Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
18/3/2013 | Atualizado às 8:03
[/caption]
Eduardo Militão e Lúcio Lambranho *
Desde o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Caixa Econômica Federal mantinha contrato com a Gtech, que fornecia serviços de tecnologia para as casas lotéricas espalhadas pelo Brasil. O acordo comercial venceria em janeiro de 2003. Em 2002, no final do mandato tucano, a Caixa propôs renovar os serviços por mais seis meses, obter desconto de 25% e obter parte da tecnologia. A empresa não aceitou.
Em janeiro de 2003, no início do primeiro governo Lula (PT), o contrato foi renovado por três meses. O ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz se reuniu em um hotel com os interessados no negócio. Em 8 de abril, o contrato foi renovado por 25 meses ao valor de R$ 650,25 milhões. De 1997 a 2006, o negócio rendeu prejuízos de R$ 433 milhões à Caixa, de acordo com análise do TCU.
As reuniões de Waldomiro aconteceram no Hotel Blue Tree, em Brasília com o lobista e bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o presidente da Gtech, Antônio Carlos Lino, e diretor comercial da empresa, Marcelo Rovai. De acordo com as decisões judiciais que condenaram o ex-assessor do ex-ministro José Dirceu, o primeiro encontro foi em 13 de fevereiro.
Uma declaração de José Dirceu à Justiça comprometeu Waldomiro: o ex-ministro da Casa Civil disse que tratar de negócios da Caixa não era função de seu subordinado. Para o juiz Márcio Silveira, o então assessor da Presidência extrapolou suas funções e autuou para beneficiar terceiros. "Ainda que ele não tivesse dito nada nas três reuniões de que participou, a simples presença como representante do governo já seria suficiente para caracterizar o ato de improbidade pela extrapolação de suas funções, com o objetivo claro de beneficiar particulares", avaliou Márcio Silveira. Os beneficiários eram Cachoeira e o advogado Rogério Buratti.
Contradição
Dias depois, na segunda reunião, solicitada por Waldomiro, Rovai e Lino disseram que o assessor do Planalto pediu a contratação de Buratti. "Waldomiro deixou claro que, para que o contrato fosse assinado, a pessoa que iria procurá-los teria que ser contratada", disse Lino em depoimento. O ex-assessor do Planalto negou, mas o juiz afirma que ele entrou em contradição. "Sem sombra de dúvida, (...) Waldomiro Diniz efetivamente advertiu os representantes da Gtech de que o contrato com a CEF só seria assinado se Rogério Buratti fosse contratado pela empresa como consultor", afirmou o juiz da 7ª Vara. Afirma o magistrado em sua sentença:
"Utilizou-se de sua posição, dos meios materiais, como agente político, para patrocinar o interesse de particular como o senhor Carlos Augusto de Almeida Ramos na empresa Gtech, assim como para servir de intermediário na contratação de Rogério Buratti como consultor da empresa Gtech, e propiciar a obtenção de vantagem pecuniária pela interferência indevida em processo de renovação de contrato envolvendo a CEF, empresa pública."
Sem dinheiro
Para o juiz, não houve provas de que Waldomiro e Buratti receberam propinas. Apesar disso, Márcio Silveira afirma que a conduta ímproba do assessor da Presidência foi confirmada. "Houve violação aos princípios da moralidade pública e da legalidade", afirmou ao Congresso em Foco o coordenador da Defesa da Probidade da AGU, Roberto D'horn, um dos responsáveis pelo caso.
Este não foi o caso de Buratti, na visão de Márcio Silveira, que o absolveu das acusações. Mas, em recurso ao TRF-1, o Ministério Público Federal e a AGU conseguiram aumentar a punição a Waldomiro e condenar o advogado ligado a Palocci. O relator do caso na 3ª Turma do tribunal, o juiz convocado Guilherme Doehler, disse que foi provado "o engendramento de um verdadeiro conluio dentro da Casa Civil da Presidência da República para a obtenção de vantagens indevidas pelos réus e por grupos em favor dos quais defendiam interesses". Em 13 de dezembro de 2011, o voto de Doelher foi seguido pelo desembargador Fernando Tourinho Neto e pelo juiz convocado Alexandre Franco.
Para os magistrados, a participação de Buratti foi comprovada. No relatório de Doelher, as afirmações do Ministério Público são endossadas: "Rogério Buratti (...) seria contratado pela empresa para prestar serviços de consultoria e intermediar a renovação do contrato com a CEF, fórmula essa viabilizada por ambos para justificar o recebimento indevido da 'propina' cobrada da Gtech". O suborno seria destinado a Waldomiro e a Buratti, segundo o procurador regional da República Nicolao Dino. Ele relatou a grande quantidade de telefonemas do advogado para diretores da Caixa à época dos fatos.
Valores exigidos
Os magistrados da 3ª Turma reafirmam que não foi comprovado o efetivo pagamento a Waldomiro e Buratti. Mesmo assim, o ato de improbidade estaria comprovado com a articulação dos dois no episódio. "Em 03/04/2003, o réu [Buratti] exigiu o pagamento de uma soma milionária em troca de que ele não impeça a assinatura do contrato, dizendo que sua não contratação no passado custara caro à Gtech", disseram os magistrados, seguindo o voto do juiz Doelher. O valor exigido seria de R$ 16 milhões, mas depois baixou para R$ 6 milhões.
Buratti tinha informações de dentro da Caixa, segundo os magistrados. "O réu Rogério Buratti advertiu aos interlocutores da reunião que o contrato não seria firmado naquela data, o que restou efetivamente confirmado com uma chamada telefônica da secretária da vice-presidência da Caixa cancelando a assinatura", disseram os juízes.
*Especial para o Congresso em Foco
Veja ainda:
Condenados no caso Gtech não pagam multa à União
Waldomiro diz que foi chantageado por Cachoeira
Tudo sobre Gtech
Curta o Congresso em Foco no facebook
Siga o Congresso em Foco no twitter
Vídeo: Saiba mais sobre o Congresso em Foco
Tags
Temas
SEGURANÇA PÚBLICA
Crise no Rio reforça necessidade da PEC da Segurança, diz relator
TRANSPORTE AÉREO
Câmara aprova proibição da cobrança por malas de até 23 kg em voos
Relações exteriores
Senado dos EUA aprova projeto que derruba tarifa contra o Brasil
TENTATIVA DE GOLPE
Entenda em 10 pontos o recurso de Bolsonaro contra a condenação no STF