Um dos mais prestigiados auxiliares do presidente Lula, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anunciou ontem sua saída do governo. Em entrevista coletiva, ele disse ter cumprido sua missão e não ter mais forças para lutar pela redução de impostos dos produtos agrícolas.
O ministro negou que esteja entregando o cargo por motivo de saúde na família, ao contrário do que havia informado a sua assessoria de imprensa. E descartou qualquer componente político em sua decisão. "Não existe nenhum componente político. Não há qualquer ligação com o processo eleitoral. Sou um técnico. Nunca participei de partido político", disse.
"Tudo que teria que fazer já foi feito. Eu saio com o sentimento de dever cumprido, de ter dado tudo de mim para que as crises fossem superadas", declarou. "É evidente que ainda faltam algumas questões a serem discutidas, mas, por todas essas razões, eu considero que a minha contribuição pra o governo se encontra terminada", acrescentou.
Apesar de ter emplacado este ano quatro pacotes agrícolas, Rodrigues não teve êxito nas chamadas medidas estruturantes, que tratam basicamente da redução de impostos e de melhoria da infra-estrutura. Essa seria a principal razão de ele antecipar em seis meses sua saída da pasta, já que havia anunciado que ficaria somente até dezembro.
O ministro admitiu que a agricultura brasileira enfrenta hoje uma das piores crises de sua história. "Crise que impôs dura negociação e trabalho rigoroso do Ministério da Agricultura." Segundo ele, os pacotes anunciados este ano pelo governo não são suficientes para aliviar o setor.
"Temos problemas que têm a ver com o câmbio, juros e logística, que fogem do alcance da Agricultura. Gostaria que os juros fossem mais baixos e o dólar, um pouquinho maior", afirmou. "O que falta são questões estruturantes, como a garantia de renda do produtor, mas transcendem a agricultura, são questões macroeconômicas", completou.
Rodrigues informou que na sexta-feira terá uma nova reunião com o presidente. Ele contou que já havia deixado o cargo à disposição do presidente em outras quatro oportunidades. Desta vez, porém, Lula aceitou o pedido de demissão. O objetivo do encontro é decidir até quando ele ficará no cargo e quem será o seu substituto. Dentro do ministério, os nomes mais cotados são o do secretário-executivo Luiz Carlos Guedes e o de Política Agrícola, Ivan Wedekin.
Engenheiro agrônomo com carreira universitária, Rodrigues é produtor rural com prestígio no setor do agronegócio. Foi secretário de Agricultura de São Paulo, além de presidente da Associação Brasileira de Agribusiness e da SRS (Sociedade Rural Brasileira).
No setor do cooperativismo, o ministro presidiu a principal entidade do setor no Brasil, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) nos anos de 1985 e 1991. Também foi presidente da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas além da Aliança Cooperativa Internacional.
Rodrigues afirmou que ainda não sabe o que vai fazer. Ele faz parte da minoria de nove ministros que continuam no cargo desde o começo do governo, travando a clássica disputa entre as áreas produtiva e macroeconômica, principalmente por ter o orçamento cortado durante os anos em que o agronegócio viveu sua pior crise.
Bancada ruralista apóia saída de Rodrigues
Parlamentares da bancada ruralista no Congresso elogiaram ontem a decisão do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, de deixar o governo. Na avaliação deles, ele vinha sendo desprestigiado pelo Executivo, que não liberava os recursos necessários para fazer os investimentos no setor.
O deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) chegou a dizer que foi a própria bancada que sugeriu a Rodrigues que deixasse o cargo. "Foi um pedido nosso para que ele deixasse o cargo. O ministro estava sendo desprestigiado pelo governo e não poderia manchar sua biografia", disse o pefelista.
"Com certeza ele saiu por estar insatisfeito com o governo que não prioriza a agricultura", avaliou o coordenador dos ruralistas na Câmara, deputado
Dilceu Sperafico (PP-PR).
De acordo com os parlamentares, Rodrigues teria ficado incomodado com o corte no orçamento da pasta e com o fato de a Fazenda ter assumido as negociações relativas à renegociação das dívidas rurais.
Sperafico e outros parlamentares da Comissão de Agricultura estão no ministério neste momento. Foram chamados pelo ministro que deverá informar oficialmente a eles a decisão de deixar o governo. "A decisão me surpreendeu. Ele é um ministro competente, estava tentando acertar a agricultura, mas não teve força suficiente para isso. Se permanecesse daria uma demonstração de que concordava com a política do governo que não dá importância para a agricultura", reiterou o deputado.