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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Alfredo Sirkis
3/2/2014 | Atualizado 5/2/2014 às 16:15
Reencontrei Manuel Henrique quase uma década mais tarde, depois da anistia, quando voltei do exílio e ele saiu da prisão junto com Alex e outros companheiros como Nelson Rodrigues Filho, o "Prancha", nosso fotógrafo Jabour e o querido e já falecido amigo mineiro Zé Roberto Rezende. A única foto que tenho dele é essa acima, na qual está com outros presos na Ilha Grande, onde fizeram várias (uma delas longa e heróica) greves de fome.
O Rio tem um jeito seu de distanciar as pessoas e encontrei Manuel Henrique apenas esporadicamente aqui e ali ao longo de todos esses anos que passaram tão rápido. Nessa quarta-feira (29), pela manhã, me deparei com a noticia de seu falecimento em O Globo.
Me veio aquele turbilhão de lembranças antigas dos "anos de chumbo", de tanta revolta, devoção, ilusões e desatinos que remetem ao verso de Fernando Pessoa: "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". A de Manuel Henrique, certamente é grande e generosa.
Ouvi Pete Seeger pela primeira vez nas alturas de 1965 com seu LP Dangerous Songs. Me chamaram a atenção duas canções contra a guerra do Vietnam, uma trágica King Henry e a outra satírica Draft Dodger.
Era um músico de primeiríssima, inspirado que inspirou gerações, de Bob Dylan e Joan Baez, ao mais contemporâneo Bruce Springsteen, e um dos maiores conhecedores do folclore não só norte-americano como irlandês, escocês e inglês. Tinha canções hilárias. Me lembro de uma daquele primeiro disco que conheci, Pill, do compositor escocês Mac Maguin, que contava a espera de um trabalhador católico com vinte e dois filhos pela benção do Vaticano à pílula anti-concepcional. Espera até hoje...
Seeger foi perseguido pelo macarthismo, no início dos anos 50 e chegou a ser condenado à um ano de prisão por "desacato ao Congresso", ao se recusar a delatar pessoas, mas a queda em desgraça do maligno senador Joe Mc Carthy permitiu que ele se livrasse da pena. Depois ele teve um papel importante na mobilização pelos direitos civis, contra a guerra do Vietnam e, mais recentemente, do Iraque. Ele liderou numa das primeiras mobilizações ambientalistas norte-americanas, ainda nos anos 60, contra a poluição do rio Hudson.
Uma figura cheia de humor e irreverência, Seeger foi durante décadas uma referência da esquerda norte-americana e alvo de feroz hostilidade por parte dos republicanos.
Teve também seus arrufos no meio artístico. Diz a lenda que se irritou de tal maneira com Bob Dylan quando este adotou a guitarra elétrica que tentou cortar o cabo da dita cuja no palco com um machado. Seeger desmentia a história, embora criticasse Dylan naquele show por ter feito "demasiado barulho".
Os grandes músicos têm esse dom da imortalidade, permanecem conosco nas suas canções. Posso assim me consolar com meu I Tunes e continuar ouvido sua voz de tenor, possante e cristalina.
Detalhe final: foi Pete Seeger quem compôs o famoso If I had a Hammer, que rodou o mundo nas vozes variadas de cantores como Trini Lopez e Rita Pavone (datemi un martello e dime cosa fare...)
Axé, Manuel Henrique, axé, Pete Seeger.
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