Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
26/5/2010 17:57
Mário Coelho e Edson Sardinha
Artistas, juristas e representantes de entidades de classe participaram nesta quarta-feira (26) de uma audiência pública no Senado para discutir a inclusão do direito à felicidade na Constituição Federal. Durante aproximadamente três horas, os participantes analisaram o mérito da proposta, que tem apoio de diversos artistas e entidades de classe.
"Foi muito bom para começarmos a debater a proposta", avaliou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), autor do requerimento da audiência pública e presidente da Comissão de Direitos Humanos, palco da reunião.
Entre os convidados, o representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Daniel Seidel, foi o único a criticar a proposta. Já o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra Martins Filho, o presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais (Anadef), Luciano Borges, o diretor da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) Alexandre Camanho, o advogado Marco Anntonio Costa Sabino e o maestro João Carlos Martins defenderam veementemente a mudança na Constituição.
Virtudes morais
Recorrendo ao filósofo grego Aristóteles, Ives Gandra disse que o objetivo maior do Estado é tornar os cidadãos "amigos". "O que vai fazer qualquer um de nós atingir a felicidade é a prática das virtudes morais. A felicidade supõe sair de si e se preocupar com os outros. Sair de uma visão egoísta e partir para uma visão altruísta", declarou o ministro.
Autor da redação que altera o artigo 6º da Constituição, Marco Antonio disse que a aprovação da proposta de emenda constitucional traz ao debate a necessidade de o Estado prover os direitos sociais já previstos em lei. Ele ressaltou que a discussão não é nova na área jurídica e que, se fosse ruim, nem estaria sendo debatida.
Pela proposta do advogado, a Constituição sofrerá a seguinte alteração: "Art. 6º. São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição".
Entidades como a Associação Nacional dos Procuradores da República, Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais e diversos artistas, intelectuais e líderes sociais apoiam a iniciativa, por meio do movimento batizado de + Feliz.
A realização da audiência pública foi uma forma de introduzir a questão no Congresso. O senador Cristovam Buarque disse que cogita, inclusive, promover um novo encontro para discutir mais a fundo a possibilidade de incluir a felicidade na Constituição. "Um debate sem opiniões contraditórias não pode existir", disse o pedetista, ao considerar salutar a crítica feita pelo representante da CNBB.
Entre os convidados, o único a ficar reticente com a proposta foi o representante da CNBB, Daniel Seidel. Segundo ele, a entidade quer discutir com mais profundidade a proposta por ter receio de que a iniciativa seja uma estratégia de marketing. "Queremos compreender como a ideia se originou e quem são os principais articuladores dessa iniciativa", afirmou.
Utopia
Para o publicitário Mauro Motoryn, idealizador do movimento + Feliz, que encampa a ideia de modificar a Constituição junto com uma série de entidades, o contraditório é fundamental para que o enriquecimento do debate. Segundo ele, a felicidade é um bem-estar social e o momento, de "reviver uma utopia". O publicitário lembrou do início do movimento Diretas Já. "No primeiro comício eram seis pessoas. Aos poucos, os movimentos sociais foram aderindo no decorrer do tempo", disse.
Para o presidente da Anadef, Luciano Borges, o debate é importante para analisar os prós e os contras da "PEC da Felicidade". "A nossa maior preocupação é dar uma conotação objetiva. A grande proposta é estabelecer instrumentos que, em busca da felicidade, resgatem os direitos sociais", disse. Para ele, educação de qualidade, sistema de saúde eficiente e uma previdência social que proteja os idosos, por exemplo, são formas de atingir a felicidade.
O diretor da ANPR Alexandre Camanho declarou-se um dos entusiastas da proposta. No entendimento dele, o momento é de mobilizar a sociedade. Para o procurador, a inclusão da felicidade na Constituição deve ser seguida por políticas públicas que contemplem os direitos sociais básicos. "A partir daí, o Estado vai se obrigar a fazer alguma coisa", afirmou, lembrando que, a partir da previsão do salário mínino na Carta Magna, a União foi obrigada a criar uma política para a área.
O auditório da Comissão de Direitos Humanos estava lotado durante toda a audiência. Cerca de 100 estudantes de uma escola do ensino médio de São Paulo acompanharam as discussões.
Experiência internacional
Diversos países atribuem ao Estado responsabilidade constitucional pela busca de meios para a garantia do direito de ser feliz. A Declaração de Direitos da Virgínia (EUA, 1776) outorgou aos cidadãos o direito de buscar e conquistar a felicidade. Na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789), há a primeira noção coletiva de felicidade, determinando que reivindicações dos indivíduos sempre se voltarão à felicidade geral.
Constituições de outros países, como Japão e Coreia do Sul, também determinam que todas as pessoas têm direito à busca pela felicidade, devendo o Estado empenhar-se na garantia das condições para atingi-la.
Alem disso, a felicidade é adotada cada vez mais, por diversas nações, como um dos principais parâmetros para aferir o bem-estar de uma sociedade. Coube ao Butão, país asiático localizado ao Sul da China, o pioneirismo nessa área, ao criar, duas décadas atrás, o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB). A experiência recebeu o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e passou a ser replicada em diversas nações.
Leia ainda:
Por que a felicidade precisa estar na lei
Felicidade, a mãe de todos os direitos
João Carlos Martins, o maestro da felicidade
Matéria da TV Record sobre o assunto
O ex-jogador Sócrates apoia o movimento
Vídeo do movimento + Feliz
Tags
Temas
LEIA MAIS
REFORMA TRIBUTÁRIA
Crime organizado
Senado formaliza CPI do crime organizado, de Alessandro Vieira
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Veja como cada deputado votou na urgência para derrubar decreto do IOF