Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. Abelardo da Hora, inconfundível valente social

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

Abelardo da Hora, inconfundível valente social

Congresso em Foco

9/10/2014 7:00

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
Partiu num dia cinzento, em Recife, o companheiro Abelardo da Hora. Egresso de uma geração que carregava sonhos e indignações, e com a qual aprendi a olhar o mundo nas suas contradições e desafios. Investiu-se da têmpera de um forte, mesmo nos momentos mais aterradores a que fomos arrastados pelas garras da ditadura militar de 64. Abril de 1964, 2ª Cia de Guardas do Exército, em Recife. Foi ali que o terror pelas botas de Justino Alves, Bandeira, Ibiapina e Vilok escancararam as portas daquela masmorra e lançaram Abelardo da Hora, Paulo Cavalcanti, Francisco Julião, Miguel Arraes, Agassiz Almeida, Clodomir Moraes e tantos outros companheiros nas infâmias da condição humana. O viandante de sonhos que ora tomba no chão da história nos marcou com grandeza moral: não fraquejemos, vencidos são os covardes golpistas. Respondi: "Companheiro, por nós falará a história no amanhã dos tempos". No rastro da partida daquele valente o que ele deixa ao mundo? Visualizou a arte para além do efêmero na dimensão de um Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci e Portinari; nos embates políticos fez-se um intimorato. Tragado pela fúria da tirania militar, ele desconhecia o medo e nos dizia nas horas dantescas: Nós contemplamos horizontes e os verdugos as suas botas. Olhava as elites do país como verdadeiros felinos, sempre à espreita de desferir botes no povo brasileiro. Quando a ditadura militar calou a sua voz, fugiu com a sua arte para o infinito do tempo, e nela plasmou no bronze o grito arrebatador de camponeses com braços estendidos para o alto a bradar: basta de tiranias, queremos trabalhar. Da indignação rebentada daquele bronze, do martirológio dos setenta imolados do Araguaia, do corpo pendurado de Herzog num fabricado suicídio, a ditadura acovardou-se. Das mãos geniais do imortal pernambucano alteia-se este sentimento: somos movidos pela fé das nossas convicções. Olhemos as suas esculturas, que retratam profundas inquietações contra agressivas injustiças sociais. Por um momento, elas nos transportam às telas de Rembrandt, sombrias e interrogantes. Em inúmeras decisões e lutas políticas estivemos ombro a ombro. Por ocasião das homenagens que o Ministério Público de Pernambuco prestava a vultos históricos, o escultor de olhar imenso soltou este petardo: Vou esculpir em bronze torturadores vomitando mortos desaparecidos. Naquela sinistra prisão da 2ª Cia de Guardas onde nos lançaram, terríveis pesadelos nos assaltavam desvairando-nos: oh, nossas vidas nas mãos de deformados morais. Abraçou o marxismo como a melhor forma de analisar o mundo e retratar a espoliação dos povos. Aquele obelisco, em mármore, "Os retirantes", no Parque Dona Lindu, em Recife, parece falar a linguagem de todos os desencontrados da vida. Um torturador da ditadura na sua obsessão de odiar aterrorizou-se imaginando uma apologia à revolta dos camponeses. Que geração aquela impulsionada por tantos sentimentos juvenis. Idealistas, depois fomos mais além; tornamo-nos revolucionários por novos mundos! Quanto de juventude inteligente a ditadura devorou! Oh! Juventude, quanto de ideais tu ofereceste no altar dos teus sonhos! Que imbatível lidador das artes e das lutas políticas! Abelardo da Hora carregou a flama dos grandes indignados. Na noite sinistra dos deformados torturadores, cães-humanos, a nossa geração desatou a sua inconformação na pena, nas artes e na ação revolucionária; um deles, o genial escultor circum-navegou a vida das formas esculturais às lides políticas com a desenvoltura de um valente, e a certa altura dos tempos, embalaram-no os cânticos do poema, Canção inacabada, de Pablo Neruda. Que fiquem estas palavras ao companheiro Abelardo da Hora: "Da eternidade para a vida fale a tua história, construída com a têmpera dos intimoratos e a sensibilidade dos poetas". * Agassiz Almeida, escritor, ativista dos direitos humanos, ex-deputado federal constituinte, autor das obras: 500 anos do povo brasileiro (Ed. Paz e Terra), A república das elites (Ed. Bertrand Brasil), A ditadura dos generais (Ed. Bertrand Brasil), O fenômeno humano: Os verdadeiros objetivos da viagem de Charles Darwin na H.M.S. Beagle (Ed. Contexto). Assine a Revista Congresso em Foco
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

Miguel Arraes recife Fórum agassiz almeida Abelardo da Hora Paulo Cavalcanti Francisco Julião Clodomir Moraes ditaduramilitar

Temas

Direitos Humanos

LEIA MAIS

Senado

Comissão de Direitos Humanos realiza audiência sobre PNDH-3

ACESSIBILIDADE

Câmara avança com projeto de intérpretes de Libras no turismo

NOTÍCIAS MAIS LIDAS
1

JÚRI DE JORNALISTAS

Conheça o time de jornalistas que vota no Prêmio Congresso em Foco

2

Revisão

Haddad diz estar aberto a flexibilizar mudanças no seguro-defeso

3

Ocupação da Câmara

Deputado que ocupou Câmara pede punição até para ele mesmo

4

PLATAFORMAS DIGITAIS

Após vídeo de Felca, Lula enviará ao Congresso projeto sobre big techs

5

EXTRADIÇÃO

Zambelli passa mal em audiência e julgamento na Itália é adiado

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES