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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Henrique Fróes e Gabriele Cornelli
17/6/2017 | Atualizado às 9:07
 
 
 [fotografo]Reprodução[/fotografo][/caption]Na comédia, Dêmos, o Seu Povo,  é bajulado o tempo todo por um servo de nome Paflagônio, de profissão curtidor, que representa na comédia a figura  do demagogo: "safado e impostor como é, compreende imediatamente o caráter do dono". Os outros servos, indignados, tentam derrubar Paflagônio com a ajuda do coro da comédia, representado pelos cavaleiros. E apostam todas suas fichas em uma nova figura política emergente na ágora ateniense, a de um salsicheiro. A inversão cômica da política como devia ser é evidente: em lugar do servo corrupto, o pretenso golpe pretenderia colocar no poder um ignaro salsicheiro.
A farsa não se exime de representar, em tons cômicos, a surpresa do salsicheiro ao ser apontado como candidato ao governo. O coitado afirma ingenuamente não sentir-se à altura da responsabilidade, mas de pronto recebe de um servo uma aula de como agir: "É a coisa mais fácil do mundo: faça como sempre faz: misture, embrulhe todos os miúdos juntos, puxe o saco do povo sempre, adoce-o com frases típicas de um vendedor de comida. As virtudes do demagogo já as tens, tens tudo o que é preciso para a política".
Paflagônio e o salsicheiro vão, então, disputar para ver quem atrai a simpatia do povo. Como em uma corrida eleitoral contemporânea, vale-tudo: os dois "candidatos" trocam ameaças, insultos e denúncias. Mas o que será decisivo para ver quem será o escolhido é a distribuição de benesses para os "eleitores". Cada um dos adversários enche um cesto e sai pela cidade distribuindo suas iguarias: tortas, empadas, sopas, purês.
O salsicheiro vence a disputa ao esvaziar o seu estoque - enquanto Paflagônio mantém o seu cesto ainda cheio - demonstrando, assim, que o desafiante não economiza na hora de satisfazer o povo. Mas, nada de pensar aqui nos eleitores como pobres coitados enganados: eles apenas se aproveitam da situação para benefício próprio.
Farsa inevitável?
A farsa aqui está na imagem invertida daquela que deveria ser a figura do político democrático. Aristófanes escancara o clima de derrota ética da cidade, a sensação de que o mundo da política está "de cabeça para baixo". Por trás dos Cavaleiros, há, claramente, uma crítica nem tão velada ao político populista Cléon e mais em geral à política ateniense envolvida já há alguns anos nas agruras da Guerra do Peloponeso e de uma instabilidade política interna de golpes e contragolpes.
Mas, como sempre nos grandes escritores de nossa cultura, Aristófanes parece conseguir ir além da crônica imediata de um desastre iminente e esboçar algo como uma tipologia ideal de figuras políticas, caricatas certamente, mas se formos olhar para as páginas de política atuais, talvez nem tanto. O que encontramos na comédia antiga que o denuncia de uma política corrompida tão profundamente pelos interesses pessoais e pela falta de qualquer tipo de preocupação ética ao ponto de - como diz Aristófanes -  "com uma moeda de cebolas, colocar no bolso toda a Assembleia".
A comédia da política ateniense continua denunciando assim a tragédia e ainda a farsa de tanta política contemporânea, que muitas vezes parece mais um mercado lotado de salsicheiros, fregueses e o toma-lá-dá-cá das cebolas.
Leia também:
Sócrates e a Lei de Gérson
Por que uma coluna de Filosofia nos dias atuais
[fotografo]Reprodução[/fotografo][/caption]Na comédia, Dêmos, o Seu Povo,  é bajulado o tempo todo por um servo de nome Paflagônio, de profissão curtidor, que representa na comédia a figura  do demagogo: "safado e impostor como é, compreende imediatamente o caráter do dono". Os outros servos, indignados, tentam derrubar Paflagônio com a ajuda do coro da comédia, representado pelos cavaleiros. E apostam todas suas fichas em uma nova figura política emergente na ágora ateniense, a de um salsicheiro. A inversão cômica da política como devia ser é evidente: em lugar do servo corrupto, o pretenso golpe pretenderia colocar no poder um ignaro salsicheiro.
A farsa não se exime de representar, em tons cômicos, a surpresa do salsicheiro ao ser apontado como candidato ao governo. O coitado afirma ingenuamente não sentir-se à altura da responsabilidade, mas de pronto recebe de um servo uma aula de como agir: "É a coisa mais fácil do mundo: faça como sempre faz: misture, embrulhe todos os miúdos juntos, puxe o saco do povo sempre, adoce-o com frases típicas de um vendedor de comida. As virtudes do demagogo já as tens, tens tudo o que é preciso para a política".
Paflagônio e o salsicheiro vão, então, disputar para ver quem atrai a simpatia do povo. Como em uma corrida eleitoral contemporânea, vale-tudo: os dois "candidatos" trocam ameaças, insultos e denúncias. Mas o que será decisivo para ver quem será o escolhido é a distribuição de benesses para os "eleitores". Cada um dos adversários enche um cesto e sai pela cidade distribuindo suas iguarias: tortas, empadas, sopas, purês.
O salsicheiro vence a disputa ao esvaziar o seu estoque - enquanto Paflagônio mantém o seu cesto ainda cheio - demonstrando, assim, que o desafiante não economiza na hora de satisfazer o povo. Mas, nada de pensar aqui nos eleitores como pobres coitados enganados: eles apenas se aproveitam da situação para benefício próprio.
Farsa inevitável?
A farsa aqui está na imagem invertida daquela que deveria ser a figura do político democrático. Aristófanes escancara o clima de derrota ética da cidade, a sensação de que o mundo da política está "de cabeça para baixo". Por trás dos Cavaleiros, há, claramente, uma crítica nem tão velada ao político populista Cléon e mais em geral à política ateniense envolvida já há alguns anos nas agruras da Guerra do Peloponeso e de uma instabilidade política interna de golpes e contragolpes.
Mas, como sempre nos grandes escritores de nossa cultura, Aristófanes parece conseguir ir além da crônica imediata de um desastre iminente e esboçar algo como uma tipologia ideal de figuras políticas, caricatas certamente, mas se formos olhar para as páginas de política atuais, talvez nem tanto. O que encontramos na comédia antiga que o denuncia de uma política corrompida tão profundamente pelos interesses pessoais e pela falta de qualquer tipo de preocupação ética ao ponto de - como diz Aristófanes -  "com uma moeda de cebolas, colocar no bolso toda a Assembleia".
A comédia da política ateniense continua denunciando assim a tragédia e ainda a farsa de tanta política contemporânea, que muitas vezes parece mais um mercado lotado de salsicheiros, fregueses e o toma-lá-dá-cá das cebolas.
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