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Até o próximo João

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14/2/2007 | Atualizado às 6:23

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Adriana Vandoni*

O bárbaro assassinato do menino João no Rio de Janeiro representa, simbolicamente, a morte de uma nação que forja ser uma nação. Forja segurança, forja seriedade. No Brasil até o caráter é forjado. As idéias são voláteis, a caridade é interesseira. Forja-se postura política, e políticas públicas são meros artifícios para beneficiar interesses individuais. E nós, de tanto forjar que acreditamos, ainda vamos assistir os muitos Joãos brasileiros sendo arrastados e esfolados até a morte.

Arrastada está sendo a nossa fé de que um dia será melhor. Não haverá nunca a manhã em que acordaremos em um país mais justo e digno enquanto ainda forjarmos estar escandalizados.

A polícia forja que prende, a comissão de direitos humanos forja que defende os direitos dos humanos, o Estado forja que toma uma atitude e nós forjamos indignação, quando na verdade fomentamos apenas a contemporização. Até atingir alguém do nosso círculo.

Somos cúmplices a partir do momento em que, acomodados, outorgamos a um Estado moralmente falido e viciado toda a responsabilidade pelas nossas necessidades básicas.

A Justiça no Brasil é exercida por justiceiros com a conivência do Estado. Sempre foi assim, porque a política se alimenta da miséria e da desgraça da população. O Estado fecha os olhos para o crime, porque não compensa gastar "cacife" com ações estruturais. Políticas sociais são confundidas com caridade e cada vez mais o poder do criminoso sai de controle e, quando isso acontece, o próprio Estado estimula a criação de milícias que, no passado, já receberam o nome de Serviço de Diligências Especiais, Esquadrão da Morte, Scuderie Le Cocq, Invernada de Olaria e vários outros apelidos, mas que nada mais são que o próprio Estado legitimando a ilegalidade. Essas organizações forjam um perfil moralista de manutenção da ordem pública e de defesa da sociedade contra os elementos indesejáveis. O Estado forja coibir e a população forja acreditar que está em segurança.

Não há meios de combater ou deter a estrutura criminosa no país seguindo as leis. A coisa chegou a tal ponto que o Estado necessita de milícias, como a do Rio, para enfrentar o crime. Como explicar que a milícia carioca ocupe o morro e expulse os traficantes? Por que as milícias, compostas por policiais, ex-policiais e bombeiros são capazes de ocupar o morro e expulsar os traficantes? Por que não o Estado? Simplesmente porque agem à margem da lei e dos direitos humanos. Agem como se traficantes fossem. O Estado não pode agir assim, mas incentiva a proliferação dessas milícias, mesmo forjando combater, e nós, mais uma vez, forjamos acreditar.

Sim, o crime é mais organizado que o Estado, e conseguiu isso porque tem a cumplicidade do político que não tem interesse em combatê-lo. O Estado não dá certo, não é organizado e nunca será enquanto não conquistar a cumplicidade do político. Roubar de uma quadrilha é punição certa, muitas vezes com sentenças de morte. Roubar do Estado é garantia de sucesso. Poucos vêem que o Estado somos nós, seqüestrados, reféns e coniventes. O brasileiro parece sofrer da Síndrome de Estocolmo. Desenvolvemos uma relação de paixão e dependência pelos que nos seqüestram, roubam e matam.

Em poucos dias ou semanas o menino João será esquecido e ficaremos à espera do próximo João, ou quem sabe Maria, que terá de morrer de forma ainda mais cruel e monstruosa. Do contrário, nem impacto provocará.

*Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ.

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