Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. As causas anônimas da quinta-feira 13

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

As causas anônimas da quinta-feira 13

Congresso em Foco

20/6/2013 | Atualizado 26/6/2013 às 1:43

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
Bajonas de Brito Júnior * Os jornalistas e analistas políticos das mídias tradicionais se esforçam para acertar, no chute, a origem do fenômeno. Uns dizem que foi o sistema de "mobilidade urbana" (a expressão virou moda, depois de servir às empreiteiras para moverem muito dinheiro dos cofres públicos), porque o maior problema são as passagens no país inteiro. Outros afirmam que foram as obras da Copa, fala-se também da situação da saúde e da educação e há quem jure que a causa de tudo foi a corrupção (foi o que disse anteontem ao vivo Jorge Pontual, na Globonews, direto de New York como sempre, insistindo que tudo - passagens, obras da Copa, saúde, etc. - está como está por causa dos corruptos). A esse rosário juntam-se ainda a PEC 37, o Marco Feliciano no Congresso (que aprovou a Cura Gay em meio à onda de protestos no país, tão petulante está o fundamentalismo evangélico), a inflação e o tomate, as repressões contra os índios, como vimos recentemente no Museu do Índio no Rio, e o assassinato de um índio em desocupação comandada pela Polícia Federal. Na verdade, o que é mais fácil do que apontar causas para a revolta popular no Brasil hoje? Não é uma ou outra barbaridade, é quase tudo que está submerso no caos. De uma coisa, porém, a grande mídia tem se esquecido de mencionar: a própria mídia brasileira e suas manipulações grosseiras. Mas isso já seria pedir demais, não? O fato é que até a quinta-feira 13, as maiores redes repetiam em uníssono que as cidades não podiam ficar reféns de uns poucos vândalos e baderneiros radicais. Mas, de repente, dois fatos novos vieram espalhar o pânico nas edições: as tentativas fracassadas do Datena, ao vivo, de manipular a opinião contra os manifestantes e a pesquisa do Datafolha mostrando a maioria da população favorável aos manifestantes. Esses dois acontecimentos tiveram lugar na noite do dia 13. Até aquele momento, o horror aos vândalos era o sentimento comum que unia o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, e, para além deles, toda a classe política do país e a mídia.  O comentarista de Globo News em São Paulo, no início da noite do dia 13, repetia sem cessar "o Brasil é um país da paz, e é muito preocupante assistir aos atos de violência dos manifestantes".  No mesmo momento, o ministro da Justiça, o quase sempre invisível Cardozo, havia acabado de dar declarações raivosas sobre a necessidade do combate ao vandalismo. Mas aí veio a hecatombe: a maioria da população estava a favor dos manifestantes, mostrava o Datafolha. E pior: açulada pelos discursos sanguinários de Cadozo, Alckmin e Haddad, e o silêncio omisso de Dilma, a PM de São Paulo foi para cima com métodos para lá de fascistas: atirando balas de borracha no rosto dos que insistiam em filmar (Só a Folha de S. Paulo teve dois jornalistas feridos desse modo), distribuindo golpes de cassetetes a torto e a direito, lançando bombas de gás lacrimogêneo a granel, espancando expectadores, ciclistas, moradores, adolescentes, mulheres e prendendo manifestantes ou quem estivesse mais à mão. Mas o tiro saiu pela culatra: no dia seguinte ficou evidente que a população rejeitava os métodos policiais e se compadecia com as agressões sofridas pelos estudantes. O efeito moral das bombas lançadas pela PM de São Paulo foi o de desmoralizá-la. Com isso, três centros de domínio tradicionais no Brasil, a polícia, a mídia e a política, se viram de repente privados do seu poder mágico de conduzir a boiada. E essa privação foi profunda. Os políticos não conseguiram refazer os seus discursos porque, como o samba de uma nota só, todos eles se apoiavam numa única premissa: alguns partidos políticos (leia-se Psol e PSTU) estariam por trás dos panos conduzindo os protestos.  Mas logo ficou claro que isso não era possível, uma vez que as pesquisas mostraram que a maior parte dos manifestantes não tinha partido, foi mobilizada pela internet, e trazia para as ruas bandeiras sociais próprias. Perplexos da quinta-feira 13 até o domingo 16, começaram a refazer o discurso com declarações, nada convincentes, sobre a importância de ouvir a voz das ruas, o direito democrático de manifestação, a importância de os jovens participarem em um movimento democráticos, etc. Uma fraseologia feia e antiquada, ainda pior (piu cafona, como dizem os italianos) do que o jargão tradicional.  Dilma falou, para elogiar, entredentes, o movimento e o direito à manifestação. A polícia ficou alarmada com o apoio da população aos estudantes e, por isso, inteiramente impotente enquanto instituição, com a nova identidade com que foi carimbada de uma vez por todas pela opinião pública: violenta e brutal. Sua repetição clara das práticas da ditadura militar foi apontada e unanimemente repudiada. Não foi mais através da televisão e de seus âncoras escolados que a população buscou informação sobre a violência policial, mas nos vídeos do Youtube e do Facebook. A polícia então - freada pelos políticos e desprezada pela população e, pior, intimidada com a disposição dos manifestantes que, ao invés de se acovardarem com o terror policial, foram às ruas ainda em maior número e com mais fúria - se viu paralisada. No Rio e em São Paulo houve relatos de policiais encurralados e cercados, literalmente, emparedados pelo movimento. No prédio da Assembleia Legislativa do Rio, o palácio Tiradentes (que um especialista da COPPE-UFRJ, escalado para comentar na Globo News na quinta-feira 13, afirmou ser do século XVIII, quando na verdade foi inaugurado em 1926, no lugar em que antes havia o prédio da Cadeia Velha, essa sim do século XVIII), um grupo de policiais ficou cercado. Parece que de lá de dentro, na segunda-feira, partiram tiros com munição real que feriram um manifestante negro. Em outro parte da cidade, um grupo de PMs foi cercado e se refugiou nos fundos de uma agência bancária. A mídia, desarmada com a atitude da população (ou seja, dos expectadores que "dão o Ibope") de apoio aos manifestantes e de repulsa aos policiais, teve de se ajeitar ainda no ar. Datena, depois de duas tentativas de manipular a enquete feita ao vivo (cuja aberração chegava ao ponto de colocar o Não antes do Sim, e já atribuir um ponto ao primeiro antes de começar a pesquisa), lançou mão da reviravolta retórica mais repulsiva da história (já bem repulsiva) da mídia televisiva brasileira. Vale reproduzir: "Fazia muito tempo que não via uma manifestação democrática e pacífica assim. É o povo. O povo está descontente. Eu falei que ninguém queria aumento. Entre bandido e polícia, prefiro a polícia. Entre povo e polícia, prefiro o povo". E a mídia foi obrigada a fazer o mesmo em todas as emissoras. O discurso passou a ser favorável aos manifestantes. Mas isso não se fez sem que fosse posta no ar uma reinterpretação dos protestos. Nessa, a tentativa mais constante é de atribuir as mobilizações à classe média irritada com a corrupção, ou seja, se trataria de recuperar o espectro da classe média de direita fazendo dela o agente principal das manifestações. Os jovens rebeldes se transformaram em bons filhos de família, bem comportados, que estariam tendo sua primeira lição de democracia, salutar e necessária. Mas isso passa longe da verdade. Primeiro, a mídia não quer perceber que, de certa forma, a quinta-feira 13 marcou o seu enterro. A comunicação pública se cristalizou em torno do Facebook e do Youtube (a proibição dos dois pode ser o objeto da próxima PEC ou do próximo projeto de lei a ser aprovado na Comissão dos Direitos Humanos de Marco Feliciano, cuja falta de tato político chegou ao extremo com a aprovação da Cura Gay durante os protestos), dos sites e dos blogs. A TV, aberta ou por assinatura, se tornou supérflua no que diz respeito ao acompanhamento do movimento e todos os seus desdobramentos. Ainda que traga enormes limitações culturais e intelectuais (como a amizade administrada e as relações controladas no mundo virtual), o Facebook foi o meio (a mídia) sem a qual os protestos não teriam nunca alcançado as proporções que atingiu. O ponto final é a questão que se liga aos pontos anteriores, da representação ou "personalidade jurídica" do movimento. Se fosse possível dizer, seríamos obrigados a falar em uma "personalidade jurídica anônima e dispersa", cuja força está precisamente nisso. As forças políticas tradicionais (e os partidos que estão à frente delas, o PT e o PSDB) não têm por onde pegar o movimento, porque não encontram liderança que possam cooptar. Não há como fazer ofertas, prometer cargos, acenar com falsas promessas. É o mesmo problema da polícia: não há como prender lideranças em um movimento que tem muitas? E, talvez, uma das repulsas do movimento seja justamente à política das lideranças, aos políticos com influencia, àqueles que são as caras eleitas pelos ruralistas, banqueiros, empresários, empreiteiros, para tocarem seus interesses. A inesgotável multiplicidade de eventos e relações permitidas pelo virtual, dentro do qual cresceu a maior parte da geração que hoje se manifesta, ensinou que a exclusividade que serve de auréola às lideranças tradicionais não mais seduz. Ao saírem da frente da tela para as ruas e praças, ou seja, ao entrarem em "contato presencial" com uma massa viva, isso já oferece uma satisfação libidinal que dispensa o desejo de ser liderança. Sequer faz sentido mais essa figura. Essa nuvem de anônimos escapará de todas as tentativas da política tradicional, da mídia e da polícia de enquadrá-los. Ela é fluida demais para ser quebrada, cooptada, encarcerada, dividida ou conduzida. A não ser através do fechamento do Facebook e do Youtube (como se propôs na Turquia por esses dias). Mas, na direção inversa, a política tradicional, a mídia corporativa e a polícia truculenta não têm como escapar ao cerco da massa de anônimos. * É doutor em Filosofia, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas. É coordenador da revista eletrônica Revista Humanas e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Outros textos sobre as manifestações
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

São Paulo Polícia Federal mídia José Eduardo Cardozo cidadania Comissão de Direitos Humanos Marco Feliciano Geraldo Alckmin Datafolha Facebook Nova York cura gay Fernando Haddad Fórum Bajonas de Brito Júnior manifestações populares protestos 020 youtube Jorge Pontual Globonews o brasil nas ruas

Temas

Reportagem

LEIA MAIS

Pesquisas

População vê Lula e Bolsonaro como culpados por fraudes no INSS

GOVERNO

Haddad entra em férias com impasse do IOF a pleno vapor

JUDICIÁRIO

Mauro Cid depõe na PF sobre suspeita de fuga do Brasil

NOTÍCIAS MAIS LIDAS
1

COMÉRCIO

Câmara vota fim da regra que exige acordo para trabalho em feriados

2

Piso Salarial

Comissão da Câmara aprova piso salarial para tradutores e intérpretes

3

GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Grupo de políticos brasileiros tenta sair de Israel pela Jordânia

4

TRÊS PODERES

Entenda as "emendas paralelas" que entraram no radar do STF

5

Agenda

Lula participa de Cúpula do G7 no Canadá

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES