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Congresso em Foco
16/7/2011 | Atualizado às 11:10
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Pois bem, eis a grande questão. Hoje eu não tenho nada a dizer pro casal que se beija na minha frente. Nem mentiras, nem verdades. Perdi a voz. Eles devem ter vinte e poucos anos, usam camisas xadrezes, barba, tênis All Star esgarçados e, no intervalo entre um beijo e outro, se distraem com o notebuque customizado. Nada do que eu disser a eles irá interessá-los. Posso plantar bananeira, comer ranho e atear fogo em Roma. Nem eu, nem qualquer outro escritor que passe de duzentos e quarenta caracteres, tem o poder de dizer qualquer coisa que interesse ao casal de barbudinhos que se beija logo na minha frente. Só existe, penso eu, um livro capaz de subverter a modorra, de gerar desconfiança e fazer "ouvir uma dúvida". Ou seja, provocar atritos e deslocamentos e, em última análise, produzir arte. O mais assustador, porém, é que - seguindo o preceito de toda obra de arte ... - as mensagens desse livro não primam exatamente pela tolerância e nem são muito conciliadoras, ao contrário: o conteúdo é confuso, repulsivo, ameaçador, beligerante e nitidamente anti-barbudinhos apaixonados. Tem mais: parece que há 1300 anos a bíblia foi pensada para a tecnologia de nossos dias. A maior parte dos seus versículos conta menos de 240 caracteres. Mark Zuckerberg é uma espécie de profeta Forrest Gump, e todos nós que temos uma conta no facebook estamos - inopinadamente - reescrevendo o livro sagrado. Não vai demorar muito para chegarmos ao apocalipse. E, enquanto os anjos do juízo final não assopram suas trombetas, vou deixar vocês com um pouquinho de Coríntios, 6:17: "Não sejais desencaminhados. Nem fornicadores, nem homens mantidos para propósitos desnaturais, nem homens que se deitem com homens, nem ladrões, nem gananciosos, nem beberrões, nem injuriadores herdarão o reino de Deus".***
Um livro que contém a palavra de Deus, seguramente tem o dedo do capeta, por isso faz tanto sucesso, eu acho.***
Neste ano da graça de 2011 d.C, segundo estimativas da PM, a parada gay reuniu 3 milhões de pessoas e os neo-evangélicos arrastaram multidão semelhante - sem contar os enrustidos e os infiltrados, de ambos os lados. Se nos últimos dez anos, o gado aparentemente era pacífico e estava sob controle, hoje, a coisa mudou. O botão do start nunca deu tanta sopa. A meu ver, Gilberto Braga e Silas Malafaia são duas faces da mesma moeda, e oferecem a milhões de seguidores receitas de ódio e hostilidade recíprocas: basta ao crente escolher o canal de televisão. Duas coisas vos digo; 1. Prefiro o Ratinho. 2. O confronto entre o gado de Malafaia e o gado de Gilberto Braga é questão de tempo. Pouco tempo. Os exércitos estão formados. Não dou 10 anos para o chegarmos ao final da picada, quando, por um descuido qualquer, as forças do obscurantismo e do arco-íris serão deslocadas como jamais foram na história, e aí, bem, aí eu não vou dizer mais nada, ou seja, minha impotência será refletida no destino de quem, hoje, me ignora porque eu falo demais. Nesse dia, observarei de camarote o último beijo depois do cafezinho. Não vai passar de 240 caracteres, porém a agonia perdurará por algumas semanas. Até o crente mais renitente tombar no colo do último barbudinho de all star. Desde já, proponho alguns brindes: à Luciano, que saiu de Samósata para ganhar o mundo dos mortos, à Barthes, ao apocalipse e à literatura. Viva!{ "datacode": "NOTICIAS_LEIA_MAIS", "exhibitionresource": "NOTICIA_LEITURA", "articlekey": 64616, "context": "{\"articlekey\":64616}" }
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