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eleições 2024
Congresso em Foco
14/9/2024 15:57
Arilton Freres: regras eleitorais de financiamento não eliminam desigualdades na disputa[/caption]
Segundo o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), o financiamento público de campanha é a melhor solução. "É o custo da democracia. Nós jamais teríamos no Congresso negros, negras, gente pobre da favela e trabalhadores eleitos deputados ou senadores se não fosse o financiamento público. O financiamento público é, para muitos, a única forma deles poderem ocupar um espaço político, um espaço de poder em uma Câmara de Vereadores, no Congresso Nacional ou se tornarem prefeitos", diz Zeca. "Não havendo o financiamento público, obviamente, restariam apenas os ricos e poderosos financiando suas próprias campanhas, disputando e ganhando eleição. Isso distorceria a democracia, a representação política do país", afirma o ex-líder do PT.
Para o sociólogo Arilton Freres, basta analisar as inúmeras denúncias de corrupção que o país registrou nos últimos anos de financiamento de empresas para campanhas políticas, depois da redemocratização, para entender que o caminho adotado pelo Estado brasileiro foi importante na luta contra a corrupção e o caixa dois nas campanhas. Mas, de acordo com o diretor do Instituto Opinião, ainda é preciso aperfeiçoar o sistema. "Acho que precisa ser mais bem regulamentado, ter um controle social maior do recurso e tem de pensar em mecanismos de democracia interna dos partidos e, de fato, coibir o poder econômico." Apenas em alguns países é possível obter informações razoavelmente confiáveis sobre quanto dinheiro circula nas eleições, de onde vêm os recursos e como são gastos, como diz Khushbu Agrawal.
Mais mulheres
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Valores repassados às candidaturas, conforme declarado ao TSE, até 11 de setembro. Fonte: 72horas Artes: Kakau Nogueira[/caption]
Na tentativa de nivelar o campo de jogo, 30 países vincularam a provisão de financiamento público à participação política das mulheres, conceitualmente denominado financiamento público direcionado ao gênero. "Essas medidas visam não apenas remover as barreiras financeiras enfrentadas pelas mulheres, mas também são fundamentais para eliminar desigualdades que comprometem a integridade eleitoral", afirma a assessora do International IDEA.
Levantamento parcial da plataforma 72horas em parceria com o Congresso em Foco mostra que, até quinta-feira (11), mais de 70% dos recursos repassados às candidaturas estavam concentrados em homens.
Khushbu Agrawal lembra que os principais objetivos do financiamento público direcionado ao gênero são incentivar os partidos políticos a indicar mais candidatas mulheres, usando recompensas financeiras para vincular a quantidade de financiamento público fornecido ao nível de igualdade de gênero entre os candidatos; reduzir a carga financeira das candidatas mulheres, garantindo que recebam mais dinheiro para melhorar sua capacidade de competir de maneira mais eficaz nas eleições; e melhorar atitudes e apoio à igualdade de gênero por meio do uso de financiamento público para atividades de treinamento e sensibilização.
"O financiamento público direcionado ao gênero sozinho não pode resolver o problema da sub-representação das mulheres na política. Pode funcionar como complemento ou alternativa às cotas, onde a não conformidade significa que os candidatos de um partido não aparecerão na cédula. O financiamento público direcionado ao gênero deve ser visto como uma opção mais flexível para incentivar a igualdade de gênero nos partidos políticos, ou como uma ferramenta entre muitas. Isso pode incluir regulamentações formais, como redução das taxas de indicação de candidatas mulheres, redução das pressões de gastos ao impor limite de gastos para candidatos e garantir acesso igual à mídia para candidatos homens e mulheres", afirma Agrawal.
Risco de abuso
Embora a razão para fornecer financiamento público a todos os partidos políticos registrados seja promover o pluralismo político, isso também traz o risco de as pessoas abusarem do sistema criando novos partidos políticos ou concorrendo a cargos apenas para obter financiamento estatal. A maioria dos países com sistemas de financiamento público estabelece critérios claros para conceder acesso ao financiamento público aos partidos (um limiar de elegibilidade). O limiar de elegibilidade mais frequentemente usado em todo o mundo é fornecer financiamento apenas a partidos que conquistaram mais de uma certa porcentagem dos votos.
"O financiamento público gera distorções eleitorais, tira dinheiro público de onde é essencial e não necessariamente corresponde aos anseios da sociedade, especialmente no formato que é praticado hoje no Brasil, que tem um Fundo Eleitoral exorbitante, sendo a maior fatia destinado aos maiores partidos e, portanto, dificultando a renovação", afirma o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro. Ele lembra que a legenda sempre defendeu o financiamento privado para campanhas eleitorais, contanto que seja de forma transparente e com regras bastante claras, porque é o modelo mais justo e democrático.
Falando globalmente, doações estrangeiras, doações anônimas e doações de corporações, bem como corporações com contratos governamentais e corporações de países com governo parcial, estão sujeitas a proibições de doações. Atualmente 28% dos países no mundo proíbem doações corporativas a partidos políticos. Nesse sentido, o Brasil não é único. O financiamento público para partidos políticos é mais comum do que se pensa. Aproximadamente 71% dos 181 países, conforme o Banco de Dados de Financiamento Político do International IDEA, oferecem algum tipo de financiamento público para partidos políticos, seja regularmente ou em relação a campanhas ou ambos.
Distribuição do fundo eleitoral
Desde a decisão do Supremo Tribunal Federal, as campanhas eleitorais no Brasil têm sido predominantemente financiadas com recursos públicos. O montante total de recursos distribuídos pelo Fundo Eleitoral é estabelecido pela Lei Orçamentária Anual (LOA) e transferido pelo Tesouro Nacional para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por distribuir os valores aos diretórios nacionais dos partidos políticos.
De acordo com a Lei 13.487/2017, os recursos do Fundo Eleitoral são distribuídos conforme os seguintes critérios: 2% igualmente entre todos os partidos; 35% divididos entre aqueles que possuem ao menos um representante na Câmara dos Deputados, na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara; 48% divididos entre as siglas, na proporção do número de representantes na Câmara, considerando apenas os titulares; e 15% divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes no Senado Federal, também considerando apenas os titulares.
Os recursos do Fundo Eleitoral só estarão disponíveis para o partido político após a definição dos critérios de distribuição para seus candidatos, o que deve ser decidido pela Comissão Executiva Nacional da agremiação partidária, conforme exigido pela Lei das Eleições (Lei 9.504/1997).
O Fundo Eleitoral é liberado para o TSE até o primeiro dia útil do mês de junho do ano eleitoral. É importante ressaltar que os recursos do Fundo Eleitoral não são uma doação do Tesouro Nacional aos partidos políticos ou aos candidatos, devendo ser utilizados exclusivamente para financiar as campanhas eleitorais. Os partidos devem prestar contas do uso desses valores.
* Ricardo Marques de Medeiros, jornalista formado pela PUC de Campinas, com passagens por Folha de S.Paulo, Gazeta do Povo, Plural e assessorias de comunicação.Tags
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