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Lorena, Renan e Rafael: aonde a pele preta possa incomodar

Congresso em Foco

2/2/2020 | Atualizado às 14:05

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DJ Renan da Penha [fotografo] Reprodução [/fotografo]

DJ Renan da Penha [fotografo] Reprodução [/fotografo]
Lorena Vieira foi até uma agência do Banco Itaú na última sexta-feira de janeiro de 2020. Ela desejava fazer uma movimentação de alto valor (sic) em sua conta, R$ 1.500,00. Os funcionários do banco chamaram a polícia. Lorena, como se pode imaginar pelo enredo da história, é negra. A Polícia Civil declarou que não havia nada de errado com a jovem e nem com o documento apresentado. O banco disse que o cabelo de Lorena estava diferente na foto do RG. A polícia mudou a versão e disse que o documento é falso. Lorena rasgou o documento. A pele preta incomodou e rapidamente racistas transvestidos de conservadores passaram a afirmar que a jovem é criminosa, mesmo sem ela ter ido a julgamento.
> O abutre não aguenta te ver livre, imagina te ver rei
Se é a primeira versão da polícia que está certa ou a segunda eu não posso afirmar, mas uma coisa eu sei: Lorena já sabe que o tom de sua pele influenciou no enredo desta história toda.
A família de Lorena já viveu algo muito parecido. O marido da jovem, DJ Renan da Penha foi preso em 2019. Ele havia sido absolvido em primeira instância da acusação de ser olheiro do tráfico. O curioso é que "por um acaso", Renan é organizador do Baile da Gaiola, o maior baile funk do Rio de Janeiro. Jovem, preto, bem sucedido, conhecido e respeitado na comunidade... Na cabeça de alguns só pode ter envolvimento com o tráfico.
Não havia provas em primeira instância e ele foi absolvido. Mas não dava pra ser verdade. "Como assim, um pretin desse ter dinheiro, ser bem relacionado, ser respeitado apenas por ser artista? Aliás, artista do que? Ele não faz arte, ele toca funk", pensaram algumas autoridades graduadas. Assim como aconteceu agora com sua esposa, a Justiça voltou atrás e em segunda instância condenou o DJ. Ele foi preso e condenado a seis anos de cadeia. As músicas de Renan foram consideradas apologia ao tráfico de drogas e o DJ, reitero esta parte, bem sucedido e muito famoso no RJ, foi condenado como olheiro do tráfico. Olheiro é uma das funções iniciais do tráfico. A história de Renan, em resumo é essa: jovem, famoso, nasceu pobre e cresceu na vida, passou a ter dinheiro, depois resolveu ser olheiro do tráfico, segundo o Justiça. Inocentado em primeira instância por falta de provas e culpado em segunda por haver provas o suficiente. Estranho? Eu não acho, a pele preta incomodou. Infelizmente essa história não é exceção.
Aonde a pele preta possa incomodar. Um litro de Pinho Sol pra um preto rodar. Pegar tuberculose na cadeia faz chorar. Aqui a lei dá exemplo mais um preto pra matar

Rafael Braga é um jovem negro que foi preso há sete anos, analfabeto. Ele estava nas manifestações no dia 20 de junho de 2013. Você deve se lembrar, milhões de pessoas tomaram as ruas em todo o país para lutar contra o governo. O slogan da vez era "não é só 20 centavos", se referindo ao aumento do valor do transporte coletivo. Pois bem, lá estava Rafael com sua mochila, dentro dela estavam dois produtos de limpeza, sendo eles um litro de Pinho Sol e um desinfetante da marca Barra, ambos lacrados.

Ele foi abordado e preso sob a acusação de portar material explosivo, que segundo a polícia serviria para a criação de um coquetel molotov.

Rafael foi único preso condenado de toda manifestação. No dia 12 de janeiro de 2016 o jovem estava em regime semiaberto e caminhava para a padaria com sua tornozeleira eletrônica devidamente no lugar, quando foi abordado por policiais. Segundo seu relato e de uma testemunha, ele foi levado para um beco e, sob agressões e ameaça de um fuzil, os policiais queriam que ele delatasse onde morava o traficante da região.

Alegando não ter o que falar, Rafael Braga foi conduzido para a delegacia e lá chegando deparou-se com 0,6 gramas de maconha, 9,3 gramas de cocaína e um rojão que os policiais afirmaram ser dele. O ex-catador de papelão foi condenado a 11 anos e três meses de prisão por tráfico e ao pagamento de R$ 1.687,00. Ele contraiu tuberculose na prisão e agora segue em regime domiciliar (ou seja, no barraco onde mora) fazendo tratamento para a doença.

Na porta do cursinho, sim, docim de campana. LSD, me envolver, tem a manha. Diz que é contra o tráfico e adora todas as crianças. Só te vejo na biqueira, o ativista da semana

Agora vamos contar um outro lado da mesma moeda? Breno Fernando Solo Borges, 37 anos, é branco. Ele foi preso com 130 quilos de maconha, centenas de munições de fuzil, além de uma pistola nove milímetros. Passou noventa dias numa penitenciária em Três Lagoas e foi transferido para uma clínica em Campo Grande. Ele é filho de uma desembargadora. Renan da Penha foi preso por "apologia ao tráfico" e sob acusação de ser olheiro. Sem provas, segundo o juiz de primeira instância. Sua esposa está sendo acusada de usar RG falso, que era verdadeiro na primeira versão da polícia. Rafael Braga foi preso por portar o perigoso Pinho Sol e depois foi preso novamente por ter consigo, segundo a acusação da PM que é negada por ele e por uma testemunha, 0,6 gramas de maconha, 9,3 gramas de cocaína e um perigosíssimo rojão. Breno estava com 130 quilos de maconha, munições de fuzil, pistola e não está em uma penitenciária.
Enquanto isso a elite aplaude seus heróis
Não se trata de defender bandido, muito pelo contrário. Se revoltar com enredos assim é justamente ser favorável à prisão de gente perigosa. Enquanto o Estado se preocupa em encarcerar gente que nasceu com a pele preta, filhos de desembargadoras transportam armas pesadas. Enquanto a polícia de São Paulo é responsável por um massacre em Paraisópolis, raves acontecem debaixo dos narizes das autoridades e enchem os narizes da classe média branca.
A população carcerária no Brasil ultrapassa 800 mil presos. Desses, 41% não foram julgados. A maioria são negros ou pardos (61%).

Pegando dados apenas do estado do casal Renan e Lorena: morreram em ações policiais no Rio de Janeiro 1.810 pessoas em 2019, segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Do total, 48,63% das vítimas eram pardas e 26,47% eram negras. Apenas 14,8% das pessoas mortas em ações policiais eram brancas no RJ.

A verdade é que não se trata de guerra as drogas, nunca se tratou, se trata de guerra aos pretos. Siga a coluna: Twitter | Facebook | Instagram. > Leia outras colunas e matérias de Erick Mota > Que em 2020 não se exclua ninguém  
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