O secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, negou as declarações feitas pelo ex-embaixador brasileiro em Washington Roberto Abdenur de que há “um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado” na política externa do Brasil.
“A política externa do presidente Lula, conduzida pelo ministro Celso Amorim, é pragmática e não ideológica; é a favor do trabalho sem ser contra o capital; compreende que a globalização apresenta oportunidades mas também riscos para os países subdesenvolvidos; é a favor do Brasil e não contra qualquer país”, disse.
Ao ser questionado sobre a participação brasileira na economia norte-americana, que estaria estacionada em 1,4% por causa de um suposto antiamericanismo, Guimarães respondeu que o Brasil, ao contrário de outros países, aumentou a participação nesse mercado.
“O aumento da presença da China no mercado americano fez com que, no período de 1999 a 2006, nas importações americanas, a participação do Canadá caísse de 19% para 16,9%; a do Japão, de 12,8% para 7,9%; a da Alemanha, de 5,3% para 4,9%; a da França, de 2,5% para 2,0%. Ao contrário, a participação do Brasil cresceu de 1,1% para 1,4%, refletindo o aumento de nossas exportações de US$ 10 bilhões para US$ 24 bilhões. São as empresas brasileiras que exportam: elas não menosprezaram o mercado americano, nosso principal comprador, e tiveram todo o apoio do governo brasileiro em seu esforço”, ressaltou.
Sobre o avanço no mercado mundial, o secretário afirmou que as negociações na OMC estão em pleno andamento e que o país tem tido papel central nas negociações do G20. “As perspectivas de uma conclusão positiva para o Brasil são maiores do que em qualquer outro momento”, destacou.
Quanto à adesão da Venezuela ao Mercosul, que tem sido vista como uma forma de transformar o bloco em um palanque contra o presidente norte-americano, George W. Bush, Guimarães ressaltou que o comércio entre Brasil e Venezuela passou de US$ 880 milhões, em 2003, para US$ 4,1 bilhões, em 2006. “Todos os membros do Mercosul estão de acordo quanto à adesão da Venezuela. O Mercosul é uma união aduaneira e não um bloco político de oposição a qualquer outro país e muito menos aos EUA, que, aliás, percebem isto perfeitamente”, declarou.
Por fim, o secretário disse que o Brasil pode contribuir para a construção de um mundo melhor ajudando na preservação da paz; no desenvolvimento econômico e social; e na construção da democracia em âmbito internacional, “de tal forma que cada sociedade, observados os preceitos fundamentais de autodeterminação e não-intervenção inscritos na Carta da ONU, possa prosseguir em sua evolução histórica”.
“Um mundo melhor será aquele em que as promessas de desarmamento se realizem; em que os preceitos do Direito Internacional sejam obedecidos pelas grandes potências; em que as diferenças econômicas entre os Estados se reduzam; em que o meio ambiente seja preservado; em que os direitos humanos, políticos, econômicos e sociais sejam respeitados; em que a pobreza e a miséria sejam abolidas; em que cada indivíduo possa desenvolver todo o seu potencial”, finalizou.