certo constrangimento do PSDB em comparar números dos governos Lula e FHC?
Claro que não. Fernando Henrique não é candidato. É apenas indevida a comparação. A comparação é uma fraude. O presidente Fernando Henrique foi presidente em determinada situação, numa conjuntura interna e internacional diferente. Lula assumiu com outro ambiente internacional, um país com moeda. FHC assumiu um país que nem moeda tinha.
O ministro do TSE Gerardo Grossi disse que ficou estarrecido com os tetos declarados pelos partidos sobre os tetos de campanha. Não há de fato um exagero nessas previsões?
Acho que não. Melhor termos números reais do que mentirosos. Vamos trabalhar para que a eleição seja a mais barata possível. A do PT é mais cara do que a nossa. O presidente da República tem um patrimônio mais alto do que o do nosso candidato. E olha que Lula diz que é ele o trabalhador. Pelo que sei, ele não tem nem carteira assinada há muitos e muitos anos.
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